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Mamografia: fazer ou não fazer, eis a questão

No Brasil, as sociedades médicas recomendam a mamografia anual a partir dos 40 anos, visando ao diagnóstico precoce e a redução da mortalidade

Por Antônio Frasson
Atualizado em 25 set 2017, 12h30 - Publicado em 25 set 2017, 12h29

Segundo tipo mais frequente no mundo, o câncer de mama (CM) é o mais comum entre as mulheres, respondendo por 23% dos casos novos a cada ano. Dados do Inca apontam que sobrevida em cinco anos, estimada nos países desenvolvidos, é de 85%, enquanto nos subdesenvolvidos permanece entre 50-60%.

Diferenças de sobrevida podem ser explicadas pelos estágios mais avançados ao diagnóstico nos países em desenvolvimento e também por outros fatores, como a falta de acesso aos serviços de saúde, o atraso na investigação de lesões mamárias suspeitas e na realização do tratamento.

Mamografia auxilia na detecção precoce

Neste contexto, a mamografia entra como uma arma que pode auxiliar na detecção precoce da doença, quando realizada em mulheres assintomáticas, numa faixa etária em que haja um balanço favorável entre benefícios e riscos dessa prática. Dentre suas vantagens estão: a redução da mortalidade pela doença, diminuição dos traumas físicos (tratamento em fases mais precoces), maior sobrevida, arrefecimento dos traumas familiares e o menor custo para sociedade relacionado à perda de um indivíduo produtivo.

Estudos

Os primeiros estudos que demonstraram haver diminuição da mortalidade por CM entre as mulheres convidadas para rastreamento com mamografia foram relatados há cerca de 50 anos. O Health Insurance Plan (HIP) Study forneceu a primeira evidência sobre o assunto. Nesse estudo, realizado na década de 1960, cerca de 60.000 mulheres foram distribuídas em dois grupos, um de controle e outro submetido a exames físicos e mamografias. Após sete anos de seguimento, foi observada uma redução de 30% na taxa de mortalidade no grupo submetido ao rastreamento.

Uma das mais extensas pesquisas sobre mamografia já realizadas avaliou um grupo de 130.000 voluntárias. De acordo com o trabalho, publicado no periódico especializado Radiology, o exame em mulheres acima dos 40 anos é capaz de reduzir em até 30% o número de mortes provocadas pelo câncer de mama – revelando que fazer o exame regularmente é ainda mais benéfico à saúde da mulher do que se pensava. Já uma revisão dos estudos mundiais mais relevantes sobre o tema, que incluiu 600.000 mulheres, demonstrou uma redução do risco relativo da mortalidade por câncer de mama estimada em 15%.

Questinamentos

Por outro lado, muitos estudos observacionais demonstraram resultados inconsistentes, questionando os reais benefícios do rastreamento e implicando também em certos riscos que precisam ser conhecidos: realização de biópsias excessivas, diagnóstico de patologias que não mudariam o curso de vida da mulher (overdiagnose), a realização de tratamentos dispensáveis e a exposição aos Raios X (raramente causa câncer, mas há um discreto aumento do risco quanto mais frequente é a exposição).

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Resultados do famoso estudo Canadian National Breast Screening Study (CNBSS), publicado em 2015, influenciaram instituições governamentais (como a United States Preventive Services Task Force – USPTF), e publicações em duas revistas científicas, o New England Journal of Medicine (NEJM) e o British Medical Journal (BMJ).

Estados Unidos e Europa

A pesquisa é usada para justificar ações em saúde pública, como a publicada pelo USPTF que manteve a recomendação contrária ao rastreamento mamográfico do câncer de mama entre 40 e 49 anos, e passou a recomendar mamografia de rotina para rastreamento a cada dois anos, a partir de 50 anos de idade. Essa mudança alinhou-se às recomendações de alguns países da Europa, mas não às de diversas outras organizações norte-americanas. Esse fato revitalizou o debate atual sobre a política e a prática da mamografia em todo o mundo.

As modificações, que teriam sido feitas para evitar gastos excessivos com os exames, contradizem anos de alertas sobre a necessidade de exames de rotina para detectar o câncer de mama a partir de 40 anos. À época da publicação, especialistas e grupos de defesa protestaram contra as recomendações, argumentando que as novas indicações poderiam confundir as mulheres e resultar em mais mortes pelo câncer.

De um modo geral, as recomendações governamentais levam em consideração a cobertura do exame sobre toda a população atingida, e seu custo. Este conceito, chamado de rastreamento populacional, onde o Estado se responsabiliza pela saúde de toda a população candidata a realizar aquele procedimento, é bem diferente do que se faz no Brasil por exemplo, onde o rastreamento é basicamente individualizado para cada paciente.

Como funciona no Brasil?

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) recomendam a mamografia anual para as mulheres a partir dos 40 anos de idade, visando ao diagnóstico precoce e a redução da mortalidade. Tal medida difere das recomendações atuais do Ministério da Saúde, que preconiza o rastreamento bianual, a partir dos 50 anos, excluindo dos programas de rastreamento uma faixa importante da população (mulheres entre 40-49 anos), responsável por cerca de 15-20% dos casos de câncer de mama.

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O câncer de mama permanece como uma doença desafiadora, exigindo maiores avanços terapêuticos para melhoria das taxas de cura e mantendo-se como uma patologia que exige diagnóstico precoce. O exame clínico das mamas, associado à mamografia representa ainda a melhor estratégia a ser adotada. A detecção em um estagio inicial, permite um tratamento menos agressivo, determinando melhor qualidade de vida, com menos mutilação e menos efeitos colaterais, e aumentando as taxas de cura pela doença.

 

 

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