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Coração: do primeiro transplante aos novos e grandes desafios atuais

Apesar de ter sido um dos países pioneiros no transplante de coração, o Brasil ainda enfrenta dificuldades no tratamento da insuficiência cardíaca

Por Roberto Kalil Filho
Atualizado em 4 jun 2018, 14h17 - Publicado em 4 jun 2018, 14h16

Em 26 de maio de 1968, Euryclides de Jesus Zerbini, cirurgião do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, realizou o primeiro transplante de coração no Brasil, marcando a história na técnica, como pioneiro na América Latina. O primeiro transplante do mundo havia sido realizado por Christiaan Barnard na África do Sul, em 3 de dezembro de 1967.

O paciente brasileiro faleceu 28 dias após o transplante, e o paciente sul-africano depois de 18 dias. Ambos tiveram complicações decorrentes de rejeição, uma vez que nas décadas de 60 e 70, não havia medicações imunossupressoras capazes de modular a imunologia do receptor de transplante. Apenas na década de 80, o transplante cardíaco passou a ser terapia eficiente dada a disponibilidade de medicamentos como a ciclosporina, capazes de evitar a mortalidade por rejeição.

Passados os 50 anos de tal fato histórico, dados de 2017 demonstram que o Brasil tem uma fila com 255 pacientes aguardando um órgão e realizou 380 transplantes cardíacos, sendo 130 em São Paulo, 54 em Pernambuco, 39 no Paraná, 37 no Distrito Federal, 36 em Minas Gerais, 27 no Ceará, 23 no Rio Grande do Sul, 12 no Rio de Janeiro, 10 no Espírito Santo, 6 em Alagoas, 4 em Santa Catarina, 1 em Goiás e 1 em Sergipe. Atualmente a técnica é segura, garantindo uma sobrevida de 70% após cinco anos de cirurgia aos pacientes com insuficiência cardíaca (IC).

Insuficiência Cardíaca (IC)

Entretanto, para o Brasil, em 2018, é desafiador modificar o cenário da insuficiência cardíaca (IC), que é um dos mais importantes e desafiadores problemas de saúde pública do século 21, resultando em milhares de mortes e gerando impacto considerável na qualidade de vida dos pacientes.

No Brasil, há aproximadamente 5 milhões de pacientes com insuficiência cardíaca, e esta representa uma das principais causas de hospitalização entre as doenças cardiovasculares. Dentre os pacientes com IC, 20% não apresentam melhora clínica apesar de um extenso arsenal de medicamentos disponíveis, e evoluem com a denominada insuficiência cardíaca refratária. Esse grupo de pacientes tem no transplante cardíaco, a terapia definitiva para sua doença. Portanto, ao considerarmos a estimativa de 1 milhão de pacientes no Brasil que apresentam IC refratária, o número de menos de 400 transplantes realizados por ano é muitíssimo inferior à necessidade da população.

Combate a insuficiência cardíaca

Então, ressaltamos que para combater a Insuficiência Cardíaca devemos atuar em alguns pontos:

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1. Estimular campanhas de educação e orientação em relação ao controle dos fatores de risco cardiovasculares –  evitar e tratar a hipertensão arterial, o diabetes mellitus, cessar tabagismo, estimular atividade física e dieta adequada;

2. Promover capacitação em IC, educando a população e os profissionais da saúde para reconhecer a doença, iniciar o tratamento estabelecido e encaminhar o paciente grave ou refratário para centros especializados;

3. Ampliar a criação de mais centros especializados em IC em todo o país, com a disponibilidade de medicamentos eficazes, reabilitação, apoio multiprofissional incluindo a atuação da enfermagem, da fisioterapia, da psicologia, da nutrição, além de médicos especializados para a obtenção de melhores resultados;

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4. Estimular a doação de órgãos em todo o Brasil, fortalecendo a estrutura hospitalar para tal além de educar a população da importância de tal ato; e

5. Buscar alternativas ao transplante para salvar as vidas de pacientes que hoje morrem sem alternativa de tratamento.

Coração artificial

A cardiologia na última década, passou por uma revolução que foi a disponibilização do coração artificial com excelentes resultados. Os Estados Unidos já comemoram mais de 20.000 implantes realizados em pacientes com IC refratária, com excelentes resultados, garantindo sobrevida de aproximadamente 70% em cinco anos.

O maior limitante para o uso dessa tecnologia no Brasil é o acesso a essa terapia, que hoje tem altíssimo custo, não sendo disponível à nossa população. Em países desenvolvidos, 50% dos pacientes nas filas de transplante estão aguardando em seus lares com o coração artificial, com excelente qualidade de vida. Enquanto, em países em desenvolvimento, um número expressivo de pacientes morre na fila ou fica hospitalizado meses aguardando um órgão, sendo operados em condições de maior fragilidade.

Hoje, ao comemorar os 50 anos do primeiro transplante cardíaco no Brasil, expressamos imenso orgulho por estar entre os cinco primeiros países do mundo a desenvolver tal técnica revolucionária. Porém, devemos refletir, planejar e estimular ações imediatas para prevenir e tratar a insuficiência cardíaca, doença incapacitante, grave e bastante frequente entre os brasileiros.

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Roberto Kalil Filho

 

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