Prévias revelaram mapa da oposição a Doria dentro do PSDB
Chama atenção a votação em Eduardo Leite, concentrada entre quem tem mandato — políticos responsáveis pelo giro da máquina eleitoral em qualquer partido
A vitória une, mas João Doria ainda vai precisar batalhar muito para conseguir unidade do PSDB em torno da sua candidatura à Presidência da República. É o que mostra o mapa de resultados da eleição interna, realizada no fim de semana.
O PSDB tem a virtude de ser o único partido a promover uma disputa para definir o seu candidato presidencial. Por isso mesmo, é caso singular de exposição pública das fissuras, de forma mensurável.
Votaram 29.360 tucanos, com 25.428 votos considerados válidos e tendo pesos diferentes na definição do resultado (exemplo: filiados, 25%; vereadores 12,5%).
Doria (53,9%) venceu, Eduardo Leite (44,6%) brilhou e Arthur Virgilio (1,35%) deu seu recado sobre as raízes tucanas e a devastação ambiental na Amazônia.
Chama atenção o tamanho da votação do candidato da oposição a Doria, basicamente concentrada entre os tucanos que têm mandato. Em qualquer partido são esses políticos que fazem girar a máquina eleitoral nos estados e nos municípios.
Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, venceu Doria entre vereadores. Dividiu governadores e prefeitos, os vices, e, também, senadores, deputados federais e estaduais. Saiu da disputa como a estrela em ascensão do PSDB, portavoz de propostas alternativas para o programa do partido em 2022.
Com 36 anos, ele pertence a uma geração de brasileiros que não conheceu a hiperinflação. Era um garoto de nove anos de idade em Pelotas (RS) quando o PSDB integrava a coalizão do governo Itamar Franco e, liderado pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, pôs na rua o Plano Real. O êxito levou Fernando Henrique à presidência pelos oito anos seguintes.
Foi nessa época que Leite entrou na política, pelo PSDB. Aos 23 elegeu-se vereador e, quatro anos depois, prefeito — ganhou dois mandatos, fez o sucessor e ganhou o governo do Estado.
Doria, que é 27 anos mais velho, assinou a ficha de filiação em 2001, mas já contava década e meia de experiência em cargos estratégicos da administração tucana em São Paulo.
Rivais, PSDB e o PT se distinguiam num universo partidário extremamente fragmentado pela capacidade de organização e formulação de projetos para o país. Adernaram na liquefação política que marcou a virada do milênio — e prossegue. À sua maneira, tentam resgatar a trilha para o futuro.
Das prévias, o PSDB saiu com duas novidades. Uma é o mapa das próprias dificuldades, vital na restruturação de um partido que já foi referência relevante e, agora, luta para sobreviver à eleição do próximo ano.
Outra é o teste de laboratório de uma ideia inovadora e atraente, a do voto pelo telefone em substituição à urna eletrônica. Começou como fiasco, por deficiências de gestão, produzindo uma semana de frustração política. Terminou com êxito, atestando as possibilidades de mudanças no sistema de votação. Há um longo caminho, mas o vento da tecnologia 5G sopra a favor.