Inflação em alta há 24 semanas aumenta incerteza sobre 2022
Com inflação em alta há 24 semanas, empresas olham para 2022, mas não sabem prever reajustes no transporte público, influente no humor dos eleitores
A inflação persiste, acaba de completar 24 semanas em alta, indicam dados do Banco Central.
Em São Paulo, empresários estão tomando duas decisões:
1) Riscam do planejamento qualquer tipo de comparação com 2020, o primeiro ano da pandemia. Só aceitam comparar produção, vendas e consumo de 2021 com os resultados do período pré-pandemia, ou seja, 2019;
2) Trabalham com cenários extremos para o próximo ano, marcado por eleições gerais. Isso porque não têm base realista para estimar a inflação durante o próximo ano eleitoral.
Ela já alcança dois dígitos no orçamento das famílias pobres (80% do eleitorado). E já se percebem mudanças nos hábitos de consumo — desde julho, sobem vendas de vestuário e caem alimentos e materiais de construção.
O problema central, porém, é como planejar negócios num ambiente inflação alta, persistente e disseminada por toda economia, com mistérios que, por enquanto, são impossíveis de desvendar.
Um deles: como será feita, no próximo ano, a recomposição de preços para quase um terço do produtos e serviços referenciais na composição do Índice de Preços no Atacado (IPCA), indexador relevante nos contratos empresariais?
É o caso do transporte público. Teve aumento de 3,8% nos últimos doze meses. É um segmento da economia que depende muito de energia e de combustível. Nos últimos oito meses, por exemplo, o diesel subiu 28%. E a inflação desse período foi de 5,7%.
Transporte público é fundamental na economia nas áreas urbanas, onde aumentou o número de famílias sem qualquer renda do trabalho. Eram 25% os domicílios nessa situação no primeiro trimestre. Ou seja, uma de cada quatro residências havia perdido todos rendimentos do do trabalho. Piorou, segundo o IPEA e o IBGE. Passou para um de cada três domicílios (31,5%) no segundo trimestre.
O impacto das tarifas de transporte público vai além das fronteiras do planejamento econômico. Influi no humor dos eleitores, porque potencializa a insatisfação do público pagante. Principalmente, em ano de eleição presidencial.