Centrão usa receita do PT e aposta em empate na CPI da Pandemia
Aliados de Bolsonaro pretendem usar fórmula petista de 2014 na CPI da Petrobras: criar confusão com um "relatório paralelo" na reta final
A CPI da Pandemia acabará em empate, até outubro. Essa é a aposta de líderes do Centrão, aglomerado partidário que funciona como esteio parlamentar de Jair Bolsonaro.
Se vai dar certo, nem eles sabem, mas o plano já está em andamento.
Há duas semanas assessores do Centrão no Senado começaram trabalhar na preparação de um “relatório paralelo”.
Nele, se desenha uma linha de defesa do governo federal: não houve e nem há crime. A ideia é admitir apenas alguns “delitos administrativos”, como a “lentidão” burocrática nas compras de vacinas e a “pouca eficácia” do Ministério da Saúde em atuar na crise do Amazonas, onde muitos morreram por falta de oxigênio. Os “erros” serão atribuídos ao inusitado da crise pandêmica.
Mas haverá, sim, fartura de acusações com base em suspeitas de roubo, corrupção e desvio de recursos públicos, a partir de dados coletados pela Polícia Federal em meia centena de inquéritos ainda abertos. Todas estarão direcionadas aos Estados e Municípios comandados por adversários de Bolsonaro, candidato à reeleição no próximo ano.
Líderes do PP e do DEM, integrantes do Centrão, têm demonstrado visível dificuldade de defender o governo na CPI.
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Um dos aspectos desse problema é fato de o governo estar em minoria (7 votos em 11) e na relatoria estar um adversário, Renan Calheiros (MDB-AL).
Os governistas até reconhecem, em privado, que Bolsonaro perdeu o controle da pandemia. Mas lidam com outro tipo de obstáculo, para eles até mais relevante — uma questão de genética política.
Os políticos do agrupamento parlamentar conhecido como Centrão sempre foram, são e continuarão sendo governo. Não sabem, nunca souberam e não planejam saber o que é ser ou estar na oposição.
Essa característica levou a bancada governista na CPI a vasculhar o passado recente, quando a antiga oposição virou governo. procuraram e acham que encontraram um caminho, a possibilidade de replicar a tática usada pelo PT na CPI da Petrobras em 2014.
Na época, o relator da comissão, o deputado gaúcho Marco Maia, ex-presidente da Câmara, conseguiu realizar uma proeza político-literária.
Passou sete meses rascunhando, ouviu 23 testemunhas e requisitou duas dezenas de inquéritos na Justiça Federal. Apresentou um relatório final de quase mil páginas com uma conclusão: a sugestão de “aprofundamento das investigações”.
Maia promoveu a confusão que o PT precisava para retirar o foco da CPI durante a campanha de reeleição de Dilma Rousseff.
No Centrão, hoje, prevalece a ideia de que valerá a confusão possível sobre o relatório final. E a receita petista parece adequada ao momento.
Os líderes governistas imaginam que até outubro o cenário esteja mais favorável a Bolsonaro nas pesquisas eleitorais. A imagem do candidato estará turbinada — acham — por um programa de renda mínima, ou auxílio emergencial, na faixa dos R$ 500 por mês. Seria o “vale-eleição”, como alguns do governo ironizam.
O plano foi traçado e está em marcha. Só falta combinar com um eleitorado dominado pelo medo do vírus, fato sem precedente na política. Na contagem de ontem, já são mais de 462 mil mortos em 15 meses.