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Jorge Pontes foi delegado da Polícia Federal e é formado pela FBI National Academy. Foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, e é co-autor do livro Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam.
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Pela salvaguarda das biografias

O debate rasteiro das redes sociais aprofunda essa situação, transformando heróis em farsantes e cavalgaduras em vultos históricos, tudo em poucos minutos

Por Jorge Pontes
15 Maio 2020, 16h54

A sociedade brasileira vive uma profunda crise de caráter dos homens públicos. O sintoma mais acentuado desse abismo moral é o já recorrente fenômeno da inversão de valores, que observamos no dia a dia do país, em todos os níveis e esferas.

O debate rasteiro das redes sociais aprofunda essa situação, transformando heróis em farsantes e cavalgaduras em vultos históricos, tudo em questão de minutos.

Um dos melhores exemplos desse estado de “avesso das coisas” foram as críticas que o ex-ministro Sergio Moro recebeu ao justificar sua saída do governo, pela necessidade de “resguardar sua biografia”.

Moro apanhou exatamente por ter agido certo. E grande parte das pessoas não enxerga dessa forma.

Tudo que o Brasil mais precisa hoje é de homens que não se dobrem, em respeito às suas próprias biografias.

O STF, por exemplo, não era para ser composto de onze mulheres e homens, mas de onze biografias sólidas, a serem defendidas em cada posicionamento individual. Isso formaria um “todo” virtuoso na nossa Suprema Corte.

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Não podemos, contudo, deixar de reconhecer que, recentemente, alguns ministros do STF superaram expectativas. E o fizerem justamente porque se agarraram às suas biografias, que antecediam às nomeações para a corte.

Os ministros Joaquim Barbosa e Luis Roberto Barroso, em momentos cruciais distintos, posicionaram-se de forma veemente em favor das suas consciências jurídicas, mesmo que isso não agradasse aos grupos políticos que os indicaram para suas respectivas cadeiras.

Tudo que a sociedade precisa agora é de ministros da Saúde que se entrincheirem com suas carreiras e com a Ciência, de procuradores gerais da República que se agarrem em suas biografias e no legado de independência do Ministério Público Federal, de generais de quatro estrelas, mesmo os da reserva, que perfilem com a memória de retidão secular do Exército de Caxias, e de diretores gerais e delegados que honrem a tradição de autonomia da PF.

O poder do presidente da República é efêmero e transitório, enquanto a memória de um homem público, integrante de uma carreira de Estado, transcenderá a sua própria existência.

O Brasil é pródigo por seus engavetadores gerais da República, paus mandados de todos os gêneros e carreiristas inveterados.

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Temos que começar a nos acostumar com aqueles que não estão à venda, com homens que não trocam suas biografias por dois anos e meio de cargo público comissionado, com gabinete, secretária e carro preto com bancos de couro.

Generais, delegados, médicos e procuradores da República devem perceber que, dependendo de seus posicionamentos, arrastam para o buraco as suas respectivas instituições e carreiras.

Para aquele que efetivamente tem imagem a ser preservada, seria bom pensar duas vezes antes de combinar depoimentos, aprovar drogas não testadas pela Ciência, fazer vista grossa para o cometimento de delitos ou de repassar informações sigilosas sobre inquéritos policiais.

Que sejam salvaguardadas as biografias.

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