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Jorge Pontes foi delegado da Polícia Federal e é formado pela FBI National Academy. Foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, e é co-autor do livro Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam.
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Lava Jato vai pro brejo sob Aras e Bolsonaro

O PGR promove o maior desmonte até agora já intentado contra a operação e os seus resultados e conquistas

Por Jorge Pontes
Atualizado em 29 jul 2020, 17h42 - Publicado em 29 jul 2020, 14h50

Os brasileiros de bem assistem boquiabertos – e desconsolados – a escalada do Procurador Geral da República Augusto Aras contra a Operação Lava Jato.

Com a justificativa esfarrapada de estancar o lavajatismo, Aras promove, a céu aberto, o maior desmonte até agora já intentado contra a operação e os seus resultados e conquistas.

A PGR avança sobre dados sigilosos da força-tarefa do Ministério Público Federal de Curitiba, fustiga com processos disciplinares seu coordenador Deltan Dallagnol e busca a anulação de importantes delações conduzidas pela Polícia Federal, entre várias outras medidas de ataque.

Mas, afinal, o que seria o lavajatismo?

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Trata-se de uma ficção, uma invencionice maquiavélica criada e alimentada pelo enorme espectro de inimigos da Lava Jato, hoje existente em diversos setores, tanto na esfera pública como privada.

Parte da imprensa já morde a isca e repete o refrão ardilosamente arquitetado pelos opositores da operação.

Referem-se ao lavajatismo como um fenômeno a ser combatido e neutralizado sem tréguas, algo que mereça correção e reprimendas imediatas…

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Buscam “colar” na expressão, um viés de negatividade, num profundo exercício de inversão de valores.

A atuação de Aras é, acima de tudo, oportunista, pois se aproveita do momento de guarda baixa da sociedade brasileira, tanto em razão da imobilidade das massas pelo enfrentamento à Covid-19, como da polarização ideológica, que embaça a visão – e distrai – pelo menos metade dos que poderiam se insurgir contra as medidas da Procuradoria Geral da República.

É a tempestade perfeita contra o movimento de moralização trazido pela operação.

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A ideia é impregnar, no imaginário da população, a Lava Jato como a gênesis de uma aberração, o lavajatismo. Quando, na realidade, o que a operação produziu foi o conhecimento geral, para o país inteiro, de que o Estado foi sequestrado por uma quadrilha de criminosos, que institucionalizou as fraudes e o desvio de bilhões em recursos públicos, com suporte nos três Poderes da República.

As medidas da PGR, ao que parecem, extrapolam – em muito – algumas blitzes anteriores já sofridas pela Lava Jato. Além da intenção claramente revisionista, de visitar o passado e os elementos já sedimentados pelos processos judiciais, haveria, também, objetivos políticos encobertos, de atingir figuras simbólicas da operação, torpedeando possíveis candidaturas, e enfraquecendo futuros adversários do presidente.

A cruzada de Aras contra a Lava Jato funciona mais como um movimento de prestidigitação, de ilusionismo, pois busca transformar em um amontoado de abusos e falhas, uma iniciativa inédita e formidável, que recuperou e congelou cifras de bilhões de reais desviados – para o exterior – por autoridades públicas e empresários que inclusive já confessaram detalhadamente seus crimes, e foram julgados e condenados em pelo menos duas instâncias da Justiça.

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Contra os fatos (e números) da Lava Jato, não há argumentos – só sofismas e mentiras.

A operação foi um ponto fora da curva em prol da sociedade, e os policiais federais, procuradores da República e magistrados que nela atuaram, operaram – como disse o jornalista William Waack em artigo de 2019 – em terra arrasada, desestruturando castelos da corrupção, e descortinando o atrevimento, a desonestidade e o despudor dos seus articuladores.

Presta-se um enorme desserviço ao país e um péssimo exemplo aos nossos jovens, esse descarado movimento de inversão de valores, que busca agora emparedar justamente aqueles servidores e agentes públicos que trouxeram ao nosso conhecimento o funcionamento detalhado desses esquemas criminosos.

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A grande e dolorida ironia dessa tragédia brasileira é que Augusto Aras, hoje o carrasco da Lava Jato, foi escolhido a dedo pelo presidente da República, que por sua vez foi eleito pela onda de moralização gerada pela Lava Jato.

Nesse momento, ao contrário do que ocorre, deveríamos estar reunindo forças para enfrentar o anti-lavajatismo e seus traços e interesses não mais disfarçados, que se encontram por toda parte.

Somos hoje reféns das nossas próprias escolhas e, consequentemente, das escolhas do presidente.

Nunca a nossa sociedade foi vítima de um estelionato eleitoral tão escancarado.

Enfim, a eleição de Jair Bolsonaro representou uma verdadeira arapuca para todos os eleitores que foram às urnas em 2018, buscando o fim da impunidade crônica do nosso sistema e o enfrentamento sem tréguas à corrupção sistêmica.

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