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Por Coluna
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Hoje é um bom dia para ver (ou rever)… Diamante de Sangue

Leonardo DiCaprio numa aventura com músculos e consciência

Por Isabela Boscov Atualizado em 16 jan 2017, 14h59 - Publicado em 9 ago 2016, 21h09

Não foi fácil escolher a indicação de hoje: eu queria um filme bem movimentado, porque estou com o sono atrasado (culpa das Olimpíadas) e qualquer coisa mais contemplativa me poria para dormir; mas eu queria também que ele tivesse bastante carne no osso – não só ação pela ação, e sim drama e aventura com alguma consistência. Vamos então com Diamante de Sangue, que está disponível na Netflix e também no Looke – uma plataforma de streaming que trabalha num sistema misto, com venda avulsa e/ou assinatura, e com a qual ainda não tenho muita intimidade mas que vem me deixando ótima impressão. (Aliás, hoje aprendi de uma vez por todas que é “a” Netflix, e “o” Looke.)

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Filmes musculosos e com consciência são a especialidade do diretor Edward Zwick. Dê uma olhada no currículo dele: Tempo de Glória (batalhão de soldados negros luta na Guerra Civil), Coragem Sob Fogo (comando militar acoberta a morte de uma oficial por “fogo amigo”), Nova York Sitiada (ataques terroristas levam à decretação de estado de sítio – e olha que o filme é de 1998), O Último Samurai (ocidental vai ensinar o Japão a fazer guerra moderna mas se enamora do código samurai), Um Ato de Liberdade (judeus da Bielorússia formam uma milícia de resistência à invasão nazista) e recentemente O Dono do Jogo (russo e americano se enfrentam no xadrez durante a Guerra Fria).

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Diamante de Sangue, com Leonardo DiCaprio, Djimon Hounsou e Jennifer Connelly (ela, muito mais airosa e menos melancólica que de costume), é um dos melhores trabalhos dele: dosa muito bem denúncia e peripécias, tem um elenco forte, personagens instigantes e bem desenvolvidos, ótima filmagem em locações ao redor do mundo. E, como reportagem, é muito bem apurado também. Tanto que estragou um dos meus sonhos inatingíveis – o de que um dia um anel com um belo de um solitário caísse do nada na minha cabeça. Hoje em dia, mesmo que eu pudesse ter um diamante, o que me faltaria é a coragem de talvez, na ignorância, patrocinar alguma guerra africana com ele.

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Leia a seguir a resenha que publiquei quando o filme foi lançado nos cinemas:


Uma boa causa

Diamante de Sangue, com Leonardo DiCaprio, expõe o sofrimento que as pedras ilegais compram na África

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Diamante de Sangue é um thriller movimentado e um entretenimento vigoroso. E é também um filme com uma missão declarada: a de instruir a plateia no sofrimento que as reservas de diamantes impõem ou impuseram aos países africanos que as possuem. Os chamados “diamantes de conflito” são pedras brutas garimpadas em regiões dominadas por guerrilhas. Extraídas quase sempre à base de trabalho escravo, são entregues por meio de subterfúgios aos classificadores de Londres ou Antuérpia, e então despejadas no comércio regular em todo o mundo. Financiam, neste momento, a mortandade na Costa do Marfim. Em Serra Leoa, o cenário escolhido pelo diretor Edward Zwick para Diamante de Sangue, a Frente Revolucionária Unida (FRU) usou as gemas clandestinas para pagar mais de uma década de violência, entre 1991 e 2002. Muitos países do continente vivem legitimamente de seus diamantes – como Angola e Serra Leoa mesmo, desde que saíram da guerra civil. Mas, onde caem nas mãos de guerrilheiros, as pedras compram por atacado as mazelas típicas do continente: violência, fome, corrupção e a expulsão de populações inteiras de zonas cobiçadas.

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Seria até possível suspeitar de oportunismo aqui, já que filmes como Hotel Ruanda, O Jardineiro Fiel, o ainda inédito Em Nome da Honra e o próprio Diamante de Sangue fazem da África a causa da hora em Hollywood. Mas o thriller de Zwick conjuga o que há de melhor nessa fórmula do divertimento com consciência. Leonardo DiCaprio, em outra interpretação excelente, é Danny Archer, cidadão do Zimbábue (que ele chama pelo nome colonial de Rodésia), ex-soldado de elite sul-africano e atual traficante de armas para guerrilheiros – uma opção profissional nada incomum para africanos brancos com as suas qualificações. Está-se em 1999, ano em que a guerra civil em Serra Leoa atingiu um estado de paroxismo, e não é ficção a “brincadeira” retratada no filme, em que os guerrilheiros põem vilarejos inteiros em fila e, de machete na mão, fazem os civis estender o braço e perguntam se eles preferem “manga curta” ou “manga comprida”. Por um acaso, o caminho de Danny vai se cruzar com o de um desses civis: Solomon Vandy (Djimon Hounsou), pescador que perdeu um filho para a guerrilha e foi encaminhado como escravo para um garimpo. Solomon encontra, e esconde, um fabuloso diamante rosa. Mas os boatos sobre a pedra começam a correr, atraindo a atenção de Danny e de Maddy (Jennifer Connelly), uma jornalista que vê no mercenário a chance de um furo sobre a cumplicidade da indústria de diamantes com a mineração clandestina. Danny, Solomon e Maddy são figuras que têm mais a ver com o mundo do celulóide – mas, graças a um roteiro competente, agem como se estivessem no mundo real, usando uns aos outros para atingir seus fins diversos.

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Valendo-se desse casamento de aventura, drama e, claro, romance, Edward Zwick faz um filme muito superior aos seus Estado de Sítio e O Último Samurai. Não falta ação a Diamante de Sangue. E não falta também clareza na maneira como ele pincela a crueza da vida numa África volátil, com seus guerrilheiros meninos, os soldados brancos sem função legítima, a peregrinação pelos campos de refugiados, a devastação das cidades e do campo. Sinal de que Diamante de Sangue toca num ponto sensível é que a indústria de diamantes armou uma campanha de relações públicas para alardear a eficiência do chamado Processo Kimberley – sistema que obriga os governos signatários a detalhar a trajetória de cada pedra, desde seu garimpo de origem. Até Nelson Mandela, a autoridade moral inconteste da África, manifestou preocupação com os efeitos do filme. Um boicote indiscriminado aos diamantes do continente, defendeu ele, faria ruir as economias que têm na extração legítima sua maior fonte de renda, como as da África do Sul, Botsuana e Namíbia. De acordo com a indústria, desde 2003 o Processo Kimberley reduziu de 4% do total para 1% a circulação dos “diamantes de conflito”. Num mercado de 60 bilhões de dólares, isso significa que, a cada ano, ainda sobram 600 milhões de dólares com os quais comprar violência na África. É para eles que, muito apropriadamente, Diamante de Sangue pretende chamar atenção.

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Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA no dia 10/01/2007
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2007
DIAMANTE DE SANGUE
(Blood Diamond)
Estados Unidos, 2006
Direção: Edward Zwick
Com Leonardo DiCaprio, Djimon Hounsou, Jennifer Connelly, Arnold Vosloo, Kagiso Kuypers, Michael Sheen, David Harewood
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