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Por Coluna
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Feriadão: 7 filmes novos (ou quase) para ver na Netflix

De faroeste a romance, passando pela critica social, sete sugestões para você passar o feriado no sofá

Por Isabela Boscov 15 nov 2018, 18h46

Oeste Sem Lei

(Slow West, 2015)

Michael Fassbender volta à fronteira de 1870 em um filmaço

Rose e seu pai imigraram da Escócia para o Oeste americano em circunstâncias complicadas. Jay, 16 anos e filho de aristocratas, não se conforma em ficar sem Rose, e parte atrás dela. Só a intervenção divina explica o fato de ele chegar inteiro ao Colorado dos anos 1870: interpretado pelo sempre etéreo Kodi Smit-McPhee, Jay é um inocente, que olha com deslumbre para as paisagens grandiosas da fronteira sem perceber seus perigos. Como por exemplo o bando de caçadores de recompensas liderado pelo bruto e imundo Payne (Ben Mendelsohn), ou Silas (Michael Fassbender), também ele um caçador de recompensas, mas um tipo bem mais sutil. Oeste Sem Lei é um desses filmes que se custa a acreditar serem um trabalho de estreia: o escocês John Maclean é um diretor de tanta personalidade, e tanto controle do ritmo, que a sensação é de estar diante de um veterano – não só do cinema, mas especificamente do faroeste. Maclean faz um trabalho de gênero interessantíssimo: usa muito bem as convenções formais do western (a fotografia, aliás, é linda) para virar de ponta-cabeça os significados dele. A fronteira, aqui, não é o lugar em que a civilização vai avançando sobre o mundo selvagem; é o lugar em que a brutalidade vai engolindo qualquer resíduo de civilização que tenha sobrevivido até ali. O desfecho é antológico: todos os personagens convergem para a cabana de Rose e seu pai, que parece uma pequena ilha num oceano de capim do qual, às vezes, emergem as pessoas que se aproximam. Sem entregar nada, digo que o tiroteio que acontece aí é coisa de mestre. E a última cena, ultra econômica, encerra tudo numa nota formidável.

Oeste Sem Lei
Oeste Sem Lei (Flashstar/Divulgação)

Negócio das Arábias

(A Hologram for the King, 2016)

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Com Tom Hanks, até as pessoas vindas de mundos opostos encontram um território comum

Nem o terno esconde a protuberância que se formou nas costas do homem de negócios Alan Clay: é como se suas muitas falências – empresarial, conjugal, financeira – tivessem tomado forma física. Desorientado com o fuso horário da Arábia Saudita, o calor e a falta de um drinque amigo (no hotel, a abstinência pregada pelo Islã é a regra), Alan enfia uma faca no calombo. Próxima parada, hospital. Onde, para surpresa do motorista que virou seu guia, o americano é socorrido por uma médica. A doutora Zahra (a encantadora Sarita Choudhury) só pode ser especial: é uma mulher saudita que atende homens. E tem um jeito direto, mais um ar meio melancólico, que fulmina Alan no coração. E que coração é este: tem aquela delicadeza incorruptível que só Tom Hanks é capaz de expressar como um produto não da inexperiência, mas sim da vivência – uma generosidade nascida das cabeçadas, dos fiascos e do otimismo como último recurso dos que não podem se render porque têm contas a pagar.

Adaptado pelo cineasta alemão Tom Tykwer (de Corra, Lola, Corra) de um romance de Dave Eggers, Negócio das Arábias trata da tentativa de Alan de vender ao rei saudita um sistema holográfico de conferências a distância. Tykwer toma uma direção diversa da do livro: atenua a amargura para sublinhar um quê esperançoso e uma ideia gentil – a de que sempre há algum ponto no caminho em que as pessoas podem se encontrar. Com Hanks em cena, até parece fácil que seja assim.

Negócio das Arábias
Negócio das Arábias (Mares Filmes/Divulgação)

Juventudes Roubadas

(Testament of Youth, 2014)

Alicia Vikander e as perdas desconsoladoras da I Guerra Mundial

A cena inicial é um idílio de verão no campo – um dos últimos dias tranquilos do ano de 1914. E é muito apropriadamente sem nenhum sentimentalismo nem nostalgia, e com muita amargura, que a I Guerra Mundial é recordada no ótimo filme do diretor James Kent, baseado nas memórias da inglesa Vera Brittain (interpretada por Alicia Vikander). Tudo o que ao sol, à beira de um lago, parece importante para Vera vai rapidamente desaparecer: a amizade com seu irmão (Taron Egerton), a frustração porque os pais não esperam que ela consiga realizações intelectuais, os sentimentos do amigo Victor (Colin Morgan), a paixão repentina pelo recém-chegado Roland (Kit Harington). Todos os três rapazes se alistam. A certa altura, também Vera vai para o front, como enfermeira, numa experiência que aprofunda sua indignação com o desperdício de vidas. Publicadas em 1933, as memórias de Vera Brittain (1893-1970) são consideradas uma espécie de manifesto feminista. Não deixa de estar correto, mas mais acertado ainda seria chamá-las de uma declaração de princípios.

Juventudes Roubadas
Juventudes Roubadas (Fox/Divulgação)

Brooklyn

(2015)

Saoirse Ronan é um encanto em um filme que finge (só finge) ser água-com-açúcar

Em sua cidadezinha provinciana na Irlanda, não há nada para Eilis – nem emprego, nem namorado, nem um futuro. Ser jovem em um lugar como esse, no início da década de 50, é de desanimar. A irmã de Eilis, então, faz um sacrifício: ela vai ficar na Irlanda, com a mãe que enviuvou há pouco; e Eilis vai se mudar para Nova York, para fazer uma nova vida. É um desempenho absolutamente encantador de Saoirse Ronan. E também Brooklyn é um filme cheio de encantos: finge ser água-com-açúcar, mas retrata as experiências da imigração e da emancipação com humor e discernimento, e no roteiro de Nick Hornby, preserva as nuances do ótimo romance de Cólm Tóibín em que se baseia. Miseravelmente infeliz nas primeiras semanas, Eilis aos poucos se adapta e se descobre: em Nova York, ela é uma mulher que pode estudar (como faz), pode se vestir como achar melhor (e o faz), pode escolher com quem namorar. O diretor John Crowley tem um ótimo senso para o ritmo desse dia a dia em transformação, e é especialmente boa a maneira como ele conduz a aproximação entre Eilis e o ítalo-americano Tony (Emory Cohen) – e, a certa altura, quando Eilis faz uma visita à Irlanda, com Jim (Domnhall Gleeson), que é tão doce quanto Tony, mas está completamente enraizado ali. A escolha, aqui, não é só entre eles, mas entre a vida que cada um deles representa e o que Eilis quer para si.

Brooklyn
Brooklyn (Paris Filmes/Divulgação)

Thelma

(2017)

Os desejos que uma menina não sabe reconhecer viram uma criatura que devora e devasta

Na abertura de Thelma, um caçador põe um cervo sob sua mira, num bosque – e então cogita uma atitude em relação à sua filha que abala o espectador: por que uma criança desperta ideias assim no próprio pai? A senha para muito do mistério que cerca a personagem-título está no momento que antecedeu a esse, no qual, atravessando um lago congelado, o pai e a pequena Thelma observam os peixes nadando, presos sob a superfície cristalina. A menina vê a graciosidade da cena; no homem, o que se flagra é um horrível mal-estar. Anos depois, esse mal-estar terá se convertido na circunspecção com que Trond (Henrik Rafaelsen), o pai, trata a jovem Thelma (Eili Harboe), que pela primeira vez está longe de casa, na universidade. Serena, tímida e educada, a garota é também uma cristã devota, como os pais, e sente-se terrivelmente solitária. Um dia, uma outra aluna senta-se ao lado dela – e de repente pássaros se chocam contras as janelas e caem mortos, e Thelma começa a ter convulsões. Seria tentador classificar como terror o filme do norueguês Joachim Trier. Mas, apesar da abertura chocante e das sugestões sobrenaturais que se intrometem nos enquadramentos suntuosos do diretor, o horror de fato, aqui, está em não saber quem se é realmente – e em viver à espreita das coisas perturbadoras que talvez estejam aprisionadas no próprio íntimo.

Thelma
Thelma (Mares Filmes/Divulgação)

Eu, Daniel Blake

(I, Daniel Blake, 2016)

Diretor de coração grande, Ken Loach se ocupa das pessoas pequenas neste vencedor de  Cannes

É um daqueles impasses que a burocracia é mestra em criar: Daniel Blake (Dave Johns), carpinteiro sessentão, está parado em razão de um infarto. Os médicos ordenam meses em recuperação. O serviço de seguridade social discorda: em uma entrevista surreal, Daniel crava menos que os 15 pontos necessários para receber o auxílio-saúde. Ele se pendura ao telefone, e não chega a lugar nenhum. Vai ao posto de atendimento e descobre que está em um labirinto concebido de forma a não oferecer saída. Mais: arruma briga ao interceder em favor de uma mãe solteira, com duas crianças, que perdeu a entrevista por ter se atrasado alguns minutos. Daniel, Katie (Hayley Squires) e as crianças são expulsos do posto no braço. Eu, Daniel Blake deu ao diretor inglês Ken Loach sua segunda Palma de Ouro em Cannes (a primeira foi em 2006, por Ventos da Liberdade). O filme é intenso, comovente, e tem tudo o que o diretor sempre teve de melhor: o naturalismo rigoroso das atuações e da ambientação; os atores que parecem ter sido encontrados nas ruas vivendo os seus papéis; o drama central concentrado até o ponto de saturação. Há também o habitual socialismo romântico de Loach, que é redimido pela sua sinceridade. Se o Estado maltrata gente como Daniel e Katie, pelo menos existe uma rede espontânea que ajuda essas pessoas a se erguer dos tombos: vizinhos, ex-colegas de trabalho, jovens na mesa ao lado no cibercafé, o gerente de um mercadinho se dispõem a doar um minuto do seu tempo, uma pequena atenção, uma gentileza. Entre Daniel e Katie, a rede que se forma não é assim tênue nem casual. A cada visita que Daniel faz à casa da jovem, ora para cuidar das crianças, ora para reparar a fiação, mais o vínculo se aprofunda. Loach afasta qualquer sugestão de natureza romântica ou mesmo paternal. É de uma amizade verdadeira que ele trata aqui, forjada pelos piores momentos e pelos melhores sentimentos.

Eu, Daniel Blake
Eu, Daniel Blake (Imovision/Divulgação)

A Travessia

(The Walk, 2015)

A história de como um francês caminhou no céu de Nova York e fez a cidade enamorar-se das Torres Gêmeas

É preciso superar algumas irritações: a peruca esquisita que colocaram em Joseph Gordon-Levitt, as lentes de contato que deixam de um azul baço os seus olhos castanhos, o sotaque francês espesso com que ele fala inglês – e isso tudo só na primeira cena, na qual, do topo da Estátua da Liberdade, o protagonista, apresentando-se como Philippe Petit, artiste, muito prrazerrr, anuncia que vai contar a incrível história de como meteu na cabeça que estava destinado a caminhar na corda bamba entre as duas torres do World Trade Center. Dali até A Travessia mostrar a que veio, vai ser preciso suportar ainda as insistentes interferências visuais do diretor Robert Zemeckis e o tom desafinado de fábula em que ele narra a vida de Petit. Mas quando o protagonista chega a Nova York e, ao pé de uma das torres, olha para cima, para aquele infinito de concreto e vidro que não mais existe – aí A Travessia levanta voo e cumpre o seu próprio destino: o de ser uma das homenagens mais poéticas e sinceras à cidade que nunca teve medo de altura. E, em especial, às torres pelas quais viveu o seu luto mais profundo. Petit passou anos se preparando para a façanha, até que se mudou para Nova York com a namorada (Charlotte Le Bon) e dois amigos, arrumou mais alguns cúmplices (dois deles, o J.P. de James Badge Dale e o Barry de Steve Valentine, roubam a cena) e pôs-se a planejar a operação altamente ilegal de invadir as duas torres, estender entre elas um cabo de aço e, sem equipamento de segurança, lançar-se no céu. Zemeckis encena esse trecho como num filme de roubo a banco, cheio de suspense e de lances que só se resolvem por um triz. A beleza está em como Zemeckis vai aos poucos abrindo espaço para que o imaterial, a miragem, invadam o filme: a sequência que resume os 45 minutos que Petit passou caminhando para lá e para cá, com a polícia à sua espera em ambas as torres e a multidão boquiaberta 417 metros abaixo, compensa as irritações.

A Travessia
A Travessia (Sony Pictures/Divulgação)
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