A presidente da Petrobras, Graça Foster, é como Dilma Rousseff: se sabia do Petrolão, é corrupta e mentirosa; se não sabia, é incompetente. Em ambos os casos, deveria perder o emprego.
Mas, como eu havia dito em TVeja no dia 11, Dilma protege Graça para proteger a si própria. Se ela torna discutível a responsabilidade direta ou indireta pela corrupção no patamar da diretoria, ela torna ainda mais distante a responsabilização de quem está no patamar de cima, a presidência da República. Na propaganda e na prática, a permanência de Graça é um obstáculo ao aprofundamento das investigações.
Antes, Dilma mandava o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sair em defesa de Graça. Agora ela também tem de fazê-lo, afirmando não haver provas que justificariam o afastamento:
“Tem de ter alguma prova apresentada sobre qualquer conduta da Graça Foster. Eu conheço a Graça, sei da sua seriedade e da sua lisura. Acho que é importante saber qual é a prova que se apresentou (contra ela)”, disse Dilma, acrescentando que pretende alterar apenas o Conselho de Administração do órgão, do qual já foi presidente.
Acontece que a prova da incompetência já estava dada: é o Petrolão, o maior escândalo de corrupção – atrelada a um projeto de poder – da história moderna do mundo. Mas Dilma não pode legitimar uma demissão por incompetência ou estaria de antemão legitimando a sua.
A pressão pela demissão de Graça e de toda a diretoria da Petrobras aumentou após a ex-gerente Venina da Fonseca afirmar no Fantástico que ela foi informada, inclusive pessoalmente, sobre as irregularidades em contratos firmados pela estatal. O programa da Globo também mostrou um e-mail de 2011 em que Venina se queixava sobre os técnicos da empresa estarem sendo passados para trás e sobre o “esquartejamento” de projetos para dificultar a fiscalização.
Graça alegou que os comentários naquele e-mail lhe “pareceram bastante cifrados”:
“Ela fala de licitações ineficientes. Só ontem ela explicou o que quis dizer com projetos esquartejados. Em nenhum momento, ela fala em corrupção, conluio, cartel, que são palavras muito simples de serem entendidas.”
Se não simplificar a linguagem, como se nota, Graça não se importa em declarar que levou três anos para entender. Só faltou mandar Venina ter umas aulinhas com aquela reescritora de Machado de Assis e José de Alencar que captou R$ 1.039.000 – dos R$ 1.455.980 autorizados pelo Ministério da Cultura – para “simplificar” dois clássicos da nossa literatura.
Bilhões de reais, quem sabe, seriam salvos dos cofres públicos se “licitações ineficientes” virasse “conluio”; e “esquartejamento”, “corrupção”. Vai ver, até a Dilma teria entendido a tempo.
A reação dos parlamentares de oposição à blindagem da presidente da Petrobras felizmente foi mais simples:
“O governo sabe que, se a Graça aprofundar as investigações, vai encontrar pessoas que não gostaria de encontrar. Não interessa ao Planalto que as apurações avancem”, declarou o deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA).
“Graça e a diretoria estão apagando a digital dos crimes cometidos”, disse Ronaldo Caiado (DEM-GO).
“Apurar as denúncias com a Graça no comando é o mesmo que dizer que não se vai apurar nada”, afirmou Rubens Bueno (PPS-RS).
E é por isso mesmo, simplifico eu, que ela permanecerá no cargo.
Graça blinda Dilma. Dilma não pode perder a Graça.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil
Siga no Twitter, no Facebook e na Fan Page.