No grampo da Lava Jato que flagrou Lula preocupado com “assuntos do BNDES”, o petista e seu companheiro de viagens hoje preso Alexandrino Alencar, da Odebrecht, referiam-se “também a um artigo assinado por Delfim Netto que seria publicado no dia seguinte sobre o tema”.
O fato de saberem o tema na véspera da publicação indica mais uma vez a cumplicidade entre o Brahma e o economista Antônio Delfim Netto, ministro da Fazenda em tempos de chumbo e de milagre econômico que afirmou em 2008 que “Lula é o único economista que presta no Brasil” e ressaltou em 2012 o “grande avanço social e econômico por ele produzido”, como se não tivesse havido antes o Plano Real ao qual Delfim e Lula se opuseram.
O artigo citado no telefonema, o enésimo da série de puxa-saquismo (ainda que velado), saiu no dia 16 de junho de 2015 no jornal Valor Econômico com o título “Exportação de serviços e o ‘complexo de vira-lata’” e foi reproduzido pelos blogs sujos do lulopetismo e de José Dirceu.
[* Atualização: Eu escrevi este post sem nem ter lido a transcrição da conversa pela PF, mas, conforme imaginei, está lá a frase de Lula: “Eu falei com DELFIM NETTO hoje, ele vai publicar um artigo amanhã no VALOR dando o cacete.” Pois é.]
Em reação à reportagem da edição impressa do Globo “BNDES causa perdas de R$ 1,1 bi por ano ao FAT”, Delfim tratava de defender o financiamento do banco estatal para a exportação de serviços de construtoras em obras de infraestrutura em países como Cuba, Venezuela e Angola.
Sim: tudo que interessava aos dois maiores lobistas da Odebrecht, Alexandrino e Lula.
“É abusivo dizer que o BNDES é uma ‘caixa preta’ e é erro grave afirmar que deve dar publicidade às minúcias das suas operações, o que, obviamente, revelaria detalhes dos contratos de seus clientes que seriam preciosas informações para nossos concorrentes e, portanto, contra o Brasil”, alegava Delfim, igualzinho à propaganda do PT.
O curioso é que o economista começava o artigo criticando Dilma Rousseff – “O Brasil vive o resultado de uma combinação trágica de eventos gestados pelo governo em 2014 para conseguir a reeleição” – para afirmar só no quinto parágrafo que isso fez propagar no Congresso “mitos insensatos” como a sugestão de que os empréstimos do BNDES causavam prejuízo nacional.
Tudo perfeitamente de acordo com a seguinte notinha da coluna Radar de 26 de janeiro: “Lula almoçou com Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo na semana passada, no Instituto Lula. Falaram mal do governo Dilma da entrada à sobremesa.”
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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