Enquanto o STF discute a legalização do porte de drogas para consumo pessoal, a Folha de S. Paulo publica a tradução de um artigo de Simon Jenkins, do jornal inglês The Guardian, intitulado “Legalizar o doping é a solução para acabar com a corrupção no esporte”.
Sim: você leu direito. Mas ainda não viu nada.
“Em 1988, o velocista canadense Ben Johnson perdeu suas medalhas olímpicas por motivo de doping”, escreve o colunista. “É ridículo fingir que Johnson não era o ‘homem mais veloz do planeta’ quando esse era palpavelmente o caso.”
Ignoro se Jenkins apalpou Johnson para saber se ele teria vencido Carl Lewis sem doping, mas ridículo, obviamente, seria ter mantido suas medalhas após a descoberta de que correu dopado. Mais ridículo do que isso, só mesmo misturar a questão da premiação em uma participação espúria com a da suposta superioridade do atleta nas condições normais que ele próprio preferiu evitar.
Mas o ápice da “argumentação” de Jenkins é a sua proposta para solucionar o problema do uso de substâncias proibidas no esporte:
“Poderia haver duas disputas. Uma, como os jogos amadores do passado, seria reservada a quem aderir a determinadas regras, e seus recordes seriam registrados como ‘puros’, o que quer que isso signifique. A outra seria para os atletas realmente obcecados com serem os mais rápidos do planeta. Como os lutadores que combatem em jaulas, eles talvez venham a ser considerados freaks. Mas pelo menos deixaríamos de fingir que as pressões impostas aos modernos atletas serão capazes de garantir uma disputa ‘limpa’.”
Como ninguém pensou nisso antes, não é mesmo? Será que é porque, entre outros motivos, nada – absolutamente nada – garante que o doping não vá continuar acontecendo na disputa que o proíbe? Ou ‘jênios’ como Jenkins realmente acreditam que a criação de uma modalidade para dopados, com toda a popularização inevitável e inconsequente das substâncias proibidas, acabaria com as tentativas de burlar as regras da versão “reservada” aos “puros”?
“Freaks”, na verdade, são “intelectuais” que querem usar até esportes olímpicos como instrumentos de pressão para avançar sua agenda de legalização das drogas, transformando, na prática, aqueles que querem ganhar roubando em vítimas das “pressões impostas aos modernos atletas”.
Autor de artigos como “O heroico Uruguai merece um prêmio Nobel da Paz por legalizar a maconha” e “Guerra às drogas é uma idiotice imoral. Precisamos da coragem da Argentina”, Jenkins é apenas mais um autor de idiotices imorais que encontram fácil e “palpavelmente” espaço nos jornais brasileiros.
Felizmente, os tuiteiros o colocaram em seu devido lugar.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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