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Educação em evidência

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Prova Brasil: mediocridade impressiona mais do que a desigualdade

A desigualdade na educação brasileira existe e é forte. Mas ela não explica a mediocridade que caracteriza o sistema público de ensino.

Por João Batista Oliveira Atualizado em 5 out 2020, 12h02 - Publicado em 5 out 2020, 11h48

Neste 5º post da série sobre os resultados da Prova Brasil (veja aqui relatório da consultoria IDados sobre o tema), divulgados em setembro pelo MEC, chamo atenção para a ideia expressa no título: a mediocridade impressiona mais do que a desigualdade. A desigualdade é estrutural. Já a mediocridade deriva da falta de iniciativas adequadas. As que existem com solidez e resultados são poucas.

É inegável que a qualidade da educação esteja melhorando. Os dados da Prova Brasil constituem evidência incontestável disso. Há um avanço significativo das notas nas séries iniciais (45,3 pontos em Matemática entre 2005 e 2019). Também há um aumento menos expressivo, mas bastante grande, nas séries finais (25,6 pontos). No ensino médio, praticamente não houve avanço no período. O recente aumento das notas na edição de 2019 ainda carece de melhor entendimento, especialmente porque não houve aumento das notas do ENEM no mesmo ano.

O fato, no entanto, é que a educação em geral, e a educação pública, em particular, encontram-se num nível muito baixo. O nível é baixo em termos absolutos – a média de pontos nos anos iniciais revela uma enorme deficiência de aprendizagem na maioria dos alunos em relação ao que seria de se esperar. Nas séries finais, a deficiência é ainda maior – basta observar a diferença de pontos entre as médias das séries iniciais e finais.

O desempenho também é baixo em termos relativos. Por exemplo, comparar as redes públicas e privadas nos permite observar um fosso que vai aumentando nas séries mais avançadas. O quadro abaixo documenta essa diferença:

Médias das redes públicas:

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. Séries iniciais: 218,9

. Séries finais: 253,2

. Ensino Médio: 266,2

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Médias das redes privadas:

. Séries iniciais: 251,0

. Séries finais: 300,8

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. Ensino Médio: 331,2

Esse quadro sugere importantes reflexões:

  • O nível médio de desempenho entre as redes é muito desigual. A diferença de nível socioeconômico dos alunos explica muito, mas não tudo.
  • O nível atingido pela rede pública é muito baixo em todos os níveis. A cada nível subsequente é menor o número de alunos que atinge níveis minimamente aceitáveis de desempenho.
  • O nível atingido pelas redes públicas nas séries finais equivale ao nível atingido pelas redes privadas nas séries iniciais.
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Outro indicador de baixo desempenho são as notas do Brasil no Pisa. Comparado com os países da OCDE, estamos com a média de 420 pontos em Matemática – cerca de 80 pontos abaixo da média dos países-membros da OCDE (em 2018). Se projetarmos as taxas de crescimento da Prova Brasil para os próximos anos, o que é uma hipótese pouco plausível, levaríamos 40 anos para atingir os atuais níveis de desempenho médio dos países da OCDE.

Conforme sugerido pelo título, a desigualdade existe e é forte. Mas ela não explica a mediocridade que caracteriza o sistema público de ensino. No conjunto das capitais brasileiras, que representam quase 25% da população, apenas 4 redes de ensino alcançam notas superiores em 10 pontos à média nacional. Esses são municípios com mais recursos, e, no entanto, os resultados são medíocres. E isso independe da rede de ensino ser predominantemente estadual ou municipal.

Em síntese: a desigualdade é a marca registrada da sociedade, em todos os setores. Na educação, essa marca é acrescida da mediocridade – o sistema educativo não consegue cumprir a sua função básica de dar à maioria dos indivíduos conhecimentos básicos que lhes permitam melhorar a sua condição de vida e a produtividade do país.

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