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Por João Batista Oliveira
O que as evidências mostram sobre o que funciona de fato na área de Educação? O autor conta com a participação dos leitores para enriquecer esse debate.
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O discurso do Ministro

Discurso é uma boa referência para avaliarmos o que vamos ouvir nos próximos dias, quando da decisão do CNE sobre a nova Base Nacional Curricular Comum.

Por João Batista Oliveira 4 dez 2017, 10h44

“É uma honra abrir este Simpósio. Trata-se de uma oportunidade ímpar para que políticos, sindicatos e representantes dos professores se sentem em torno de uma mesa para discutir como melhorar a educação” – assim o Ministro começou a sua fala.

Empoderar os professores é a palavra de ordem. Cada vez mais sabemos o que dá poder aos professores: é o conhecimento. Conhecimento é poder. Mas  o que os professores devem conhecer?

Devem conhecer as evidências sobre práticas eficazes. Devem conhecer evidências científicas sobre o funcionamento da memória; devem dispor e saber usar um currículo rico em conhecimento.

Nas últimas décadas, a ciência vem aposentando várias teorias do século passado. Um recente artigo sobre Lendas Urbanas na Educação apresenta três mitos que prevalecem a respeito de quem deve comandar o processo de aprendizagem. Esses três mitos conflitam com as evidências empíricas e com as melhores práticas de ensino. As evidências citadas adiante encontram-se no estudo de Krischner e Van Merrienboer.

O primeiro mito é que as crianças são “nativos digitais” e que sua educação deve ser imersa no mundo da tecnologia.  Apertar botões com velocidade e identificar informação com rapidez não caracterizam uma mente especialmente sagaz.

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O segundo é que as crianças possuem estilos de aprendizagem únicos e que o ensino deve ser modelado para cada criança e cada estilo. As evidências militam na direção contrária.

O terceiro é que o ensino de conhecimentos é redundante, porque tudo que as crianças precisam saber pode ser obtido com o clique de um botão. Por isso, bastaria ensinar competências e habilidades genéricas. Em 2014, alguém afirmou que pessoas educadas não são os que sabem tudo –  são pessoas capazes de obter informação sobre qualquer assunto. Isso estava errado em 2014 e continua errado hoje. É preciso ter conhecimento para obter conhecimento.

Conhecimento, continua o Ministro, gera conhecimento. As crianças precisam de conhecimentos prévios para adquirir novas informações. E prossegue:

Muitos dos mitos que dominam a educação usam o contexto do século XXI como justificativa. O mito diz que as crianças precisam de liberdade para resolver problemas, pois essa será uma habilidade vital nas economias modernas. Para tanto, os professores precisam ficar de fora e facilitar atividades de solução de problemas, deixando as crianças afiar suas habilidades de pensamento crítico. Mas a evidências não estão desse lado – e o ministro despeja citações de pesquisas recentes de Kroesbergen, Van Luit e Mass, na Holanda, e de Klahr e Nigam, da Universidade de Pittsburgh para mostrar que o ensino direto é mais eficaz do que o método da descoberta. E aduz: a evidência é muito clara – não é deixando os alunos comportar-se como cientistas que eles serão preparados para se tornar cientistas. É ensinando didaticamente o conhecimento científico que os alunos vão se preparar. Para ficar nos ombros do gigante, é preciso antes subir pelos seus ombros.

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E, valendo-se de mais evidências, o ministro continua: o trabalho seminal de Sweller demonstrou a importância do conhecimento específico de conteúdos para a solução de problemas. Há várias décadas estudiosos do currículo como Bruner e Ross já haviam ressaltado a importância do professor ressaltar os aspectos críticos de um problema e modelar as soluções – essas são as marcas de um bom ensino.

Conhecimento é poder – reiterou o ministro. É poder para os professores. Mas também é poder para os alunos.   Devemos empoderar os professores para conhecer e usar métodos de ensino baseados em evidência. Devemos assegurar que os professores possuam conhecimentos atualizados sobre a ciência cognitiva e suas implicações sobre o que eles ensinam. E precisamos desenhar currículos ricos em conteúdos para que os alunos tenham melhores oportunidades de sucesso.

Não, leitor. Este discurso não foi feito pelo nosso Ministro da Educação. Nem pelo Presidente do Conselho Nacional de Educação. Ele foi proferido pelo Ministro da Educação da Inglaterra no dia 3 de abril de 2017. Mas é uma boa referência para avaliarmos o que vamos ouvir nos próximos dias, quando da decisão do Conselho Nacional de Educação sobre a nova Base Nacional Curricular Comum.

 

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