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Por Coluna
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Pastel de nata

Segredos e histórias deliciosas do mais cosmopolita dos doces portugueses

Por J.A. Dias Lopes Atualizado em 30 jul 2020, 20h29 - Publicado em 18 abr 2018, 14h47

Mais conhecido no Brasil pelo nome equivocado de Pastel de Belém, o Pastel de Nata é atualmente porta-bandeira internacional da irresistível doçaria tradicional portuguesa. Supera em popularidade o Pão de Ló e o Pastel de Santa Clara, sendo popular até na China e em diversos países asiáticos. No Brasil, trocamos sua denominação original por culpa dos turistas. Eles viajam a Lisboa e, depois de visitarem dois monumentos históricos – o Mosteiro dos Jerônimos e a Torre de Belém – saboreiam o doce na vizinha pastelaria (confeitaria), padaria e café Pastéis de Belém, da freguesia homônima, na Zona Ocidental da capital.

Em Lisboa, há Pastel de Nata em quase todos os estabelecimentos similares e muitos restaurantes o oferecem. Mas os turistas regressam ao Brasil tratando-o pelo nome daquela pastelaria. Assim se espalha um equívoco. A Pastéis de Belém até patenteou a marca Pastel de Belém e só ela pode usá-la comercialmente. Seu doce, porém, apesar da óbvia qualidade, não disputa o título de número um da cidade. Na quarta-feira da semana passada, dia 11 de abril, em evento gastronômico realizado no Pavilhão Carlos Lopes, do Parque Eduardo VII, aconteceu a 10ª Prova do Melhor Pastel de Nata de Lisboa.

Um júri presidido pelo especialista em história da alimentação e escritor gastronômico Virgílio Nogueiro Gomes, autor do livro “Doces da Nossa Vida” (Mercador Editora, Portugal, 2014), atribuiu o primeiro lugar ao doce apresentado pelo restaurante O Mercado do Peixe, situado no concelho de Lisboa, na mesma região da Pastéis de Belém. A clientela o saboreia como deve ser: no final da refeição, polvilhado de canela e açúcar de confeiteiro, acompanhado de um vinho doce fortificado, tipo Porto e Moscatel de Setúbal; nas confeitarias, harmonizam-no com café. Candidataram-se 27 estabelecimentos. A Pastéis de Belém sequer inscreveu o seu doce.

Referimo-nos a um doce pequeno, do tamanho de uma empada, com a qual visualmente se parece, porém de sabor gigante e diferenciado. No Brasil, pastel designa uma massa à base de farinha de trigo, estendida com o rolo e cortada em pedaços que são dobrados como envelopes, em formato de meia lua, retângulo ou quadrado. Contém recheios salgados ou doces; por último, frita, cozinha ou assa no forno.

Em Portugal, a palavra pastel tem sentido abrangente. Designa preparações diferentes nas receitas e ingredientes incorporados. Algumas se apresentam salgadas – o pastel de bacalhau, por exemplo, que vem a ser o nosso bolinho de bacalhau. Outras são doces, entre as quais se destacam o mencionado Pastel de Santa Clara, o de Tentúgal e o de Santo Antônio. Se fosse inventado no Brasil, o Pastel de Nata poderia ser classificado de empada doce, aberta na parte superior.

O docinho emblemático de Portugal é feito com massa folhada, que depois de assada em forno muito quente fica estaladiça. Como recheio, recebe leite integral, creme de leite fresco, açúcar, essência de baunilha, gemas de ovos e casca de limão. Serve-se ainda quente, mas pode ser saboreado frio. Apesar da aparente simplicidade, é tarefa difícil escolher qual o mais perfeito em uma competição como a 10ª Prova do Melhor Pastel de Nata de Lisboa a que nos referimos.

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Quais os critérios para a escolha do doce campeão? Virgílio Gomes responde: “A massa folhada tem que ficar estaladiça, fina, sem gosto a farinha ou gordura, garantindo a sustentação do creme, que deve escorrer doce e sem sabores dominantes, nem de gema, nem de baunilha e nem de limão”. Considera-se defeito quando algum desses itens se sobrepõe aos demais. Também é vetado o doce queimado, sendo bronzeada a cor desejável. A falha mais grave, porém, será a massa folhada não ficar estaladiça.

Segundo Virgilio Gomes, a primeira receita manuscrita do Pastel de Nata é de 1729 e pertenceu ao Convento de Santa Clara de Évora, na região do Alentejo, centro-sul de Portugal. Denominava-se “Pastelinho de Nata” e já levava massa folhada. O Convento de Santa Clara de Évora foi fundado no século XVI e fechado em 1903, com a morte da última freira, quando passou à propriedade do Estado. Era ocupado pelas clarissas, exímias doceiras, que também preparavam Pastéis de Santa Clara, Trouxas de Ovos, Queijinhos do Céu, Barriguinhas de Freira e Sopa Dourada.

Os conventos ou mosteiros tiveram grande importância na Reconquista – a guerra comandada por d. Afonso Henriques (1108-1185), o soberano que combateu os mouros e formou o reino de Portugal. Alfredo Saramago e Manuel Fialho mostram isso no livro “Doçaria dos Conventos de Portugal” (Assírio & Alvim, Lisboa, 1997). Uma das formas de ocupação do território foi a criação de estabelecimentos religiosos, cuja existência ainda servia, entre outras funções, para reis e senhores da nobreza pagarem ou redimirem os seus pecados, através de contrato de rezas.

Notabilizaram igualmente pela contribuição à doçaria conventual – o rico acervo confeiteiro português desenvolvido a partir do século XV, quando as ordens religiosas passaram a ter açúcar à vontade em suas cozinhas. O farto suprimento era garantido pelas plantações e engenhos de cana no Arquipélago da Madeira, que depois se transferiram para o Brasil. As freiras não precisavam economizar açúcar e muito menos ovos. Conventos como o de Santa Clara de Évora recebiam em doação as gemas que sobravam do processo de elaboração do vinho; as claras eram usadas na clarificação, ou seja, na retirada das impurezas da bebida. A fartura se estendia às demais instituições religiosas.

Curiosamente, embora o sucesso do Pastel de Nata seja mais ou menos recente no Brasil – encontra-se em todos os restaurantes de cozinha portuguesa e nas melhores padarias de São Paulo – o clássico da literatura confeiteira nacional “Doceiro Nacional ou Arte de Fazer Toda a Qualidade de Doces”, publicado em 1895 pela H. Garnier Livreiro-Editor, do Rio de Janeiro-Paris, já trazia uma receita sua, ou seja, o Pastel de Nata era preparado aqui no tempo em que açúcar se escrevia com dois esses. Moral da história: apesar de antigo, está em moda.

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PASTEL DE NATA

Rende cerca de 30 unidades

INGREDIENTES

CREME

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.2 1/2 l de leite integral

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.2 1/2 l de creme de leite fresco

.175g de açúcar

.1 colher (sopa) cheia de essência de baunilha

.10 gemas de ovos

.1 pedaço de casca de limão

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PASTÉIS

.2 embalagens (de 300g cada) de massa folhada comprada pronta

.Manteiga para untar as forminhas

PREPARO

CREME

1.Em uma panela, aqueça o leite com o creme de leite fresco, o açúcar, a essência de baunilha e a casca de limão em fogo brando, até levantar fervura.

2. Afaste a panela do fogo, deixe esfriar um pouco e junte as gemas, uma a uma, mexendo a cada adição.

3.Retorne ao fogo brando, sempre mexendo, até o preparado engrossar. Cuide para não ferver.

4.Retire do fogo, descarte a casca de limão e deixe esfriar. Esse creme pode ser preparado de um dia para o outro.

PASTÉIS

5.Unte com manteiga forminhas do tipo para quindim.

6.Estique rapidamente a massa com um rolo, em uma espessura com cerca de 1cm.

7.Corte a massa em círculos e, com o dedo, molde-a no fundo e lados das forminhas.

FINALIZAÇÃO

8.Coloque o creme sobre a massa, dentro das forminhas e leve ao forno quente, preaquecido a 200°C, por cerca de 15 minutos, ou até o creme dourar.

9.Deixe esfriar um pouco antes de desenformar e sirva morno ou frio, como preferir.

Receita preparada por Ilda Vinagre, que foi chef executiva do restaurante A Bela Sintra, de São Paulo, e hoje é chef proprietária do S Restaurante & Petiscos, de Lisboa.

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