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Por Laryssa Borges
A repórter Laryssa Borges, de VEJA, relata sua participação em uma das mais importantes experiências científicas da atualidade: a busca da vacina contra o coronavírus. Laryssa é voluntária inscrita no programa de testagem do imunizante produzido pelo laboratório Janssen-Cilag, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.
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Repórter de VEJA recebe dose da vacina experimental contra a Covid-19

"Arde um pouco, arde mais um pouco. Arde muito", relata ela

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 nov 2020, 17h44 - Publicado em 18 nov 2020, 15h14

17 de novembro, 18h30: Começa a desinfecção da área do braço esquerdo que receberá a vacina. Uma agulha fininha, de não mais de 5 centímetros, marca minha estreia como voluntária em busca de um imunizante contra a maior pandemia das últimas gerações. Cinco segundos que parecem uma eternidade. A dose não é despejada como uma vacina regular de gripe ou sarampo. É lenta, lateja, vai se espalhando vagarosamente pelo corpo. Arde um pouco, arde mais um pouco. Arde muito. Passaram-se os cinco segundos. Foi um dia longo.

Para se submeter a qualquer estudo clínico – o Instituto Brasil de Pesquisa Clínica (IBPClin) está desenvolvendo, além de uma potencial vacina contra a Covid, 13 outras pesquisas, como de insuficiência cardíaca, dermatite atópica e artrite reumatoide – o voluntário precisa assinar um documento que se chama “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”. Ele detalha cada fase da pesquisa, os riscos (sim, eles existem) de se ser voluntário, os benefícios que análises desta natureza podem trazer para a humanidade e uma espécie de válvula de escape: fique à vontade para desistir a qualquer momento de participar ou de continuar participando do projeto.

O Termo de Consentimento é completamente confidencial. Uma via assinada por mim está com a equipe médica. Outra, comigo para analisar cada dúvida que surgir e reler vírgula por vírgula a que estou me submetendo sendo voluntária de uma grande experiência científica. “Não leia o documento quando estiver no avião. Alguém pode ver o teor dele”, alerta o doutor Luis Augusto Russo.

No dia de hoje, em que me submeto ao teste da vacina, não sei – e os médicos tampouco sabem – se fui tratada com o princípio ativo de verdade ou com um placebo. Essa resposta só estará disponível quando o ensaio for totalmente concluído, daqui a mais de dois anos. Os placebos são como a água com açúcar usada como calmante. Não possuem propriedades farmacológicas reais, mas são importantes em pesquisas do tipo duplo-cego, como a de que sou parte, para comparar e validar os efeitos da vacina que está sendo testada.

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14h24: Inicio a consulta médica que vai determinar se estou mesmo apta a ser voluntária da vacina. Perguntas sobre meu histórico de saúde, medição de temperatura e pressão, instruções para não doar sangue nem medula no médio prazo e detalhes que nenhuma mulher, voluntária ou não de estudos clínicos, gosta de ver aferidos: peso, IMC, percentuais de gordura e de músculo. “Precisa perder três pontos nesta taxa de gordura”, diz o doutor Russo. Um choque de realidade no meio da tarde.

15h05: Começa o cadastramento de uma identidade digital para mim. Ela será registrada em um sistema randômico, que sorteia se tomarei placebo ou uma dose com princípio ativo. Instantes depois, o software dos voluntários em todo o mundo sai do ar. Difícil escapar da piada clássica em repartições públicas: “Senhora, o sistema está lento”. Espero em um consultório comum, todo branco, sem decoração alguma. Duas caixas com kits “Jornada rumo à vacina da Covid-19, uma causa que une todos nós” se sobressaem no ambiente espartano. Na mesa à minha frente, um oxímetro, que mede o nível de oxigenação no sangue, e um termômetro digital.

15h27: “Ligaram para o helpdesk?”, questiona o doutor Russo ao entrar na sala e se justificar sobre a instabilidade no sistema. Mandou email para o patrocinador do estudo, áudio para a coordenadora da pesquisa e nada. Hoje o sistema ficou cerca de meia hora fora do ar no período da manhã. Não tenho tanta sorte. Zapeio pelo celular, penso no voo que estou prestes a perder, checo mensagens acumuladas no email.

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17h42: Quase duas horas e meia depois, o sistema de criação da minha identidade como voluntária enfim volta à vida e posso dar seguimento ao processo para tomar a vacina. É chegada a hora da verdade. Descubro que o oxímetro e o termômetro em cima da mesa do consultório são meus, para levar para casa e acompanhar diariamente minha rotina como voluntária.

Três funcionários completamente paramentados com jaleco, capas de proteção, toucas e máscaras se aproximam para o ato final. Um será responsável por tirar meu sangue. Outros dois acompanham à curta distância. Dois tubinhos de sangue com 5 ml cada são retirados do meu braço esquerdo; depois um terceiro, de 2,5 ml, misturado a uma solução. Os frascos não têm meu nome, e sim um QR Code que relaciona o material biológico a mim. Segurança e confidencialidade.

Sou submetida a um teste PCR nas duas narinas para garantir que não estou com Covid-19 no momento exato da pesquisa. “Pode cair uma lágrima”, me tranquiliza a funcionária responsável pelo teste. A lágrima não caiu e acabei levada de volta ao consultório todo branco e sem decorações. Foi lá que recebi a dose única da vacina do projeto Janssen-Cilag.

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19h01: “Vai beber uma cerveja que você merece”, diz uma das médicas da clínica. Saio do prédio. Acabou o teste. Mas a experiência está apenas começando.

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