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Por Laryssa Borges
A repórter Laryssa Borges, de VEJA, relata sua participação em uma das mais importantes experiências científicas da atualidade: a busca da vacina contra o coronavírus. Laryssa é voluntária inscrita no programa de testagem do imunizante produzido pelo laboratório Janssen-Cilag, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.
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Os erros capitais do governo no enfrentamento da pandemia

Especialistas explicam por que o Brasil tem poucas vacinas, risco de falta de doses, odes à cloroquina e baixa perspectiva de vacinação em massa

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 22 jan 2021, 09h28

22 de janeiro, 7h56: Em uma pandemia que fez com que todos os países buscassem ao mesmo tempo uma quantidade colossal de vacinas contra o novo coronavírus, não era de se imaginar que haveria doses de imunizantes brotando aos borbotões ou empresas batendo à porta dos governos para, tal qual mascates, venderem seus produtos. Em uma emergência sanitária mundial como a que estamos vivendo, feliz aquele que viu seus governantes se organizarem com antecedência, ouvirem a ciência e comprarem vacinas do maior número de fabricantes possível para proteger seus conterrâneos.

No Brasil, menos de uma semana após o início da vacinação, não há garantias de doses nem para a cobertura do primeiro grupo prioritário na imunização contra a Covid-19. O presidente da República, que tomou como derrota o fato de a vacinação ter se iniciado em um estado governado por um desafeto político, continua a defender a cloroquina. O alívio provocado pelo anúncio de que 2 milhões de ampolas da vacina de Oxford/AstraZeneca enfim serão enviadas da Índia veio seguido da discussão sobre dar não duas, como exige o fabricante, mas apenas uma dose aos pacientes para tentar maximizar a quantidade de brasileiros vacinados. Pouco depois da alegria de ver a enfermeira Monica Calazans ser a primeira de todos nós a receber o antígeno anti-Covid, autoridades sanitárias já dão por certo que haverá várias paralisações no processo de vacinação por não haver produto suficiente para uma aplicação maciça na faixa da população considerada prioritária.

Para entender quais foram os principais erros do governo no enfrentamento da pandemia, um desvario que levou o Brasil a contabilizar até agora mais de 212.000 mortes, o blog ouviu os especialistas Márcio Sommer Bittencourt, mestre em Saúde Pública e pesquisador do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da Universidade de São Paulo, e Luiz Gustavo de Almeida, doutor em Microbiologia e coordenador do Instituto Questão de Ciência.

  1. O governo desacreditou a ciência, se cercou de falsos especialistas e estimulou que seus apoiadores se voltassem contra orientações de autoridades sanitárias: “O governo tentou sempre que possível criar uma narrativa própria e tirar a credibilidade de pessoas sérias. A divisão dos brasileiros segundo uma narrativa política durante a pandemia levou a população a ter desconfiança em quem teria de liderar o processo. O governo não respeitou especialistas e foi incapaz de reconhecer os próprios erros e mudar de opinião”, diz Bittencourt.
  2. O governo ignorou a pandemia e não se preparou para a chegada do vírus: “A decisão do presidente de passar uma mensagem de negacionismo da ciência e de não se comprometer a salvar vidas foi o erro capital do Brasil. Foi como se estivéssemos vendo com antecedência um filme de terror em que todos seriam mortos no final e ainda assim fôssemos orientados a entrar na cena do crime para morrer”, afirma Luiz Gustavo de Almeida.
  3. Não houve uma política nacional de testagem da população e de isolamento dos infectados: “A gente vem de um desmonte da ciência há pelo menos três governos. Não são só cortes orçamentários, é o assassinato da ciência mesmo. Por isso sequer tínhamos insumos para fazer testagem em massa. Era o básico, e a gente não fez”, diz Almeida.
  4. O governo sabotou medidas adotadas por prefeituras e governos estaduais: “O governo nunca teve uma estratégia integrada com ninguém, nunca foi atrás de fazer parceria com ninguém, nunca interagiu com os estados de forma estruturada, coordenada, nunca trabalhou política com os outros. O governo minimizou ou fez chacota de todas as medidas de distanciamento físico”, opina Márcio Bittencourt.
  5. Propagandas enganosas sobre tratamentos precoces deram falsa sensação de proteção a pessoas e as expôs mais ao vírus: “Com o governo estimulando a cloroquina, ele deu uma falsa sensação de que as pessoas estariam blindadas contra o vírus e que tudo iria virar só uma gripezinha. Infelizmente Manaus foi a cidade que virou um experimento a céu aberto com o Ministério da Saúde incentivando o tratamento precoce”, diz o diretor do Instituto Questão de Ciência.
  6. O governo apostou em poucas vacinas e não fez acordos de reservas de doses com o maior número de fabricantes possível: “Foi horrível o governo apostar todos os ovos em uma cesta só. Não tem vacina pior nem melhor. Tem as que chegaram e que a Anvisa regulou, mas não tivemos celeridade de ir atrás das empresas e fazer pré-contratos com fabricantes”, afirma Luiz Gustavo de Almeida. “Não temos a Pfizer nem a Moderna e talvez nem a Janssen. O governo parece que nunca quis fechar contrato com ninguém”, avalia Bittencourt.
  7. O governo ignorou o risco de faltarem insumos de imunização, como seringas e agulhas: “A ciência faz o papel dela em tempo recorde e produziu vacinas anti-Covid, mas o governo não providenciou insumos básicos, como agulha e seringa, para fazer uma coisa que fazemos há 48 anos, desde que o Plano Nacional de Imunizações foi criado. Depois reclamou do preço da seringa, apesar de não ter se preocupado em comprar cloroquina quando o preço do medicamento mais do que duplicou”, diz Almeida.
  8. O governo não incentivou a população a se vacinar e espalhou insegurança sobre vacinas: “O governo não tomou uma atitude de liderança e sabotou, questionou e plantou dúvidas contra a maior de todas as estratégias, um plano nacional de imunização, porque se vê como derrotado político. Três coisas mudaram a história da medicina: a água potável, o acesso à rede elétrica para a conservação de alimentos e o desenvolvimento de vacinas. Sabotar um desses tripés, como ele fez com a vacina, é ter total desconhecimento de saúde pública ou, pior, um objetivo altamente questionável”, afirma Márcio Bittencourt.

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