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Diário da Vacina Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Laryssa Borges
A repórter Laryssa Borges, de VEJA, relata sua participação em uma das mais importantes experiências científicas da atualidade: a busca da vacina contra o coronavírus. Laryssa é voluntária inscrita no programa de testagem do imunizante produzido pelo laboratório Janssen-Cilag, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.
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De voluntária para voluntária: por que não somos cobaias?

Voluntária de 84 anos rejeitou cloroquina e se inscreveu no estudo da Universidade de Oxford em busca da vacina contra a Covid

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 nov 2020, 10h00 - Publicado em 22 nov 2020, 09h06

21 de novembro, 14h56: Pela primeira vez desde que tomei a dose da potencial vacina não sinto nada. Dores, cansaço, medo, febre, taquicardia, nada. Nem parece que na terça-feira, às 18h30, recebi uma injeção no braço esquerdo. As reações que senti, especialmente na quarta, 18, são absolutamente normais para quem se submete a qualquer injeção, seja de vacina, de placebo ou de antibiótico, e não me desanimaram no projeto de fazer parte da corrida científica por um imunizante contra a Covid-19. O que é um dia de mal-estar diante a possibilidade de ajudar a desenvolverem uma vacina? Até a sensação de ter sido atropelada por um caminhão valeu a pena. É isso que é ser voluntária.

Não, não gourmetizaram a palavra cobaia. Voluntários de um estudo clínico, como eu e milhares de pessoas ao redor do mundo, decidem fazer parte de pesquisas científicas pelas mais diversas razões, mas nunca porque são compelidas, ameaçadas ou levadas à força para um laboratório. A palavra cobaia pressupõe falta de voluntariedade, de livre escolha em participar ou não do projeto. Falar em cobaias humanas remete à condição de vulnerabilidade de pessoas expostas compulsoriamente a experimentos, como os que os nazistas impunham a judeus e ciganos, por exemplo.

Questionários aplicados a pessoas que se inscreveram em testes para a descoberta de vacinas ou novos medicamentos – um deles elaborado pelo pesquisador principal da clínica que conduz o estudo de que sou parte – indicam que a principal razão para que voluntários se apresentem é o desejo de conhecer melhor o próprio corpo. Em segundo lugar, a vontade de ajudar as pessoas, altruísmo mesmo. Por isso usar a palavra cobaia é ofensivo – mesmo que os verbetes nos dicionários não façam essa ressalva.

Dona Marluce Diniz é uma dona de casa de 84 anos. Mora em Natal. Assim como eu, ela é voluntária de estudos clínicos em busca de uma vacina contra o novo coronavírus. Ela, o marido, também de 84 anos, e o filho médico, de 56. O irmão se inscreveu, mas não pôde participar porque toma um remédio que influencia a coagulação do sangue. Pessoas em tratamento quimioterápico e menores de idade, por exemplo, também não estão autorizados a se submeter aos estudos clínicos.

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“Meu filho me explicou o programa de voluntários da vacina e perguntou se eu queria participar. Eu disse na hora: Ave Maria, eu quero. Não tive medo. Medo eu tenho hoje, que não tem a vacina ainda”, disse ela ao blog. Amanhã, segunda-feira, ela tomará a terceira dose do estudo clínico conduzido pela Universidade de Oxford com a farmacêutica AstraZeneca. Até agora, dona Marluce não teve nenhum efeito colateral.

“Minhas amigas falaram que eu era louca”, afirmou, “mas acho que estou fazendo alguma coisa pelo Brasil, pela saúde do povo”. “Elas tomaram cloroquina. Eu não tomei porque a ciência disse que não funciona. Sou uma voluntária, e não cobaia, e quero ajudar a resolver o problema da pandemia”.

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