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Por Lucilia Diniz
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A quarentena das tradições

É hora de acostumar-se aos novos tempos

Por Lucília Diniz
Atualizado em 7 Maio 2020, 16h02 - Publicado em 7 Maio 2020, 15h10

É tradição que se realizem a maioria dos casamentos no mês de maio. Sempre gostei da cerimônia, desde a igreja até o fim da festa. Principalmente dos bem-casados, oferecidos como um gesto de gentileza e fé no futuro. O convidado, ao receber o doce, estaria sendo abençoado com a mesma felicidade do casal se fizesse um pedido antes da primeira mordida. Minha mania era leva-lo para casa e deixa-lo para alguém, gesto símbolo da minha própria resistência aquele bocado engordativo de felicidade.

Mas eis que veio a pandemia, e nos vemos diante de uma quarentena de tradições. Ao menos, de todas as que marcam importantes ritos de passagem em nossas vidas. Lá se vão os batizados, adiados. Primeiras comunhões em segundo plano. E nada de bem-casados, ainda por um bom tempo.

Neste domingo também teremos o primeiro Dia das Mães à distância. Perdemos beijos e abraços. Do tradicional almoço da data, cada um guarda uma preciosa memória. Eu mesma não me esqueço do pudim servido quando nos reuníamos para celebrar na minha mãe, Dona Floripes.

Tendo em mente a disruptura do presentear como símbolo de afeição pelos entes queridos, na mesma toada lá se vai o Dia dos Pais de 2020. Em junho também não teremos as festas juninas, e será sorte você conseguir saborear alguma das receitas típicas. Afinal, foi o típico que mudou. Nenhuma menina vai querer seu baile de debutante aos 16 anos. Formaturas estão sendo realizadas por videoconferência. Aniversários acontecem via lives. Ou nem deveriam, haja vista a repercussão que pessoas se abraçando pode alcançar. Não teremos nada de Dia das Crianças, que não estão entendendo nada. E com o fim momentâneo dos velórios, até a última despedida está cancelada.

A coisa é séria. Lévi-Strauss, um dos maiores teóricos do século 20 no campo antropológico, se dedicou ao estudo das estruturas elementares do pensamento humano. Para ele, o ritual é “o modo pelo qual as coisas são ditas”. De tradição em tradição, vão-se as referências temporais de uma vida. Ritos de passagem que marcam mudanças de status de uma pessoa em sua comunidade. Esses ritos são necessários, não apenas por sua familiaridade, mas porque promovem um sentimento de coesão social.

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Que saudade de esperar sempre pela próxima festa! Com o esvaziamento do rito, provocado pela Covid-19, vem um vácuo identitário. É como se o corpo envelhecesse, por consequência natural dos processos biológicos, mas sua presença não marcasse rugas na existência.

Neste momento, autores e músicos tentam usar o confinamento para criar suas obras-primas, na tentativa de marcar o período com algo que, por sua vez, estabeleçam marcos pessoais. Especialistas em saúde mental recomendam que não devemos nos cobrar tanto. Se você está usando esse tempo para se exercitar ou aprender algo novo, ótimo. Mas se só quer descansar, comer e fazer algo que te deixa confortável, ótimo também.

Eu mesma vou tentar me surpreender todo dia fugindo das tradições. Criando um novo caminho, tentando imaginar com riqueza de detalhes um percurso sem precedentes.

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