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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Imunização e prevenção exigem envolvimento do paciente

A Covid-19 fez da vacinação a conversa mais quente do momento, mas vacinas têm uma longa história

Por Claudio Lottenberg
Atualizado em 3 ago 2020, 13h58 - Publicado em 3 ago 2020, 13h48

Saúde e economia andam juntas, independentemente do momento atual, de pandemia de Covid-19. Sempre será mais eficiente imunizar e prevenir do que arcar com custos – tanto financeiros como em termos de qualidade de vida – de longos tratamento e recuperação de pacientes que, se tivessem sido acompanhados desde bastante cedo, talvez não precisassem de intervenções médicas mais intensivas. Vacinação e atenção primária são, portanto, essenciais.

Na questão da vacinação, no entanto, desde 2013, e a partir daí ano a ano, a cobertura para imunizar contra doenças como caxumba, sarampo e rubéola vem caindo em todo o país. Desabastecimento de vacinas essenciais, municípios com menos recursos para programas de imunização e pais que se recusam a vacinar filhos ajudam a explicar essa drástica queda. Isso tudo cria o risco de surgirem bolsões de pessoas suscetíveis a doenças antigas, mas fatais. Isso é uma tragédia para o Brasil, justamente em uma área na qual tem reconhecimento internacional: o país dispõe de um amplo programa de imunização, oferecendo gratuitamente vacinas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Criado em 1973, o Programa Nacional de Imunização (PNI) dispunha no início de quatro tipos de vacina. Hoje, oferece 27 – sem custo algum.

Outro ponto a ser discutido sobre vacinação é que ela tende a ser tratada como assunto atinente à população pediátrica. Isso pode significar um erro em termos de saúde populacional. A população idosa também deve ser considerada vulnerável: com a idade, acentuam-se deficiências de resposta imunológica, o que a torna mais sensível a infecções. A vacinação do idoso é muito importante para fornecer a imunidade necessária: a partir dos 60 anos, é essencial que as pessoas atentem para o calendário e as campanhas de vacinação, principalmente contra a gripe – recomendada já a partir dos 55 anos.

As vacinas recomendadas no calendário de vacinação do idoso, determinadas pela Sociedade Brasileira de Imunizações em conjunto com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, são contra gripe; pneumonia pneumocócica; tétano; difteria; hepatite; febre amarela; tríplice viral; herpes zoster; e meningite meningocócica.

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A Covid-19 fez da vacinação a conversa mais quente do momento, mas vacinas são têm uma longa história. A primeira vacina surgiu a partir dos estudos realizados pelo médico inglês Edward Jenner, que observou pessoas que, ao ordenharem vacas, se contaminaram por uma doença de gado. Ele concluiu daí que essas pessoas se tornavam imunes à varíola. Diante dessa observação, em 1796 Jenner inoculou o pus presente na lesão de uma ordenhadora chamada Sarah Nelmes, portava da doença (“cowpox”), em um garoto de oito anos de nome James Phipps. O garoto adquiriu a infecção de forma leve e, após dez dias, estava curado. Posteriormente, Jenner inoculou em Phipps pus de uma pessoa com varicela, e o garoto nada sofreu. Surgia aí a primeira vacina.

Ao longo do século passado, as vacinas foram decisivas para controlar doenças infecciosas. Contudo, em 2015, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um alerta global: uma em cada cinco crianças no mundo não recebe as vacinas básicas. Com a baixa imunização das populações na última década, doenças que já estavam controladas na maior parte do mundo estão voltando a circular com grande intensidade. Veja-se o caso do sarampo, responsável por surtos na América e na Europa, e das hepatites, que já matam mais que o HIV e a poliomielite.

Aqui se fez agora a ligação da vacinação com a atenção primária – outro aspecto essencial da manutenção da boa saúde da população: ambas demandam envolvimento do paciente. Na maioria dos países, a atenção primária é frequentemente o primeiro ponto de contato de um paciente com o sistema de saúde – eis aí, então, um bom ponto de partida para o envolvimento dele em todo o sistema.

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A atenção primária é cada vez mais reconhecida como parte integrante dos cuidados de saúde e como componente crítico de serviços seguros e centrados nas pessoas. Elas esperam estar envolvidas na tomada de decisão a respeito de tratamentos e procedimentos (mesmo que esse desejo por envolvimento varie para cada paciente individual). Mais envolvimento e transparência aumentam a probabilidade de que o paciente se sinta confiante para relatar experiências positivas e negativas e concorde com os planos de gerenciamento de cuidados acordados mutuamente.

Os prestadores de cuidados primários estão em posição ideal para envolver os pacientes em um diálogo sobre suas condições de saúde, circunstâncias, necessidades, preferências pessoais e seus valores. Com pacientes informados, os recursos do sistema podem ser mais bem utilizados se estiverem alinhados às prioridades deles, e isso é fundamental para a sustentabilidade dos sistemas de saúde em todo o mundo. O presente momento nos oferece esta oportunidade.

Por fim, uma questão: será que esta parcela da sociedade está atenta a tudo isso? Ficam aqui duas certezas: a de queremos um sistema de saúde melhor e a de que, para tal, temos ainda muito trabalho pela frente.

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