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Por Mariana Barros
A cada mês, cinco milhões de pessoas trocam o campo pelo asfalto. Ao final do século seremos a única espécie totalmente urbana do planeta. Conheça aqui os desafios dessa histórica transformação.
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Tombos, indiferença e a desimportância dos espaços públicos: os efeitos do uso excessivo do celular nas cidades

Brasileiros passam mais tempo olhando seus smartphones do que assistindo à televisão ou usando o computador. O resultado prático disso é que as pessoas olham seus aparelhos o tempo todo, no sofá de casa, no banheiro ou, o que pode ser ainda mais estranho e perigoso, caminhando no meio da rua. Faça o teste e repare, […]

Por Mariana Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jul 2020, 01h11 - Publicado em 11 jun 2015, 13h06
Chineses criaram espaço exclusivo para  caminhar olhando para o smartphone. "Ande nesta faixa por seu próprio risco", diz o aviso

Chineses criaram espaço exclusivo para caminhar olhando o smartphone. “Ande nesta faixa por seu próprio risco”, diz o aviso

Brasileiros passam mais tempo olhando seus smartphones do que assistindo à televisão ou usando o computador. O resultado prático disso é que as pessoas olham seus aparelhos o tempo todo, no sofá de casa, no banheiro ou, o que pode ser ainda mais estranho e perigoso, caminhando no meio da rua. Faça o teste e repare, ao longo do dia, quantos minutos (ou segundos) você consegue andar sem olhar o celular.

O impacto disso na vida urbana é enorme. Como ninguém mais olha por onde anda, ninguém mais observa a cidade. A percepção dos espaços é cada vez menor o que, ao longo do tempo, faz minguarem as exigências sobre a qualidade desses locais. Tudo o que está fora da telinha passa a ser indiferente. A experiência de caminhar livremente e praticar o mais antigo esporte humano, olhar as pessoas que passam, parece algo datado. Além disso, uma série de acidentes causados pela falta de atenção entraram para a rotina de pedestres e hospitais.

Nos Estados Unidos, tombos causados porque a pessoa estava absorta vendo o celular em vez de olhar por onde andava já correspondem a 10% dos atendimentos a fraturas em prontos socorros, de acordo com a Universidade Buffalo de Nova York. Em Ohio, foram 1.506 quedas causadas por celular em 2010, o dobro do registrado em 2005. A maior parte das vítimas tinha entre 16 e 25 anos.

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O vídeo abaixo traz compilação de acidentes causados por digitar e caminhar ao mesmo tempo:

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=hjVAC_vpzSI?wmode=transparent&fs=1&hl=en&modestbranding=1&iv_load_policy=3&showsearch=0&rel=1&theme=dark&w=425&h=344%5D

 

Portas de vidro, postes, desníveis da calçada, degraus e até mesmo fontes de água se transformaram em perigosas armadilhas. Mais de 70% dos americanos admitem mandar mensagens enquanto caminham. E olha que eles só usam dois minutos a mais do que os brasileiros usam por dia. Um estudo divulgado no ano passado mostrou que o Brasil está entre os países que passam mais tempo por dia encarando telas eletrônicas. Ao todo, são quase oito horas diárias nessa função, o equivalente a metade do tempo em que passamos acordados. E é na tela do smartphone, mais do que qualquer outra, em que o brasileiro gasta a maior parte de tempo: a média diária em que se encara esses aparelhos é de 2 horas e 29 minutos, ou 16% do dia. De cada dois minutos em que estamos despertos, um é passado na frente de uma tela. Dos trinta países pesquisados, o Brasil aparece em quarto, atrás apenas de Indonésia, Filipinas e China.

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Para chamar atenção para esse problema, os chineses recorreram ao bom humor. A cidade de Chongqing criou uma faixa exclusiva para pedestres que digitam enquanto andam (veja foto no início do post). No chão, há o ícone de um celular desenhado ao lado da frase “Ande por seu próprio risco”, para sinalizar que por ali é permitido caminhar como zumbi. Esse, aliás, é outra parte do problema. Estudo publicado no jornal médico Plos One mostra que o corpo de alguém que digita enquanto anda se move de maneira parecida com alguém que bebeu demais. Essas pessoas balança lateralmente e avançam mais devagar, com maiores chances de colisão e queda do que se estivessem “sóbrias”.
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O colunista de tecnologia do New York Times David Carr, morto em fevereiro deste ano, registrou em seus textos as mudanças de comportamento causadas pelo uso excessivo do celular. Em 2011, ele participou do festival de inovação South by Southwest com o painel “Sou tão produtivo, nunca termino nada”, sobre o enorme tempo que as pessoas gastam mantendo perfis nas redes sociais e respondendo a e-mails em vez de fazerem o que realmente importa ou o que são pagar para fazer. Carr conta que, na ocasião, Anthony de Rosa, da Reuters, afirmou que a conectividade dos celulares havia acabado com a cortesia humana. “Se estou na frente de alguém e enquanto estou falando a pessoa pega o telefone, eu paro de falar e saio andando. Se eles querem ser rudes, eu serei rude também”, disse de Rosa.
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As falas de Carr e de Rosa demostram a dificuldade de aparentar naturalidade perante situações que, na essência, continuam a ser bastante estranhas. O autor americano Philip Roth captou esse assombro em Fantasma Sai de Cena, em que narra as reações do protagonista Nathan Zuckerman ao sair de uma cidadezinha do interior e chegar em Nova York. “Na Manhattan que eu me lembrava, as únicas pessoas que andavam pela Broadway falando sozinhas eram os loucos. O que acontecera nesses dez anos, que agora havia tanto a dizer — e com tanta urgência que não dava para esperar? (…) alguma coisa que antes inibia as pessoas agora havia desaparecido, e por isso falar ao telefone sem parar era preferível a caminhar pelas ruas sem sem controlado por ninguém, numa solidão momentânea, assimilando as ruas pelos sentidos naturais e pensando a infinidade de pensamentos inspirados pelas atividades de uma cidade”. A imensa solidão dos seres humanos seria capaz de gerar esse anseio ilimitado por se fazer ouvir juntamente com a indiferença a ser ouvido por terceiros, escreve Roth.
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Historicamente, os espaços públicos são planejados para promover o encontro entre pessoas. Uma vez que esses encontros passam ser mais virtuais do que no reais, os lugares perdem seu sentido original. Começam a se tornar cada vez mais autorreferentes, voltados a si em vez de estarem abertos à cidade. Apesar de toda a sua extensão, praças, ruas e parques parecem ter submergido no mar das redes sociais. A paisagem urbana perde lugar para a telinha, que, com todas as suas variações, sempre será mais monótona do que uma caminhada. Apesar de tudo isso, especialistas garantem que há remédio. Basta olhar para frente.
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