Para Banco Mundial, pobres são as principais vítimas das mudanças climáticas
Inundações como a de Mariana devem se tornar mais frequentes nos próximos anos, mas causadas por outro tipo de omissão
Hoje esse cenário devastador completa uma semana. A cena, causada pelo rompimento de duas barragens da mineradora Samarco em Mariana, dá a dimensão do que representa para uma cidade passar por uma inundação de grandes proporções. Na tragédia mineira, a omissão tanto das empresas responsáveis quanto do governo federal continuam impressionando diariamente. O Ministério Público aponta a negligência da Samarco como a principal causa. Mas é provável que ondas de lama como esta que assolou Mariana se tornem mais frequentes ao redor mundo. Nesses casos, o motivo será outro tipo de negligência, um tipo que o Banco Mundial detalhou no recém-divulgado relatório Shock Waves: Gerenciando os Impactos das Mudanças Climáticas sobre a Pobreza.
Segundo o documento, faltam medidas para proteger os que mais sofrem com a ameaça das mudanças climáticas: os pobres. São eles os atingidos com maior intensidade por qualquer que seja o tipo de desastre, inundação, terremoto ou furacão. Também são mais prejudicados por longos períodos de estiagem ou de chuvas, que tendem a se alternar com maior frequência nos próximos anos em várias regiões do planeta.
Um trecho do relatório aponta para o aumento do risco de inundações das áreas pobres urbanas, acrescentando que essas populações são as que se estabelecem com maior frequência em áreas de manancial.
O relatório mostra ainda que, se o atual padrão de aquecimento for mantido pelos próximos quinze anos, 100 milhões de pessoas que haviam ultrapassado a linha da pobreza serão novamente empurradas para baixo dela. E as regiões mais atingidas serão exatamente as mais carentes, África subsaariana e sul da Ásia.
“As pessoas pobres são fortemente afetadas por doenças e problemas de saúde que a mudança climática deve ampliar”, diz o Banco Mundial. O grupo deve ser particularmente atingido pela queda da produção agrícola mundial, problema já previsto pelos ambientalistas e que ameaça o setor-chave para países emergentes e o meio de subsistência para muitas famílias.
Em 2030, a perda da produtividade de certas culturas será tamanha que o preço dos alimentos na África subirá 12%. Se considerarmos que essas populações gastam 60% de sua renda com alimentação, fica difícil imaginar como irão lidar com o aumento. O mais provável é que haja maior incidência de desnutrição– a do tipo crônica grave deve aumentar em 23%.
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Além da desnutrição, a malária é outro grave problema potencializado pelo aumento das temperaturas. Locais quentes são mais favoráveis à transmissão da doença. De acordo com o Banco Mundial, a elevação de 2ºC a 3ºC representa 5% de crescimento no número de vítimas, o equivalente a 150 milhões de pessoas. Calor e a escassez de água devem tornar mais frequentes os casos de diarreia. Com a saúde comprometida, crianças deixarão de ir à escola e adultos deixarão trabalhar, agravando também a situação econômica e a capacidade dessas pessoas de vencer a pobreza.
Mas o relatório também aponta para uma saída. O primeiro passo é estabelecer o combate à pobreza como prioridade mundial e tomar medidas específicas para ajudar essas pessoas a lidar com os choques climáticos. Entre as sugestões, estão a criação de sistemas de alerta e proteção contra enchentes e o cultivo de alimentos resistentes ao calor. Seja no Brasil, na África ou na Índia, novos desastres ambientais são questão de tempo. E proteger os mais vulneráveis, uma corrida contra o relógio.
Por Mariana Barros
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