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Vem aí um novo ciclo das commodities?

Neste ano, os países latino-americanos poderão optar entre o populismo econômico de pernas curtas ou reformas globalistas e modernizantes na economia

Por Marcos Troyjo
Atualizado em 30 jul 2020, 20h34 - Publicado em 11 fev 2018, 23h51

Marcos Troyjo

Há exatos setenta anos, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) da ONU publicava estudo do economista argentino Raul Prebisch. Tal texto mudaria para sempre a reflexão sobre o desenvolvimento.

Com bastante razão, Prebisch argumentava a respeito de uma antiga divisão internacional do trabalho em que, por exemplo, a América Latina fornecia, com vantagens, matérias-primas a uma Europa industrializada já caducada.

A dramática ascensão dos EUA ao pináculo do poder global em fins dos anos 1940, metade do PIB mundial vinha dos EUA, maior potência industrial e também agrícola reluzia como símbolo de transição do sistema econômico internacional. Dali adiante, os termos de troca não podiam mais ser considerados “mutuamente benéficos” para diferentes partes apenas pelo conceito das “vantagens comparativas”.

A única especialização dos países de menor desenvolvimento em commodities agrícolas e minerais deixava de ser uma opção. A tendência inexorável, augurava Prebisch, era a progressiva diminuição do poder de troca relativo das matérias-primas ante bens industrializados cada vez mais valorizados.

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Nestas últimas sete décadas, há muito que confirmou Prebisch, sobretudo em seu diagnóstico sobre agregação de valor. Menos, no entanto, em suas prescrições em prol de uma industrialização mediante substituição de importações.

Países que realmente mudaram de patamar no período ─ a grande maioria deles encontrada no Sudeste Asiático ─ associaram industrialização à promoção de exportações. Os latino-americanos permaneceram focados em suas commodities e a um esforço industrial escudado pelo Estado e voltado a um protegido mercado interno.

O curso da história, no entanto, jamais é linear. Permite, de tempo em tempo, um revival de chance de prosperidade alicerçada na exportação de commodities. Este foi bem o caso da estonteante arremetida chinesa, em especial nos últimos quinze anos, o que fez reemergir, para países como o Brasil, lógica semelhante ao padrão Norte-Sul das vantagens comparativas do século XIX. Exportamos matérias-primas e compramos bens industrializados ou, no caso da economia digital, pós-industrializados.

Ainda assim, o boom de commodities da primeira década dos 2000, se serviu para irrigar o Tesouro dos países latino-americanos, afastou-os da disciplina fiscal e da adoção de reformas modernizantes. Passado este ciclo mais recente, tudo fazia crer que voltávamos à validade dos diagnósticos prebischianos. Por um lado, o revival das vantagens comparativas das matérias-primas teria sido alvejado pela suposta desaceleração chinesa. Por outro, o alvorecer da Quarta Revolução Industrial apenas realçaria a decrescente relevância dos países produtores de commodities. Estes dois pressupostos, no entanto, podem ser desafiados pelo rumo dos acontecimentos. Apesar do susto nas bolsas de valores nos últimos dias, a economia global continua sua progressão a um crescimento sincronizado. Todos, emergentes ou maduros, experimentarão expansão econômica em 2018.

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A propósito, uma possível leitura da recente retração nos mercados acionários diz respeito não a problemas de fundamentos nas economias dos EUA ou Europa, ou pelo temor de um estouro da dívida chinesa ou de uma guerra comercial. É o prenúncio de um pacote de estímulos fiscais nos EUA, com expansão de investimentos em infraestrutura, desregulamentação e reforma tributária. Tudo numa economia já bastante aquecida e próxima do pleno emprego a projetar potencial inflação e consequente aumento acelerado das taxas de juros.

Nessa economia mundial em expansão, destacam-se o grande investimento infraestrutural particularmente na Ásia com o projeto OBOR (One Belt, One Road) pilotado por Pequim e a extroversão do parque industrial chinês para seu entorno geoeconômico. Tudo isso joga para cima a demanda global por commodities agrícolas e minerais.

E, na ponta daquelas atividades mais intensivas em tecnologia, características da Quarta Revolução Industrial, observam-se ganhos de produtividade que também ajudam a elevar rendas de economias mais avançadas. Nesse aspecto, é bom lembrar que mesmo naqueles países de industrialização mais madura, como EUA, Alemanha e Reino Unido, onde vozes se levantam contra a globalização, a robótica e a automação ─ supostos assassinos de postos de trabalho ─, a taxa de desemprego é relativamente baixa. Isso também contribui para uma recuperação do preço das commodities.

Assim, nada nos impede de pensar que há um novo ciclo de apreciação relativa dos preços das matérias-primas e dos alimentos em nível global. E, portanto, mais uma vez os países latino-americanos disporão da possibilidade de optar entre populismo econômico de pernas curtas ou reformas modernizantes que permitam agregar valor em amplo escopo de setores da economia.

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