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Valentina de Botas: A ilha deserta de Dilma

Quem Dilma levaria para uma ilha deserta? Entregávamo-nos sem culpas a uma sucessão de picolés numa tarde dessas, quando meu afilhado de cinco anos me perguntou quem eu levaria para uma ilha deserta. Eu, que encontro solidões na multidão e que frequentemente visito minhas ilhas desertas íntimas clandestinamente habitadas, respondi que jamais iria para uma […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 01h50 - Publicado em 19 mar 2015, 13h19

Quem Dilma levaria para uma ilha deserta? Entregávamo-nos sem culpas a uma sucessão de picolés numa tarde dessas, quando meu afilhado de cinco anos me perguntou quem eu levaria para uma ilha deserta. Eu, que encontro solidões na multidão e que frequentemente visito minhas ilhas desertas íntimas clandestinamente habitadas, respondi que jamais iria para uma ilha deserta. Não vale, madrinha, tem de escolher. Sempre distanciada das realidades do país que administra há 12 anos, consumados os crimes que a levaram à reeleição e depois da posse em janeiro, Dilma evadiu-se para reaparecer com articuladores como Mercadante e Pepe Vargas junto ao Congresso num estranho caso em que a ponte afasta as margens que deveria unir.

Isolando-se na inapetência política consequente à índole autoritária, a presidente levou para a ilha inóspita à decência o marqueteiro e o jeca. Como o remédio só piorou a doença, ainda mais distanciada do país, convocou José Eduardo Cardozo e Miguel Rossetto para esta ilha troncha que o Brasil sustenta, claro, mas não habita. É que não tem jeito: intimidade é uma emoção e como toda emoção não rola se forçada. A presidente e o resto da súcia não têm intimidade com o país. Diante da incontornável e colossal interpelação das ruas, os dois ministros ofereceram o que ninguém pediu: a reforma política do PT, para o PT e pelo PT.

Acordada, mas sem despertar na tão longe e tão perto ilha dela, a presidente se mancou e falou à nação. Outra vez, mostrou que intensidade não é profundidade nem sinceridade e aquela intimidade que nunca houve está perdida: a mulher que mente até calada prometeu dialogar e anunciou humildade sem confissões. Ora, humildade, a única virtude indestrutível segundo Georges Bernanos, não se autoanuncia e é a leveza que nos salva da humilhação perante o que é superior a nós. O quarto governo da abjeta série lulopetista não reconhece o quão menor é do que a nação que se reergue e mais inferior se torna apegando-se enlouquecido e zonzo ao seu projeto de poder irremediavelmente despedaço nas ruas neste lindo 15 de março.

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Moral e politicamente já acabou ainda que resista por meses vazios, pendurado em fiapos de legitimidade como os que Noblat advoga: Dilma não cometeu nenhum dos crimes que ensejam o impeachment. Como ele pode saber? Talvez tenha se aproximado demais dessa ilha da qual o Brasil é visto por conveniente ilusão de ética: ninguém pediu reforma política ou humildade ou confissões; a nação que presta pediu decência, eis a tradução precisa dos nossos anseios vagos, do “Fora PT” e“Fora Dilma”. Do interior de sua ilha moralmente deserta, Dilma descarta a decência quando se digna a responder só 24 horas depois, envergando os andrajos da arrogância na humildade simulada, sem reconhecer o protagonismo na ruína do país e esforçando-se para não ceder ao desejo crepitante de parabenizar a si mesma por conceder ao país o direito constitucional de se manifestar.

Meu afilhado quer uma resposta. E você, querido? O cozinheiro desses sorvetes, você, o papai, a mamãe, a vovó, o vovô, minha professora, os amigos da escola… Ao contrário da aprazível ilha deserta do adorável garotinho, a de Dilma, quanto mais se povoa, mais se desertifica.

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