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Toda Dilma é uma ilha: desde a invasão da Baía dos Porcos, nenhuma incursão a Cuba foi mais desastrada

Dilma Rousseff deve ter imaginado que Celso Arnaldo estava de férias e resolveu passear em Cuba. Foi capturada em Havana, informa mais um texto magistral do grande caçador de cretinices. (AN)  CELSO ARNALDO ARAÚJO Enfim, um leitor ─ já não era sem tempo. Um mês depois de lançada, a biografia de Dilma ─ com o […]

Por Branca Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 09h37 - Publicado em 2 fev 2012, 17h28

Dilma Rousseff deve ter imaginado que Celso Arnaldo estava de férias e resolveu passear em Cuba. Foi capturada em Havana, informa mais um texto magistral do grande caçador de cretinices. (AN) 

CELSO ARNALDO ARAÚJO

Enfim, um leitor ─ já não era sem tempo. Um mês depois de lançada, a biografia de Dilma ─ com o título, em dilmês, de “A vida quer é coragem” ─ tem seu primeiro leitor revelado. E um senhor leitor: Fidel Castro. É o que nos deu conta ontem, mais exultante do que no momento do top-top, o assessor Marco Aurélio Garcia, após o não-documentado encontro de Dilma com o ditador de Adidas, momento culminante da estranha viagem da presidente a Cuba.

Sem nada para fazer a não ser receber em sua dacha baba-ovos da latinidad, Fidel parecia ler o livro com muito interesse ─ sobretudo a parte em que Estela pegava em armas pelos ideais que, dez anos antes, ele já havia transformado na bem-sucedida experiência de governar um país onde todos são iguais na pobreza e não tem classe média ─ àquela altura exilada em Miami.

A Cuba que Dilma viu, 53 anos após a Revolução castrista e 30 anos depois de ter estado na ilha pela primeira vez, ainda tem o frescor, as promessas e o futuro brilhante de uma debutante socialista ─ quando, a rigor, é apenas um case político que teve 53 anos para se demonstrar um retumbante fracasso. Dilma foi a Cuba sem precisar ter ido. E ali falou sem precisar ter falado.

Caso singular de pessoa com formação universitária e há anos manipulando informações privilegiadas da máquina pública brasileira, tendo acesso a densos relatórios e conversas com os mais preparados especialistas do país em cada segmento da vida nacional e internacional sem que isso tenha resultado numa compreensão mais inteligente de si mesma, do Brasil e do mundo, Dilma deu em Havana uma entrevista histórica. Sua (sem) noção de direitos humanos, democracias e ditaduras é um Mojito sem gelo, sem açúcar e sem hortelã ─ só restando um rum velho e intragável.

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Esqueçam o dilmês ─ que chocou o grande Reinaldo Azevedo em texto postado ontem. Nós, desta coluna, já sabemos: nenhum outro brasileiro em posição de comando consegue acumular tantas inadequações de linguagem num mesmo período, numa mesma frase, num mesmo pensamento. Em Cuba, o desastre maior foi o conteúdo. Dilma demonstrou, de novo, que é uma ilha cercada de desconhecimento por todos os lados. Seus conceitos sobre geopolítica internacional são tão primitivos quanto seus conceitos ─ de forma geral.

Patriota e Garcia, na volta, deveriam pedir o boné ainda no Aerodilma. Faltou aí um laboratório básico para avisar Dilma que a menção gratuita a Guantánamo, na tentativa de estender aos Estados Unidos a agressão sistemática aos direitos humanos que caracteriza os 53 anos do governo castrista, seria uma gafe irretratável. Guantánamo é uma pedra no sapato de Obama ─ que ainda não sabe bem o que fazer com esse intolerável bolsão de agressão aos direitos de 300 supostos terroristas, ironicamente localizado em território cubano. São 300 em 300 milhões de cidadãos americanos integralmente livres, fora os presidiários por crimes comuns ─ contra 12 milhões de cubanos, fora os presos políticos, impedidos de adentrar no mar que cerca a ilha a mais de 200 metros da costa. De resto, a comparação feita por Dilma entre os dois regimes, de tão descabida, deve se limitar a breves tópicos.

Os Castros estão no poder desde o tempo em que Eisenhower era o presidente dos Estados Unidos e JK governava o Brasil. Eisenhower foi o 34º presidente americano. Obama é o 44º. Juscelino é o 13º, na cronologia da República brasileira. Entre ele e Dilma, 12 presidentes revezaram-se na presidência do país. Há 53 anos, os Castros não largam o osso ─ literalmente.

Na ditadura sufocante de Tio Sam, milhares de pessoas ganham a vida, e às vezes ficam ricos, espinafrando violentamente as instituições, o way of life e o governo americano ─ de cineastas, como Michael Moore e Oliver Stone, a pensadores, como Slavoj Zizek, que nem americano é, e Noam Chomsky. Nos spas da democracia cubana, há milhares de presos ali internados apenas pelo delito de reclamar de não poder reclamar.

Dilma ainda vive no tempo em que a palavra embargo embargava a voz dos comunistas convictos. O embargo, que não é bloqueio, está expresso em leis formuladas pelo congresso americano e não impediu que os Estados Unidos sejam hoje o maior exportador de alimentos para Cuba. De resto, Cuba pode importar o que quiser de qualquer parte do mundo ─ desde que possa pagar.

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Aí é que está o busílis do fracassado regime cubano. Com o fim da matriz soviética e sem um modelo econômico condizente com o século 21, a ditadura cubana depende de ajuda humanitária. Chávez ali despeja alguns bilhões por ano. Dilma se orgulha do apoio do Brasil.

Na malfadada entrevista, destacou novos 550 milhões de dólares em créditos, que vêm a se somar aos 400 milhões de dólares já concedidos ao porto de Mariel. É a política externa “multilateral” do Brasil ─ seja o que isso seja. Nada como ser um país rico e sem problemas.

Mas a retribuição, a longo prazo, pode ser ingrata ─ e é bom que Dilma, na volta, se instrua melhor sobre a geopolítica cubana. Fidel morto, Cuba não terá outra saída a não ser se tornar uma economia de mercado à moda chinesa. Essa nova Cuba, mais palatável aos Estados Unidos, forçosamente sem presos políticos e inserida na economia global, concorrerá com o Brasil em açúcar, etanol e suco de laranja – a 90 milhas das praias da Flórida.

Quando nada, esses créditos brasileiros valeram o privilégio da visita a Fidel. Não se conhece o teor da breve conversa. “Fidel está bem, com a família toda, numa casa simpática”, relataria Garcia. Um retrato à altura do avô de todas as ditaduras planetárias. Charles Dickens talvez fizesse da visita um conto – o pedinte recebendo em sua casinha humilde a rainha carregada de presentes.

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