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Saímos mais cedo da África

A ideia de que o Homo sapiens teria saído da África há 60 mil anos nunca foi contestada

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 19h32 - Publicado em 3 ago 2019, 15h05

Fernando Reinach (publicado no Estadão)

Sabemos pouquíssimo sobre a história de nossa espécie. A melhor prova dessa ignorância é que ela é alterada frequentemente. Isso é típico de uma explicação incompleta e frágil. Quando nossa compreensão do passado se solidificar, novas descobertas vão confirmar e não modificar a versão anterior. Ainda não estamos lá. Um crânio descoberto no sul da Grécia está forçando os paleontólogos a reescrever a história do Homo sapiens.

Ninguém pode contar a história de nossa espécie, ela tem de ser reconstituída a partir dos ossos que desenterramos. A cada osso está associado o local onde foi encontrado, a data em que o ser vivo morreu, as características físicas desse osso e, mais recentemente, a sequência do DNA extraído desse osso. Ou seja, o que temos é um mapa com pontos, onde cada ponto corresponde a um osso.

O pior é que há poucos desses pontos e a quantidade diminui quanto mais nos distanciamos do presente. Por volta do ano 2000, a história era a seguinte. Um ancestral chamado Homo heidelbergensis teria surgido na África e se espalhado pela Eurásia por volta de 600 mil anos atrás. A população que ficou na África teria dado origem ao Homo sapiens e a população que vivia na Eurásia, ao Homo neanderthalensis.

Aproximadamente 60 mil anos atrás, nossos ancestrais Homo sapiens teriam saído da África e em 30 mil anos teriam liquidado os homens de Neandertal e se estabelecido na Europa e Ásia. A partir disso, teríamos passado 20 mil anos vagando como caçadores e coletores, nos espalhando pelo mundo até o surgimento da agricultura 10 mil anos atrás.

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Parecia simples e fácil de explicar aos alunos do ensino fundamental. Mas, nos últimos anos, surgiram novos ossos e esqueletos. São os minúsculos homens descobertos na ilha de flores, uma nova espécie descoberta nas Filipinas, a evidência de que os Neandertais se misturaram com os humanos e assim por diante. Mas, durante todos esses anos, a ideia de que o Homo sapiens teria saído da África 60 mil anos atrás nunca foi contestada. Foi isso que mudou agora.

Em 1970, foram descobertos dois crânios na caverna chamada Apidima, no sul da Grécia. Essa caverna foi pouco estudada, pois os cientistas só podem chegar lá de barco, enfrentando as ondas fortes que batem no penhasco. Até agora, esses dois crânios ficaram guardados. Finalmente os cientistas foram analisar os achados e levaram um susto. Um dos crânios, chamado de Apidima 2, tem todas as características de um crânio de Neandertal e data de 170 mil anos atrás, nada de especial. Sabemos que os Neandertais ocupavam a Europa nessa época.

O susto veio do Apidima 1, que, ao ser estudado, se revelou um crânio típico do Homo sapiens primitivo. Quando esse crânio foi datado, os cientistas descobriram que seu dono viveu 220 mil anos atrás! Mas como isso é possível, se o Homo sapiens só saiu da África 60 mil anos atrás? Esse único achado demonstra que nossa espécie, ou pelo menos algumas populações, já tinham saído da África 170 mil anos antes do que imaginávamos e já habitaram uma caverna que tinha sido usada ou ainda estava habitada por Neandertais.

É assim que caminha a ciência: você usa todos os dados disponíveis para criar uma hipótese de como e quando chegamos na Europa e basta um crânio para estragar tudo. Uma nova hipótese vai ter de ser elaborada para explicar nossa saída da África. E seguramente nos próximos anos os cientistas vão criar coragem e enfrentar as ondas para descobrir se outros segredos estão guardados na caverna de Apidimia. O que me pergunto é se conseguiremos descobrir nossa pré-história distante antes de causarmos nossa própria extinção. Se conseguirmos, teremos a glória de ser a única espécie a saber de onde veio. Se não der tempo, seremos mais uma espécie extinta antes de descobrir sua origem.

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