Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Augusto Nunes Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Roberto Pompeu de Toledo: Duas ideias

O futuro ministro Alexandre de Moraes, de seu lado, não se pejou de entreter-se com um grupo de senadores na chalupa mantida no Lago Paranoá

Por Augusto Nunes 25 fev 2017, 15h43

Publicado na edição impressa de VEJA

Na volumosa categoria das ideias que se sabe fadadas a não pegar, temos: 1) o Supremo Tribunal Federal deveria ser transferido de volta para o Rio de Janeiro; 2) os cargos de vice, do presidente, dos governadores ou dos prefeitos, deveriam ser extintos. Se estão fadadas a não pegar, vale a pena discuti-las? Vale, mesmo porque as ideias fadadas a não pegar são, muitas vezes, as melhores. As duas enunciadas acima, além de tidas por impossíveis, não são novas. Ainda assim, os últimos acontecimentos justificam retomá-las.

Para chegar à primeira delas, comecemos por um ensinamento do ex-ministro do Supremo Cezar Peluso. Um juiz deve ter gravidade, dizia ele. Em latim, gravidade fica ainda melhor: gravitas. Numa entrevista de 2009 ao site Consultor Jurídico, Peluso queixou-se de que as “virtudes tradicionais do magistrado” estavam sendo deixadas de lado. Que virtudes? “Certa reserva no comportamento, a circunspecção, a gravidade, a prudência.” De 2009 para cá, tais virtudes só fizeram rolar escada abaixo. O ministro Gilmar Mendes entra e sai do Palácio do Jaburu para conversas secretas com o presidente Michel Temer. Semelhante promiscuidade já seria ruim mesmo que o ministro não estivesse encarregado de processos em que Temer é parte. Ele está.

O futuro ministro Alexandre de Moraes, de seu lado, não se pejou de entreter-se com um grupo de senadores na chalupa mantida no Lago Paranoá por um deles, o goiano Wilder Morais. Ao tempo de ministro da Justiça, Alexandre de Moraes primou pela fome de microfones e pela vocação a papagaio de pirata. Mais ainda empurrou a gravitas para o abismo com a volúpia com que se entregou ao beija-mão dos senadores que vão carimbar sua indicação. A ideia de transferir o Supremo para o Rio é do jurista Dalmo Dallari. Na Alemanha, costuma argumentar, a Corte Constitucional fica em Karlsruhe, a 700 quilômetros de Berlim. No Rio, o Supremo ficaria distante da politicalha brasiliense.

Continua após a publicidade

A tese de extinção dos vices tampouco é nova. Não é para se gabar, mas o próprio colunista que vos fala já a abraçou, neste espaço. Na semana passada, o deputado Vicente Cândido (PT-SP) levou-a à Comissão de Reforma Política da Câmara, da qual é relator. O vice, argumentou, é uma figura movida apenas pela “expectativa de um cargo”, e, no entanto, gera uma cara estrutura, em funcionários (ele os calcula em 30 000, país afora) e mordomias. Poderia ter acrescentado que a figura do vice projeta sobre os governos uma sombra desestabilizadora. De Floriano Peixoto, o primeiro vice, que ajudou a derrubar o primeiro titular, Deodoro da Fonseca, a Michel Temer, passando por Café Filho, João Goulart e Itamar Franco, os vices, quando não conspiraram abertamente, encarnaram um contraponto regenerador, ou saneador, ao titular.

Mais ainda se acentua esse traço à luz das esdrúxulas duplas titular-vice montadas por força do presidencialismo dito de coalizão, com desdobramentos nos planos estadual e municipal. Dilma Rousseff e Michel Temer formaram uma chapa de antípodas. Resultado: o eleitor que votou em Dilma movido por certo elenco de ideias, crenças e percepções viu vitorioso, com a ascensão de Temer, o elenco inverso. Pode-se entrever certo ressentimento petista na proposta de Vicente Cândido. Daí a invalidá-la, só se tivesse efeito retroativo, e viesse a derrubar Temer por ter ocupado um cargo extinto. Como isso não ocorrerá, fique-se com a vantagem de, na vacância de uma chefia de Poder Executivo, assumir não o vice, mas o vencedor em novas eleições. Legitimada pelas urnas, a sucessão tenderia a ser menos controversa e mais justa. Vale a pena discutir ideias que se sabe fadadas a não pegar não só porque são boas. Vale também porque não há sentença eterna a pairar sobre elas, e o que hoje parece impossível amanhã poderá não parecer mais.

Ao confirmar o status do ministro Moreira Franco, com direito portanto a foro privilegiado, o ministro Celso de Mello atacou o pensamento de que isso significaria impunidade. “A prerrogativa de foro (…) não importa em obstrução e muito menos em paralisação dos atos de investigação criminal ou de persecução penal”, disse. Seu portador “não dispõe de quaisquer benefícios adicionais”, sendo-lhe dispensado tratamento igual “a qualquer outro cidadão”. Certíssimo, ministro, sob condição de… O senhor sabe; em todo caso, vai o lembrete: sob condição de que o Supremo processe e julgue.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.