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Por Coluna
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O Brasil na era da intolerância

Sem esta confusão das redes sociais e do doido clima de insensatez que tomou conta do Brasil, podemos também alongar com qualidade a nossa vida

Por Deonísio da Silva
Atualizado em 26 Maio 2019, 11h24 - Publicado em 26 Maio 2019, 11h24

Deonísio da Silva

Precisamos de um édito semelhante ao do imperador Constantino, que traga tolerância e misericórdia para os temas controversos da política, de que todos precisamos, e da ideologia, que todos podemos dispensar na vida cotidiana.

A Era da Intolerância pulou das redes sociais para diversos ambientes onde ela não é bem-vinda. Familiares e amigos mais ajuizados evitam os temas controversos e venenosos para o convívio, professores e alunos sensatos tratam de ensinar e aprender, deixando mútuas ironias para bem longe da sala de aula ou distante das câmeras, pois que agora o ensino nas Humanidades é sobretudo ministrado à distância. E assim pode-se deixar à distância também a ideologia.

Política, religião e ideologia são territórios minados e a guerra é antiga. No século IV, os poderosos imperadores romanos deram solução a uma séria controversa e convém relembrar in media res o que houve e não fazer como a maioria dos políticos, que não lê nada, e não aprende nada.

Entre os anos de 311 e 313 ─ vejam que antigo! ─ os imperadores Galério e Constantino baixaram dois éditos que acabaram com a bagunça. Ambos os documentos foram decretados em Milão, mas o primeiro ato oficial foi de Galério e passou à História como Édito da Tolerância ou Decreto da Indulgência. Esses documentos espelharam um entendimento entre as porções ocidental e oriental do império. Não se podia mais perseguir cristão em lugar nenhum.

O certo é que Galério e Constantino deram fim à perseguição contra os cristãos, estratégia que tinha sido adotada por vários imperadores anteriores e não funcionara. Seu objetivo era buscar uma harmonia política para o império.

Livres da perseguição e em paz, os cristãos mudaram o mundo e neste particular as abadias, os mosteiros e as ordens religiosas desempenharam uma função estratégica, servindo de berço, creche ou escola para as primeiras universidades, que desabrocharam depois de tão fértil preparação no alvorecer do segundo milênio.

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Irmão gêmeo de Santa Escolástica, São Bento vivia numa comunidade de regras frouxas, reduzidas a um mínimo, como era costume deste as tolerâncias de Constantino e de Galério. Morando no interior, pois a vida urbana lhes tinha sido hostil, seguiam o preceito de viver em comunidade, recomendação constante dos Atos dos Apóstolos.

Mas Bento de Núrsia, o popular São Bento, um dos santos mais conhecidos do mundo, não sem luta ─ muitos inimigos tentaram matá-lo, sobretudo com alimento envenenado ─ fundou a Abadia de Monte Casino, a primeira do mundo. Estava ainda em pé na Segunda Guerra Mundial, quando foi destruída e, terminado o conflito, foi reconstruída tal como era antes.

Bento impôs a todos os monges uma regra, que para os tempos atuais é o perfeito simulacro de uma boa Constituição: deixa bem claro o que se pode e o que não se pode fazer.

A disciplina dos mosteiros veio para as universidades, para as empresas, para as igrejas e capelas, para toda a sociedade. Talvez o sino seja o seu símbolo mais interessante: para tudo há um tempo.

O sino marca a hora de levantar, de ir para o trabalho, de comer, de descansar, de recolher-se, de dormir. Ele foi uma tecnologia fundamental para uma alocação geral, coletiva e intensa no trabalho.

O lema geral de São Bento era “Ora et Labora” (Reza e Trabalha, em latim), mas a semântica do primeiro verbo era mais ampla: orar era pensar, não se trabalhava sem pensar, não se pensava sem trabalhar, os ofícios eram integrados.

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Ah, como os brasileiros estão precisando desta preciosa lição do passado! Ninguém mais se recolhe para nada e, como o sino foi o sinal daquela mudança, as redes sociais hoje espelham o momento atual da bagunça: tudo é dito e feito sem pensar.

O estudo, a pesquisa, as invenções e demais avanços da Humanidade muito devem ao silêncio e à calma, que, escolhidos ou impostos, prepararam mentes e corpos para se dar bem na vida, isto é, não contrariar excessivamente a natureza para que ela não nos puna com as doenças do barulho e da pressa, com o infarto, as dores de cabeça e as gastrites.

A população tinha uma expectativa de vida de poucos mais de vinte anos. Os monges morriam sexagenários. São Bento morreu aos 67.

Então, temos mais esta: sem esta confusão das redes sociais e do doido clima de insensatez que tomou conta do Brasil, podemos também alongar com qualidade a nossa vida. É a pequena lição que tiramos.

*Deonísio da Silva
Diretor do Instituto da Palavra & Professor
Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

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