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Marcos Troyjo: Mundo viverá o trilema da (re)globalização

A mensagem do plebiscito é que uma democracia (Reino Unido) busca liberar-se de uma instituição tecnocrática e esclerosada (UE) para engajar-se numa "globalização seletiva"

Por Branca Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 22h12 - Publicado em 30 jul 2016, 23h11

Numa conhecida formulação, o economista Dani Rodrik, professor de Harvard, argumentou que a globalização se depara, inescapavelmente, com o “trilema político da economia mundial”.

A provocante equação de Rodrik é simples. Cada país tem à sua disposição três dimensões a considerar. É possível combinar duas das três da forma que se desejar, mas nunca as três juntas.

Num campo, a integração econômica profunda, é dizer, a “hiperglobalização”, com seus fluxos livre de bens, serviços, capitais e pessoas. E, claro, as regras a que se deve submeter a partir de instituições “globalizantes” como FMI, Banco Mundial, OMC, etc.

Noutro, o Estado-nação. A soberania que cada país exerce no desígnio de suas próprias normas, sua estrutura trabalhista, tributária e previdenciária, seus setores econômicos que deseja privilegiar por estratégia ou tradição. Na prática de tal soberania, o Estado-nação implica elevados “custos de transação”, prejudicando portanto uma alocação “ótima” de recursos e talentos globais.

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No terceiro, uma ordem política de natureza democrática. Se os eleitores optam por mais globalização, minam as bases do Estado-nação.

Se por mais caráter nacional, criam empecilhos ao aprofundamento da integração econômica em escala global. A solução seria a transnacionalização da democracia, atingível mediante uma espécie de “globalização federalizada”, de que a União Europeia (UE) parecia fornecer um exemplo.

Há ainda a possibilidade de modelos com menor conteúdo democrático. Se alguns países são liderados por estamentos de comissários e tecnocratas, como é o caso da China, pode-se almejar um híbrido de globalização e forte estado nacional.

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Mas isso depende de uma janela geopolítica (como a da Guerra Fria) em que um grupo de países (o Ocidente, por exemplo) concede a um ator específico (China) benefícios extraordinários de modo a enfraquecer um outro ator (a URSS).

Trazendo esse conceito do trilema para o “brexit”, são muitas as possibilidades de interpretação.

Por um lado, há inúmeros elementos para enxergar que o plebiscito (democracia) preferiu dar as mãos à unidade nacional (Reino Unido) em detrimento de um ente globalizante (a UE).

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Por outro, a mensagem do plebiscito é que uma democracia (Reino Unido) busca liberar-se de uma instituição tecnocrática e esclerosada (UE) para engajar-se numa “globalização seletiva” mediante acordos econômicos com outros países fora (e não necessariamente em detrimento) de sua vizinhança europeia.

O atual cenário mundial permite supor que, das três dimensões da conceituação de Rodrik, os países (sejam eles mais ou menos democráticos em sua ordem política interna), estão preferindo agarrar-se aos pilares do Estado-nação e, portanto, “desglobalizando-se”.

Ainda assim, há ao menos três megatendências no horizonte que podem levar o cenário mundial a uma “reglobalização “. Tais tendências comportam, em si, marcadas tensões.

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A primeira delas diz respeito às novas arquiteturas de comércio e investimento, de que é exemplo a Parceria Transpacífico (TPP). A tensão emerge do quadro político interno dos EUA, onde assombra o fantasma protecionista do candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump. E, na Europa, mesmo em países como a Alemanha a retórica anti-livre comércio não para de crescer.

A segunda refere-se as chances de continuada ascensão da China. Teme-se não apenas a real saúde da economia chinesa (em que tantos comentaristas no Ocidente continuam a enxergar “maquiagem” de estatísticas), mas também possíveis distrações geopolíticas.

Delas são exemplo as disputas marítimas que Pequim trava com vizinhos. Além é claro de quanto a China permaneceria disposta a continuar financiando os gigantescos projetos de infraestrutura na Eurásia e mesmo na África e América Latina —projetos que, em si, representam pontas-de-lança da “globalização chinesa”.

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A terceira consiste na delicada relação custo-benefício da tão propalada Quarta Revolução Industrial. Para ficar apenas numa das áreas dessa nova era intensiva em tecnologia, basta salientar que nos próximos anos os robôs serão muito mais responsáveis pela perda de postos de trabalho no Ocidente do que imigrantes oriundos de nações mais pobres.

“The Economist” trata desse fenômeno da robótica num relatório especial publicado em 2014 e instigantemente intitulado “Imigrantes do futuro”.

Nesse aspecto, talvez a plataforma política de Trump estaria mais bem servida se, em vez de pregar a construção de um muro na fronteira sul dos EUA para inviabilizar a entrada de imigrantes mexicanos, erguesse barreiras em torno das empresas de alta tecnologia sediadas no Vale do Silício.

Assim, se integração econômica profunda, soberania nacional e democracia constituem uma conflituosa fórmula para a globalização, a equação no caminho adiante fica ainda mais complexa.

O trilema da reglobalização ampara-se no equilíbrio delicado envolvendo o futuro da liderança norte-americana no comércio, a direção que a China buscará conferir a sua ascensão e que tipo de disrupção, não apenas econômica, mas também social, as novas tecnologias implicarão para o mundo.

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