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Por Coluna
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Lula fingirá redigir carta ao povo, mas só a endereçará aos bobos

Alguns poucos empresários refestelaram-se com linhas de crédito privilegiadas oferecidas por bancos oficiais para promover empresas "campeãs nacionais"

Por Marcos Troyjo
Atualizado em 30 jul 2020, 20h35 - Publicado em 27 jan 2018, 23h44

Marcos Troyjo

O objetivo desta coluna é perguntar se você é um bobo brasileiro. Antes, porém, veja se já leu ou ouviu estas palavras em algum lugar:

“O Brasil quer mudar. Mudar para crescer, incluir, pacificar. Mudar para conquistar o desenvolvimento econômico que hoje não temos e a justiça social que tanto almejamos. Há em nosso país uma poderosa vontade popular de encerrar o atual ciclo econômico e político”.

Tais frases resumem muito do que estamos sentindo agora, não é mesmo?

Bem, estes são os períodos iniciais da famosa “Carta ao povo brasileiro”, lida pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva em 22 de junho de 2002.

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Pouco adiante, a “Carta” enfatiza: “Nosso povo constata com pesar e indignação que a economia não cresceu e está muito mais vulnerável, a soberania do país ficou em grande parte comprometida, a corrupção continua alta e, principalmente, a crise social e a insegurança tornaram-se assustadoras”.

Era o tempo do risco-país a 2.500 pontos, num Brasil, segundo o outrora mítico Alan Greenspan, sobre o qual pairava “um problema 100% político”.

Com a “Carta”, Lula e PT ganharam crédito da comunidade financeira internacional, do empresariado nacional, da opinião pública. Durante boa parte de seu período no Planalto, Lula terceirizou parcela importante da gestão macroeconômica, ainda que com presença não meramente nominal do companheiro Antonio Palocci.

Em sua missiva de 2002, Lula apontava “o caminho da reforma tributária, que desonere a produção”. Indicava ainda a importância da “reforma previdenciária, da reforma trabalhista”. Defendia a “redução de nossa vulnerabilidade externa”.

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Nenhuma das aspas acima é inventada. Todas reproduzem ipsis litteris, os termos da “Carta”.

Lula e seu partido prometiam aderir aos princípios de responsabilidade fiscal e metas de inflação. Contratos seriam honrados; as dívidas do país, pagas. Uma nova política industrial baseada no sacrossanto conceito de “conteúdo local” surgiria.

Muitas das medidas econômicas e sociais implementadas por Lula e Dilma, na contramão do que pregava a “Carta”, pareciam dar resultado. O Brasil beneficiou-se com o ‘boom’ mundial de commodities. Alguns poucos empresários refestelaram-se com linhas de crédito privilegiadas oferecidas por bancos oficiais para promover empresas “campeãs nacionais”.

Fluxos de investimento estrangeiro direto (IED) transcorreram intensamente — nem sempre pelas melhores razões — para estabelecer produção local e, assim, tirar proveito de um mercado interno superprotegido. Incentivos fiscais para fabricantes de automóveis ou eletrodomésticos hipertrofiaram-se.

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Diante desse quadro, as reformas estruturais foram esquecidas ao longo do caminho. O modelo econômico adotado por Lula-Dilma foi crescentemente se distanciando da “Carta”.

Privilegiar consumo em vez de investimentos, políticas setoriais em vez de horizontais, e mercado interno em vez de comércio global não produziu mil maravilhas. O “nacional-desenvolvimentismo” manteve o país intocado na armadilha da renda média.

Ler a “Carta” de 2002 e compará-la aos resultados de 13 anos do PT na Presidência ou à atual pregação do partido é chocante.

As reformas estruturais, à época concebidas como imprescindíveis, hoje são combatidas pelo PT como parte de uma agenda golpista.

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A “Carta” defendia crescimento, mas em 2015, último ano inteiro do PT no poder, a fatia que o PIB brasileiro ocupava da economia mundial mantinha-se igual à de 2002: apenas cerca de 2,9%.

Quanto a “vulnerabilidade externa”, o legado da prática petista é uma indústria brasileira mais acanhada, pouco competitiva e, destaque-se, mais desnacionalizada.

O baixo crescimento e instabilidade macroeconômica resultantes das administrações petistas favoreceram um dramático processo de fusões & aquisições por parte de conglomerados estrangeiros que se servem do pequeno valor comparativo dos ativos empresariais brasileiros.

No âmbito dos investimentos, o PT também deixou o Brasil mais “neodependente”. O Brasil carece de liquidez de curto prazo para a melhoria da situação fiscal bem como de IEDs.

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As administrações Lula-Dilma nada fizeram para apreciar nossa parca capacidade endógena de poupar e investir —baixa ainda se comparada à de outras nações em desenvolvimento.

Um país marcadamente mais dependente do mundo, ao contrário do imaginado projeto “soberano” de expansão econômica e inserção global, é o que nos foi entregue.

E o que dizer do nível e sistematização da corrupção, que há 16 anos a “Carta” pudicamente enxergava como “alta”? Ou ainda da “crise social” e da “insegurança”, que o PT então classificava como “assustadoras.”

Rousseau dizia que Maquiavel, fingindo dar lições aos Príncipes, dava grandes lições ao povo. Lula, em 2002, fingindo comunicar-se com o povo, falava em verdade ao mercado —os “yuppies, meninos” de então.

Nos próximos dias, Lula fingirá redigir uma carta ao povo. Mas, em verdade, só a endereçará aos bobos.

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