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Por Coluna
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José Mario Pereira: “Cresci lendo livros em papel, e continuo fiel a isso”

O dono da Topbooks comenta a crise das redes Cultura e Saraiva e está otimista: "As pessoas estão lendo mais, e vão aonde há novidades e preços razoáveis”

Por José Nêumanne
Atualizado em 30 jul 2020, 20h07 - Publicado em 2 dez 2018, 15h33

José Nêumanne (publicado no Blog do Nêumanne)

“Se examinarmos a História do Brasil no século 20, encontraremos inúmeros momentos de crise ética, política e econômica, e analistas ora  pessimistas, ora esperançosos quanto ao futuro. Nos últimos anos o País deparou com uma crise ética e moral sem precedentes, cujas consequências ainda não podemos avaliar em toda a sua dimensão porque continuamos a ser surpreendidos, quase diariamente, por revelações escabrosas. Mas penso que a democracia brasileira sairá fortalecida desse processo e que os intelectuais e artistas podem desempenhar papel relevante como formuladores de ideias e alternativas para a crise que atravessamos.” É isso que pensa José Mario Pereira. Dono da Topbooks, cujo terceiro lançamento foi seu maior sucesso de público e crítica, A Lanterna na Popa, livro de memórias de Roberto Campos, que volta à moda com a escolha da equipe econômica do presidente eleito, Jair Bolsonaro, a cargo de Paulo Guedes, ousa agora fazer um aposta arriscada. O último título lançado por sua editora é A Alma do Tempo, da lavra de um dos políticos mais importantes da História de nossa República, o mineiro Afonso Arinos de Mello Franco, com 1.780 páginas. E o faz neste momento complicado do mercado editorial, agravado pelo pedido de recuperação judicial de duas grandes redes livreiras, a Cultura e a Saraiva, com dívidas milionárias, e em meio à crise ética, econômica, financeira e política em que o País está imerso. Mas nada disso o abala. “Temos excelentes livrarias, algumas maiores, outras menores, com ótima clientela e bem administradas. Talvez seja o caso de incentivar a criação de livrarias de bairro, pequenas, mas com bom estoque, com livreiros que conheçam e gostem de livro. Frequento muito os sebos, alguns vendem livros novos também, e seus donos não reclamam de crise. As pessoas estão lendo mais, e vão aonde há novidades e preços razoáveis”, disse, justificando sua iniciativa.

Natural de Quixadá, Ceará, José Mario Pereira fundou a Topbooks em abril de 1990. Publicou, entre vários nomes importantes, Franklin de Oliveira, Otto Maria Carpeaux, José Paulo Paes, Luiz Costa Lima, Evaldo Cabral de Mello, Mary Del Priore, Maria José de Queiroz, Roberto Campos, Afonso Arinos de Melo Franco, Olavo de Carvalho, Bruno Tolentino, Wilson Martins, Miguel Reale, Roberto Marinho, Nélida Piñon, Lêdo Ivo, Ivan Junqueira, Delfim Netto e José Neumanne Pinto. Também devolveu às estantes do País a obra de Manuel Bomfim e títulos há muito esgotados de Joaquim Nabuco, José Veríssimo, Oliveira Lima e Gilberto Freyre. No plano internacional, lançou livros fundamentais, como  a Areopagítica, de John Milton, os Panfletos Satíricos, de Swift, a Lírica, de Dante, Jerusalém Libertada, de Torquato Tasso, as Memórias de George Kennan, os Ensaios de David Hume e a obra completa de Rimbaud, traduzida por Ivo Barroso. O grande sucesso da Topbooks, que a tornou nacionalmente conhecida, é sem dúvida A Lanterna na Popa, livro de memórias de Roberto Campos, lançado em setembro de 1994. O volume de 1.417 páginas rapidamente virou best-seller e alcançou a marca de 100 mil exemplares vendidos. Em 2002, Zé Mario – como é conhecido – foi convidado pelo Liberty Fund, de Indianápolis, nos Estados Unidos, para editar as traduções de dez livros do catálogo dessa prestigiosa fundação americana. Os primeiros títulos da coleção Liberty Classics começaram a chegar ao mercado brasileiro em novembro de 2003; um segundo programa, de mais dez títulos, foi aprovado em 2005, e já são 19 os livros editados. Como autor, Zé Mario escreveu José Olympio – O Editor e sua Casa, duplamente premiado: ganhou o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, e o Senador José Ermírio de Moraes, dado pela Votorantim, em parceria com a Academia Brasileira de Letras. Dono de imensa biblioteca, o editor da Topbooks é colaborador frequente de jornais e revistas literárias.

Qual seria, a seu ver, a principal causa da atual penúria por que passam as editoras de livros no Brasil: a crise econômica e financeira, que depaupera o País, ou a mudança no  hábito de leitura do livro em brochura pelo e-book, que ajudou a solidificar a de Jeff Bezos, o dono da Amazon?

A situação aflitiva em que se encontram hoje as editoras brasileiras, especialmente as grandes, deve ser creditada às redes Cultura e Saraiva, que entraram na Justiça com pedido de recuperação judicial após consolidarem dívidas enormes. Segundo o Sindicato Nacional dos Editores (Snel), as duas, juntas, devem R$ 325 milhões às editoras. Mas li há pouco que a dívida total da Saraiva, que anunciou o fechamento de 20 lojas, é superior aos R$ 600 milhões. Como pretendem quitar uma dívida tão alta reduzindo os pontos de venda? A inadimplência da Livraria Cultura com as editoras, pelo que apurei, supera os R$ 200 milhões. Essas duas redes exigiam entre 50% e 60% de desconto das editoras, prazos de pagamento de 90 dias e fretes pagos. Isso me faz desconfiar que estamos sendo vítimas de administrações levianas, para não dizer irresponsáveis.

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Eu vejo muita gente falando mal da Amazon, mas preciso destacar que ela compra livros e não me consta que atrase muito os pagamentos. Em relação ao e-book: ele surgiu junto com a ideia alarmista de que o livro em papel tinha os dias contados. Isso não aconteceu, nem o consumo de e-book atingiu um volume capaz de pôr em xeque a existência do livro tradicional.

 

Além de editor de livros impressos e e-books, o senhor é também um leitor voraz. Qual o produto que mais o atrai como consumidor: o de tinta sobre papel em brochura ou o dos dígitos eletrônicos?

Eu cresci lendo livros em papel, e continuo fiel a isso. Assim que surgiu o kindle ganhei um de presente e tentei usá-lo. Mas logo notei que apreendo melhor o conteúdo tendo em mãos o livro de papel, e então o larguei. Reconheço, contudo, que ele é excelente em viagens e também ideal, por questões de espaço, para armazenar enciclopédias e obras de referência.

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Como rato de livraria confesso, que frequentou as lojas mais históricas e tradicionais do Rio desde que chegou à cidade, como a célebre José Olympio, e agora cliente das filiais das grandes redes, o que tem a observar sobre o negócio livreiro, que, neste momento, sente o impacto terrível da quebradeira de grandes empresas como Fnac, Cultura, etc.?

O ocaso das empresas que menciona sinaliza a necessidade, por parte do mercado editorial, de se pensarem formas alternativas de distribuição. Não podemos ficar mais a reboque de livrarias que exigem muito e quando entram em agonia levam junto o mercado editorial. Quem sabe um regime de cooperativa, em que os editores se juntassem para administrar diretamente a venda de seus livros? Creio também que o investimento em mídia digital, com a criação de sites de conteúdo capaz de atrair leitores e compradores, pode ajudar muito na estabilização da saúde financeira das editoras.

Clique aqui para ler a entrevista na íntegra

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