Imagens em Movimento: A São Paulo que São Paulo esconde
SYLVIO DO AMARAL ROCHA No começo, a cor predominante é o cinza. No segundo momento, os carros parecem muito mais numerosos que os seres humanos. No terceiro, a velocidade toma conta dos corpos, das almas, dos olhares e o céu quase desaparece. O encantamento só acontece quando se percebe os detalhes. São os gestos, as […]
SYLVIO DO AMARAL ROCHA
No começo, a cor predominante é o cinza. No segundo momento, os carros parecem muito mais numerosos que os seres humanos. No terceiro, a velocidade toma conta dos corpos, das almas, dos olhares e o céu quase desaparece. O encantamento só acontece quando se percebe os detalhes. São os gestos, as portas escondidas, uma pequena rua, a história esquecida de uma esquina ou o riacho que resistiu à urbanização que escondem as verdadeiras preciosidades da metrópole. Quando observada de perto e por aqueles que aprenderam a amá-la, São Paulo se transforma. A cidade abre os braços para todos, sem distinção, e esbanja a mesma generosidade dos tempos da fundação, quando até o peixe não precisava nem ser pescado – era dado pelo rio Tamanduateí.
Um desses “lugares encantados” é a fábrica de ladrilhos hidráulicos Ladrilar, no Bom Retiro, fundada pelo italiano Frederico Dalla Piagge em 1922, oito anos depois de desembarcar no Porto de Santos. “Em vez de roupas, ele trouxe uma mala com moldes de ladrilho”, diz Hamilton Cirstófalo, que integra a quarta geração de ladrilheiros.
Luz e Poeira, dirigido por Rogério Corrêa e produzido pela Leão Filmes, conta um pouco do universo da Ladrilar. Finalizado em 2010, o curta-metragem foi um dos filmes selecionados pelo edital do programa municipal de fomento ao cinema da Secretaria de Cultura e do Escritório de Cinema de São Paulo, o ECINE, que tinha como tema profissões em extinção.
O curta tem a direção de fotografia de Lucas Barreto, que conseguiu tornar o filme tão precioso quanto a fábrica retratada. Produzir ladrilhos se assemelha muito ao fazer do cinema não comercial. São artesãos que, pacientemente, moldam suas matérias-primas e, de peça em peça, de movimento em movimento, produzem suas iguarias. Conseguir contar uma história com tanta informação e com tamanha plasticidade em apenas dois minutos não é para qualquer um. A trilha sonora é assinada por Vicente Falek. Aproveitem.
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