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Fernão Lara Mesquita: Vade retro, novidade!

Só a tomada do poder pela força irresistível da maioria pode fechar as portas do privilégio

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h39 - Publicado em 5 dez 2017, 22h41

Publicado no Vespeiro

Deus nos livre dela! A “novidade” em matéria de política e administração pública resulta no que o Brasil se tornou. A revolução, a salvação da pátria está em fazê-la visitar, pela primeira vez na vida, o velho, o certo, o sabido, o testado, o consagrado. A boa e velha democracia, de que nós nunca sentimos nem o cheiro, por exemplo.

A colonização apoiada exclusivamente no “latifúndio escravocrata exportador”, a definição em cima da qual se estruturou tudo o que se pensou sobre o País no último século, é uma redução grosseira e distorcida de uma realidade muito mais rica, complexa e matizada, que tem origem num movimento reacionário deliberadamente arquitetado para nos colocar à margem do curso geral da História no exato momento em que “o sonho” começou a desmoronar lá atrás.

Comprada e cristalizada pelo marxismo de almanaque dos intelectuais do século 20 que ainda controlam nossas escolas, foi imposta a várias gerações de brasileiros como uma “verdade” intocável. Banido da narrativa oficial, o Brasil real, que se construiu a si mesmo escondido do Estado, passou quase cem anos tomando remédios pesados para uma doença que nunca teve. Foi uma criança normal tratada como excepcional. E acabou por se convencer tão profundamente de sua excepcionalidade, por acreditar tão completamente que tudo o que serve e funciona para todos os outros povos do mundo não serve nem funciona para “o povinho que Deus pôs neste paraíso” que agora, mesmo batendo de frente no muro onde termina o beco sem saída em que isso nos meteu, não consegue produzir um único candidato com um discurso consistente de mudança.

É uma contradição chocante, dada a condição de overdose de Brasília em que vamos. O Brasil não pode nem sentir-lhe o cheiro. Mas o sistema de comunicação da sociedade deixou de funcionar. O privilégio tornou Brasília surda. O Brasil oficial é um território de mortos-vivos orbitando em torno do Estado faz-tudo em decomposição; uma ressurgência jurássica do que houve de pior no século 20. Só a força, sem o sonho, sustenta aquilo. Não há qualquer argumento ou utopia. Navega-se para o desastre certo à força de votações contrarrepresentativas e liminares capengas. Morde ainda quem consegue antes que lhe caiam os dentes podres.

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Mas aqui fora a conversa também só flui dentro de compartimentos estanques. É crença contra crença, sem lugar para a informação. Estamos perdidos numa absoluta ausência de referências de sucesso porque nossas escolas só estudam aquilo que fracassou. A verdade está há tanto tempo interditada nelas que o Brasil dos sobreviventes, o da classe média meritocrática com sua obra e sua autoestima reduzidas a pó, também não consegue focar no futuro. Formados na censura, os que se querem engajados “na mudança” aqui fora também não conseguem olhar senão para o passado. Para as culpas das pessoas que o sistema fabricou, e não para as culpas do próprio sistema. Querem mudá-lo de mãos com os instrumentos da polícia, e não mudar-lhe o sentido com os instrumentos da política. Cada brasileiro, individualmente, põe-se fora da realidade que critica e balbucia chavões sobre uma “ética” que não pratica. O País inteiro fala vagamente de “mudanças”, mas não sabe definir quais nem exatamente para quê. E essa falta geral de repertório nos empurra para mais do mesmo ou para o arbítrio com sinal invertido, pois, se tudo está certo com o sistema, só podem ser as pessoas que o operam neste momento que estão erradas.

“Comigo vai funcionar”!

“Concursismo” e revolução são, os dois, instrumentos de minorias. O Brasil que os sustenta permanece excluído. A História oferece mais alternativas do que isso. Só a tomada do poder pela força irresistível da maioria, de que tivemos um ensaio absolutamente convincente no curto período em que a maré das manifestações de rua esteve montante, pode fechar para sempre as portas do privilégio.

Mas sem ilusões, por favor!

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Também nesse departamento é o meio que é a mensagem. Não existe outra humanidade. É o interesse que nos move. A resposta está, portanto, em armar a mão da maioria para que ela, em lugar da minoria, sujeite “o sistema” ao seu interesse, mas tomando o cuidado de fragmentar esse poder de tal forma que essa sujeição não se transforme em outra tirania.

Democracia, enfim…

O voto distrital puro com recall, referendo e leis de iniciativa popular num contexto realmente federalista, esse é o estado mais avançado a que a elevou a sofridíssima epopeia da humanidade para criar um poder capaz de cercear O Poder sem se transformar no veneno para o qual pretendia ser o antídoto. Essas ferramentas, usadas em conjunto, dão plenos poderes a sua majestade o eleitor, o outro nome da maioria, no pedacinho do País onde ele mora – o bairro, o distrito – e permitem que ele os exerça de forma prática, legítima e pouco traumática para o conjunto da Nação e para as outras liberdades essenciais. Uma vez conquistado, ele não apenas põe o País imediatamente sob nova direção, como torna essa mudança irreversível. Ao colocar o povo em condições de mandar e os políticos e funcionários públicos na obrigação de obedecer para sobreviver, essa reforma abre as portas a todas as outras, e as mantém para sempre escancaradas, como é adequado que elas permaneçam para bem servir a uma espécie que só aprende com o erro numa realidade hipercambiante.

Não é preciso inventar nada. Está tudo ao alcance da mão. Basta uma pontinha de humildade asiática para ter. Esse consagrado aplicativo de arrumar países vem com o mais infalível dos “tutoriais” de uso. Instalado primeiro na instância municipal, oferece a sociedades inteiramente jejunas a oportunidade de aprender passo a passo a praticar democracia e ir se ajustando a ela na exata velocidade que sentir que aguenta. É o primeiro conjunto que efetivamente funciona exatamente porque é o primeiro que tem a humildade de imitar a vida, em vez de pretender reinventá-la.

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