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A Lava Jato e o transtorno bipolar do New York Times

Mesmo as mais veneráveis instituições do jornalismo internacional podem ter seus dias de transtorno bipolar

Por Marcos Troyjo
Atualizado em 30 jul 2020, 20h29 - Publicado em 21 abr 2018, 23h46

Marcos Troyjo

O sociólogo francês Pierre Bourdieu, citado por Edmund White em O Flâneur ─ Um Passeio pelos Paradoxos de Paris, indica que “a opinião dos estrangeiros é um pouco como o julgamento da posteridade”.

A ideia aqui é que apenas o distanciamento ─ marca de quem observa o desenrolar dos fatos de um mirante longínquo ─ possibilita uma perspectiva realmente objetiva.

Aos participantes de uma mesma trama nacional, tal intervalo espacial não existe, e, portanto, apenas o tempo pode contribuir para delineamentos históricos mais apurados.

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Essa suposta avaliação objetiva e a dimensão global de um veículo jornalístico em língua inglesa de grande tradição projetam o enorme alcance do jornal The New York Times.

Tais atributos apenas aumentam a responsabilidade da direção do jornal, sobretudo no momento em que expressam a posição da casa por meio de editoriais.

Se esse é o caso, então os milhões de leitores do diário nova-iorquino foram brindados na última quinta-feira (12) com uma desagradável constatação.

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Num editorial intitulado Lula está preso, e a democracia do Brasil, em perigo”, o NYT oferece exemplo marcante do que uma opinião de jornal não deve ser: contraditória, superficial, confusa.

O texto, claro, trata da ascensão e da queda do ex-presidente Lula, faz alguns elogios à Operação Lava Jato e ao juiz Sergio Moro e busca examinar o caminho do Brasil até as eleições presidenciais de outubro.

Nessa avaliação, o editorial do NYT comete uma série de equívocos imperdoáveis. Alguns exageram o quão sensível é o quadro político-institucional brasileiro e confundem causa e efeito das atribulações por que atravessa o país.

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É certo que as falas do ministro do Supremo Tribunal Federal Luis, Roberto Barroso, e de Moro, em seminário na Escola de Direito de Harvard na última segunda (16) ─ ambos ressaltando a pujança da democracia no Brasil ─, tiveram como pano de fundo esse editorial do NYT.

Não é para menos. O título já é redondamente errado. Ele permite supor uma conexão imediata entre Lula atrás das grades e riscos à democracia brasileira. Ora, é bem o inverso. Com a prisão de poderosos, a democracia sai fortalecida.

Logo no primeiro parágrafo, o editorial declara que “quando uma onda anticorrupção varre o político mais popular do país, a justiça é servida, mas a democracia é testada”. Talvez seja o oposto. Dado o longo histórico de morosidade e manobras protelatórias das instâncias jurídicas no Brasil, é no julgamento e na prisão de poderosos culpados que a Justiça é testada, e a democracia, servida.

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Num período adiante, a opinião do New York Times estabelece que a Lava Jato “desferiu um duro golpe na corrupção, mas também desestabilizou o sistema político brasileiro e ajudou a empurrar o país à recessão e deixou milhares de desempregados”.

Bem, chacoalhar o sistema político no Brasil, tradicionalmente alimentado por favoritismo, clientelismo e compadrio, é um movimento que deve ser saudado ─ na medida em que fortalece as instituições e o mérito, e consolida o Estado de Direito.

Além disso, atribuir à Lava Jato coautoria na dramática recessão e elevado desemprego a que o país foi arremessado representa uma tremenda confusão entre doença e cura, origem e consequência. Não foi a Operação que contribuiu para levar o Brasil à pior recessão de sua história, mas muitos dos males que ela combate. O editorial também aponta, deve-se notar, várias observações corretas, como “o Congresso brasileiro, por si só, não apoia a luta anticorrupção”.

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Ou ainda: “o Brasil de fato dispõe das instituições e meios para enfrentar até os mais poderosos ─ e populares ─ malfeitores”.

Numa outra passagem, porém, o NYT outra vez se presta à confusão. O editorial sugere: “em que pese todo o sucesso da Lava Jato, nada foi feito para consertar o sistema jurídico. O perigo de uma guinada ao populismo e à radicalização política é óbvio”.

Nesse aspecto, é claro que uma reforma do Judiciário seria bem-vinda. Aqui, contudo, o NYT parece endossar a exótica tese de que um dos efeitos colaterais da Lava Jato é conduzir o país a um maior risco do populismo e intolerância política. Ora, não é justamente o contrário?

Conclusão: mesmo as mais veneráveis instituições do jornalismo internacional podem ter seus dias de transtorno bipolar.

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