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Por Filipe Vilicic
Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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O Facebook te deixa solitário?

Foi o que apontou um novo estudo americano, alardeado pelas redes. Porém, essa conclusão não é a correta – na verdade, é quase o aposto disso. Entenda

Por Filipe Vilicic Atualizado em 30 jul 2020, 21h00 - Publicado em 7 mar 2017, 18h30

“Compartilho, logo existo”, é a nova máxima do século XXI, versão, digamos, conectada do clássico “Penso, logo existo”, de René Descartes. A frase foi apresentada, em 2011, pela socióloga e psicóloga Sherry Turkle, professora do MIT, nos EUA. Ela é fundadora do grupo de estudos Initiative on Technology and Self (Iniciativa em Tecnologia e Si) e autora de um ótimo livro sobre como a internet estaria deixando as pessoas mais solitárias, o Alone Together (Sozinhos Juntos). E, em entrevistas que fiz com ela e também por um workshop apresentado por Sherry e do qual participei, é notável como a professora é hábil em analisar e filosofar sobre as inovações do século XXI. Agora, um novo estudo, apresentado por psicólogos da Universidade de Pittsburgh (EUA) no periódico American Journal of Preventive Medicine, sugere, em números, que a web e, em especial, as redes sociais acabariam, mesmo, por isolar as pessoas. Será isso mesmo? Duvide.

Sim, os cientistas chegaram a tal conclusão analisando o comportamento de uma penca de gente: 1 787 pessoas, todas cadastradas em redes sociais como Facebook, Twitter, Instagram e Snapchat. O “porém” é como foi feita a pesquisa e a forma como se chegou ao resultado “assustador”. Ao se perguntar aos entrevistados o quanto eles se sentiam sozinhos, os pesquisadores notaram que aqueles que acessam esses sites e apps mais de 58 vezes por semana são três vezes mais propícios a se identificar como solitários. Trata-se, contudo, de uma análise precipitada dizer que eles se julgam como isolados por usarem as redes em demasia.

Lembro que, em minha adolescência, o culpado pela “solidão” de jovens era o videogame. Achava-se que jogar levava ao isolamento. Entretanto, de uns tempos para cá estudos nos conduziram a uma reflexão distinta. Os videogames, na real, ajudariam a aproximar pessoas, antes sozinhas, a outras com gostos iguais e, assim, formariam grupos. Daí surgiriam, por exemplo, as famosas equipes de jogadores de Counter-Strike – colegas que usualmente eram distantes fisicamente, mas que se conectaram por meio da jogatina online. Quer outra tecnologia que já fora culpada pela solidão? A TV. Só que isso lá no passado. Depois que essa novidade não mais era novidade, mas um utensílio (bem) normal do dia a dia, um grupo de pesquisadores americanos publicou, em 2009, no Journal of Experimental Social Psychology, um artigo científico que apontava uma direção bem diferente: na real, a TV combate a solidão. Na tese, nomeada de “A Hipótese da Barriga de Aluguel Social”, concluiu-se, por meio de experimentos e de pesquisas de campo, que a solidão motivaria indivíduos a procurarem companhia na televisão. Quando passavam a assistir um programa de TV, os participantes relatavam que se sentiam menos solitários.

A “Hipótese da Barriga de Aluguel Social” pode ser aplicada a videogames. E a redes sociais. Não é difícil observá-la empiricamente. No caso dos games, sou um exemplo: quando adolescente, sentindo-se isolado na escola e na família, recorria aos jogos para melhorar o humor. No fim, achei também, em fóruns de discussão e em títulos de RPG online, companhia humana. O que me concedeu maior confiança, para tudo na vida. Em conversas que tive com gamers profissionais (ganham a vida com isso), como Kami e Henrytado (conhecidos assim no meio), craques de League of Legends, todos eram unânimes em dizer que procuraram o videogame numa época em que não encontravam amizades no colégio. No caso de youtubers famosos ou de celebridades “do Facebook”, a história se repete. Vários ouvidos por mim, como Julio Cocielo e Natalia Kreuser, relataram que passaram a fazer vídeos para a internet como uma válvula de escape para o sentimento de isolamento no mundo real. O hábito acabou por aproximá-los de novas pessoas, com interesses parecidos com os deles – isso muito antes de virarem famosos (e, em alguns casos, endinheirados) por suas páginas online.

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Então, minha aposta: diferentemente de como tem sido divulgado por aí, o novo estudo sobre redes sociais e solidão não indica como esses sites isolam os seres humanos. Mas, sim, como servem de reduto a muitos indivíduos, principalmente jovens, que já se sentiam antes sozinhos; e que, no ambiente virtual, têm a chance de encontrar companhias que compartilhem dos meus gostos que eles. Sherry Turkle, a ilustre estudiosa destacada no início deste post, também já concluiu algo parecido. Com um alarme: as novas tecnologias, para ela, poderiam tanto servir de escape aos solitários, quanto para deixá-los ainda mais sozinhos. Entretanto, mesmo com essa conclusão, a culpa não deveria ser jogada na internet, no Facebook ou nos games. Não seria o “meio” o problemático. Mas, sim, a forma como ele é utilizado.

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