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Por Filipe Vilicic
Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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O consolo feminino rejeitado pela indústria da tecnologia

Um inovador vibrador que opera de forma autônoma ganhou, mas depois perdeu, um prestigiado prêmio de robótica. Desconfia-se de puro machismo para o vaivém

Por Filipe Vilicic Atualizado em 26 jan 2019, 15h24 - Publicado em 26 jan 2019, 15h14

“Nós estamos fazendo algo que nunca foi feito antes – o primeiro aparelho autônomo, sem precisar usar as mãos, para o Santo Graal dos orgasmos (…) imita todas as sensações da boca humana, da língua, dos dedos, para uma experiência que se parece com a de um(a) parceiro(a) real. O produto até se ajusta à fisiologia corporal única de cada um para atingir todos os pontos precisos (…) Estamos falando de uma inovação robótica para valer”.

Assim Lora Haddock apresentou o Osé, o primeiro produto de sua empresa. Trata-se, como provavelmente já pode adivinhar, de um consolo feminino robótico. Para chegar a ele, foi necessário agrupar engenheiros (na maioria, engenheiras) com doutorado em inteligência artificial e um time de experts da prestigiadíssima Universidade Estadual de Oregon. O desafio não era pouco: criar um pequeno robô que conseguisse realizar o que boa parte dos humanos não consegue – proporcionar orgasmos para mulheres.

O empenho foi reconhecido. Lora e sua equipe ganharam um dos maiores prêmios comerciais de robótica dos EUA, concedido pela organização da feira de tecnologia CES – esta a maior do tipo em território estadunidense; e uma das maiores do mundo. E festejaram. Porém, por pouco tempo. Logo depois, para o espanto da equipe do Osé, os chefões da CES retiraram o troféu das mãos das engenheiras de Lora.

Assim começou uma das maiores polêmicas recentes da indústria da tecnologia, inovação e ciência. Tudo a partir da negação de um prêmio ao robô que faz mulheres chegarem ao êxtase.

A explicação da CES para cancelar a vitória seria a de que o vibrador é, pelo ponto de vista deles, “imoral, obsceno, indecente ou profano”. Então, esses caras são meio, digamos assim, carolas. Isso? Não. Nada disso. O buraco é mais embaixo. Até porque, a feira não só proibiu a entrega da premiação ao Osé. Também não deixou que a empresa expusesse o produto, antes tido como um vencedor, no evento.

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No ano passado, a mesma CES expôs uma boneca – com feições do que um adolescente de 14 anos deve imaginar ser uma mulher pelada – robótica dedicada aos prazeres masculinos. Todos os anos coloca à mostra experiências de realidade virtual com foco no público… adivinhe… masculino. O que não falta na feira, ano após ano, é uma penca de novidades sexuais para os homens. Algumas já receberam até prêmios na CES.

Só que foi a primeira vez que uma empresa inseriu na roda tecnológica uma inovação, e bem mais avançada do que as pensadas para desejos masculinos, com preocupações femininas. Só isso mudou. E com certeza o Osé não tem como ser tido como mais “imoral, obsceno, indecente ou profano”, por quem for, do que uma boneca prostituída, ou um programa de realidade virtual que permite que homens possam realizar fantasias sexuais com uma… colegial japonesa, menor de idade.

Então, por que proibiram na tradicional feira um avançado vibrador feminino? Esqueça as desculpinhas da organização da feira. Tudo se deve a outra tradição da indústria da tecnologia: o machismo.

Em um livro que escrevi sobre a história do Instagram, O Clique de 1 Bilhão de Dólares (Intrínseca), compilei uma série de dados fornecidos pelas empresas do Vale do Silício e que indicam que há poucas mulheres no meio. Não só isso, quanto mais se sobe de cargo, menos se encontram as representantes femininas. Do lado delas, as profissionais do ramo declaram se sentir reprimidas a subir nessa vida tecnológica. Não por acaso, muitos empreendedores e chefões do Vale do Silício, de gigantes como Facebook, Google, Uber e Snapchat, já foram diversas vezes acusados de assédio, de humilharem mulheres (e só elas) etc. Para mergulhar mais no raio X da situação, convido-o a ler o livro.

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Em uma carta pública, Lora Haddock culpou esse mesmo machismo pelo cancelamento do prêmio dado ao Osé. Escreveu ela: “A CES tem uma longa e documentada história de preconceitos, sexistas e misóginos (…) assim como a indústria de tecnologia como um todo. Da exclusão de empreendedoras e executivas à falta de produtos focados em mulheres”.

Frente à acusação de machismo, a organização da CES nada falou. Agora, e se não for sexismo, por que então teriam proibido a exibição do consolo feminino, sendo que sempre deram grandes destaques a aparelhos similares dedicados aos homens? Difícil achar uma outra resposta que convença.

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