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Miragem bilionária: megacidade sustentável da Arábia Saudita naufraga

Príncipe herdeiro Mohammad bin Salman enfrenta ceticismo de investidores

Por Ernesto Neves Atualizado em 12 abr 2024, 14h19 - Publicado em 11 abr 2024, 11h20

Lançada com estardalhaço pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, o MBS, em 2022, a metrópole sustentável The Line pode nunca sair do papel.

Segundo maior exportador de petróleo do planeta, o governo saudita prometia erguer uma utopia verde.

Composta por uma estrutura de aço e vidro, a cidade se estenderia por 170 quilômetros de comprimento e teria apenas 200 metros de largura, à beira de um paradisíaco Mar Vermelho.

Seus moradores teriam a possibilidade de percorrê-la sem precisar de carros ou estradas. E todas as emissões de carbono seriam neutralizadas, no que Salman prometeu ser “uma revolução civilizacional”. 

Até o final da década, ao menos 1,5 milhão de residentes poderiam desfrutar de “formas alternativas de viver”, dispondo de todo tipo de serviços, lazer e oportunidades de emprego num curto raio de extensão.

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Mas o projeto vem sofrendo com o ceticismo de investidores, que não creem na sua viabilidade.

Nas últimas semanas, o governo passou a reduzir drasticamente as projeções sobre o tamanho do The Line.

A nova versão mostra que no máximo 300.000 pessoas poderão viver no local. E que a cidade deverá ter apenas 2,4 quilômetros até 2030.

Visão do projeto The Line: invenção futurista sofre reduções drásticas
Visão do projeto The Line: invenção futurista sofre reduções drásticas (reprodução/Reprodução)

O golpe nos planos grandiosos de MBS mostram as dificuldades do governo em atrair investimentos estrangeiros.

“Os investidores estrangeiros não compraram a visão do príncipe herdeiro de que será possível erguer uma Arábia Saudita baseada em megaprojetos voltados para a economia verde”, afirma Torbjorn Soltvedt, analista da consultora de risco Maplecroft.

Em 2023, o The Line recebeu investimentos de 1 bilhão de dólares, ou 1% do PIB nacional. Mas a previsão inicial é que seriam gastos 100 bilhões de dólares anualmente até 2030.

O The Line integra um projeto ainda maior, o Neom, uma série de complexos futuristas com mais de 26.000 quilômetros quadrados que está sendo construído na costa do Mar Vermelho.

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Esse frenesi econômico faz parte da chamada Visão 2030, ideia de Salman para diversificar a economia saudita, que hoje depende completamente do petróleo.

De acordo com o Fundo Monetário Internacional, 75% das receitas da Arábia Saudita têm como origem as exportações de petróleo, o que deixa o país extremamente vulnerável às flutuações no preço da commodity.

O problema é que a Visão 2030 impulsionou os gastos do governo, fragilizando a política fiscal.

Para bancar os investimentos, o país passou a se endividar e hoje experimenta um raro déficit orçamentário. A aceleração dos gastos desnudou a fragilidade dos sauditas.

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Para manter o atual ritmo de investimentos, afirmam especialistas, é preciso que o preço do petróleo permaneça em ao menos 93 dólares o barril. E, atualmente, ele se encontra em 91 dólares.

Desde que ascendeu ao poder, em 2016, Salman tenta projetar a imagem de um governante reformista.

Entre as medidas tomadas por ele está a maior liberdade às mulheres, que agora podem dirigir sozinhas ou viajar para países estrangeiros.

Mas a promoção da suposta abertura política esbarra num histórico de violações de direitos humanos, um problema que afasta investidores.

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Em 2018, MBS se envolveu no assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, na Turquia.

Outra grave questão são os ataques diários de drones e mísseis dos rebeldes houthis, do vizinho Iêmen.

Embora um acordo com o Irã, que apoia as milícias, tenha acalmado a situação, a guerra entre Israel e o Hamas voltou a escalar a violência no Golfo Pérsico.

Assim, é improvável que estrangeiros queiram viver na megaestrutura de vidro imaginada por Salman, vigiados pelo aparato de segurança da ditadura local e cercados por conflitos regionais.

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Canteiro de obra do The Line: ilusão no deserto
Canteiro de obra do The Line: ilusão no deserto (divulgação/Divulgação)
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