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Maduro usa agenda verde para esconder um dos piores desastres do planeta

Lago de Maracaibo, o maior da América do Sul, foi sufocado por décadas de derramamentos de petróleo e está coberto por uma camada altamente tóxica de algas

Por Ernesto Neves 28 ago 2023, 09h00
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  • Isolado internacionalmente, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, iniciou uma ofensiva de imagem para convencer governos estrangeiros de que o país está atento às questões ambientais.

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    Na última semana, Maduro anunciou que vai despoluir o Lago de Maracaibo, um símbolo nacional, que possui 13.200 quilômetros quadrados e é o maior da América do Sul.

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    Localizado a 600 quilômetros da capital, Caracas, o Lago de Maracaibo e a cidade de mesmo nome são o epicentro da atividade petrolífera da Venezuela há mais de 100 anos.

    O setor representa um terço do PIB nacional, 80% das receitas de exportação e mais da metade do financiamento da máquina pública.

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    Pescadores percorrem o Lago de Maracaibo próximo à cidade de Cabimas, no interior da Venezuela
    Pescadores percorrem o Lago de Maracaibo próximo à cidade de Cabimas, no interior da Venezuela (Getty/Getty Images)

    Em parceria com o governador do estado de Zulia, onde se encontra o Maracaibo, Maduro afirmou que vai recuperar toda a bacia hidrográfica da região.

    “Recebi as denúncias sobre a questão dos vazamentos de petróleo no Lago de Maracaibo. Encomendei um estudo técnico-científico e elaborei um plano para a descontaminação e recuperação do lago”, disse o ditador. 

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    Os trabalhos de despoluição vão ser supervisionados pelos Ministérios de Ecossocialismo, Energia e Águas, em conjunto com o governo do Estado e prefeituras.

    Esse grupo terá seis meses para elaborar o que está sendo chamado de Plano de Resgate, Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Lago de Maracaibo.

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    Entidades ambientalistas, porém, duvidam da existência de um plano concreto de ações para o que classificam como um dos piores desastres ambientais do mundo na atualidade.

    Desde a ascensão do ex-presidente Hugo Chávez (1954-2013) ao poder, em 1999, a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) passou a sofrer os efeitos da ruinosa política populista, que destruiu a capacidade de investimentos da empresa.

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    Sufocada pela corrupção e o sucateamento, a PDVSA deixou de fazer manutenção nos milhares de quilômetros de cabos e dutos que percorrem o lago e são responsáveis por conectar as plataformas exploradoras aos tanques de armazenamento.

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    Pássaros cobertos de óleo: fauna e flora foram devastados
    Pássaros cobertos de óleo: fauna e flora foram devastados (Getty/Getty Images)

    Deteriorados, esses conectores passaram a sofrer com o vazamento ininterrupto do petróleo prospectado, transformando toda a região numa zona altamente tóxica.

    A questão é considerada como uma emergência nacional por especialistas.

    É comum ver peixes e pássaros completamente impregnados de óleo, assim como moradores locais, que seguem entrando na água em busca de alimentos.

    O fundo do lago também está tomado por metros de lodo tóxico, uma mistura mortífera que combina petróleo, esgoto e lixo.

    Além do óleo que vaza incessantemente, o Lago de Maracaibo recebe esgoto in natura das cidades de Zulia, Mérida and Trujillo, onde vivem 5,5 milhões de venezuelanos.

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    Além da ausência de saneamento básico, fertilizantes e produtos químicos também são despejados ali sem qualquer controle, o que desencadeia concentrações altíssimas de nitrogênio e fósforo em suas águas.

    Como resultado, houve uma proliferação de cianobactérias como a microcistina, que produz uma microalga esverdeada e tóxica que cobre quase toda a superfície do espelho d’água e pode ser vista até do espaço, fotografada por satélites da Nasa.

    As cianobactérias arruinaram populações de peixes que costumavam alimentar os ribeirinhos. Além disso, também são tóxicas aos seres humanos, podendo causar câncer no fígado.

    Águas envenenadas - lago está contaminado pela bactéria Microcystis, que produz uma alga altamente tóxica
    Águas envenenadas – lago está contaminado pela bactéria Microcystis, que produz uma alga altamente tóxica (Getty/Getty Images)

    Maduro também promete uma guinada na proteção à Amazônia.

    A selva tropical ocupa 37 milhões de hectares do país vizinho e se espalha por três estados – Amazônas, Bolívar e Amacuro, representando 6% do total da floresta.

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    Em 2022, ele anunciou que vai integrar uma aliança para a proteção da Bacia Amazônica, uma proposta que foi apresentada pelo líder da vizinha Colômbia, Gustavo Petro.

    Já ao participar da Cúpula da Amazônia, em agosto, em Belém, o governo venezuelano disse que está ampliando significativamente as operações militares no sul do país para reprimir o avanço do garimpo ilegal.

    O foco principal das operações, disse Caracas, será Parque Nacional Yapacana, próximo à fronteira colombiana.

    A região vem sendo devastado em velocidade sem precedentes. 

    De acordo com levantamento feito pela ONG SOS Orinoco, uma área equivalente a 3.200 campos de futebol está ocupada pela mineração irregular.

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    Isso representa um salto de 36% no desmatamento em comparação com 2019.

    E, de segundo a ONG SOS Orinoco, os resultados são catastróficos para a fauna, a flora e os povos originários que ali vivem. 

    Mas Maduro jamais se preocupou com a conservação da floresta tropical.

    Em 2016, a ditadura chavista lançou um projeto chamado Arco Mineiro do Orinoco, estimulando a extração de riquezas como diamante, ouro e cobre em áreas de preservação ambiental.

    Em 2021, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicou um estudo sobre os impactados causados pelo Arco Mineiro.

    Segundo os economistas da entidade, até 500.000 venezuelanos vivem da economia predatória, em regiões com alta degradação ambiental e violência desenfreada.

    Para piorar, a devastação vem se acelerando. Metade da destruição da selva ocorrida em administrações chavistas ocorreu nos últimos cinco anos.

    Acampamento de mineração ilegal de ouro na Amazônia venezuelana: crise multiplicou atividade predatória
    Acampamento de mineração ilegal de ouro na Amazônia venezuelana: crise multiplicou atividade predatória (Getty/Getty Images)
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