Baixo preço da energia solar representa desafio para metas ambientais
Relatório destaca os riscos do fenômeno da “deflação do valor solar”, que pode afastar os investidores
A energia solar é um dos melhores exemplos de como é possível produzir uma energia que seja limpa, barata e renovável. Usar o sol como fonte primária de geração de eletricidade é uma das formas mais eficazes de substituir economias baseadas em combustíveis fósseis por economias de baixo carbono, fator fundamental para amenizar os efeitos da crise climática e para atender aos compromissos estabelecidos no Acordo de Paris. Mas há um desafio.
A geração de energia solar é concentrada em períodos relativamente curtos do dia. Diferente de outros tipos de operações, as que ocorrem nas usinas solares não são facilmente reguladas, gerando eletricidade de acordo com a intensidade do sol. Logo, quando uma usina está em seu nível máximo de aproveitamento, também estão todas as outras que ficam próximas. Isso faz com que a produção de energia do tipo seja suscetível a um fenômeno conhecido como “deflação do valor solar”.
De acordo com uma análise do Breakthrough Institute, a Califórnia, estado norte-americano líder na produção de energia solar do mundo, já começa a se preocupar com essa questão — apesar de ainda se beneficiar de incentivos do governo. “À medida que mais geradores solares são instalados, o preço médio de atacado da eletricidade diminui nas horas próximas do meio-dia. Isso reduz o valor tanto da energia solar nova quanto da já existente, em comparação com outras fontes de eletricidade”, afirma o relatório.
O documento ainda destaca que, desde 2014, os preços médios de energia solar no atacado caíram 37% em comparação com os preços médios de eletricidade provinda de outras fontes, isto é, a energia solar vale cada vez menos.
O cumprimento das metas ambientais dos próximos anos depende fortemente da construção de mais usinas do tipo. Mas, apesar dos consumidores poderem se beneficiar com o baixo custo, o relatório do Breakthrough Institute reforça que a deflação pode ser um empecilho, já que investidores podem se sentir desestimulados com a falta de ganhos.
No Brasil, a energia solar representa 1,9% de toda a matriz elétrica nacional. Mas é cada vez mais comum observar o aparecimento de placas de captação. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), com dados da International Energy Agency Photovoltaic Power Systems Programme (IEA PVPS), os brasileiros ocupam o nono lugar no ranking dos países que mais produziram energia fotovoltaica em 2020, ficando atrás de nações como China, Estados Unidos, Vietnã, Japão e Alemanha (que ocupam as cinco primeiras posições). Em 2019, o Brasil estava em décimo segundo.
Por aqui, a deflação do valor solar parece distante. Mas, de acordo com o relatório do Breakthrough Institute, o que acontece na Califórnia pode servir de alerta para o que pode acontecer no resto do mundo, conforme a demanda por energia limpa e renovável aumenta e a energia solar ganha relevância.