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#33 O AMOR: O que vale a pena

Com menos influência religiosa, aumento dos divórcios e as conquistas feministas e do movimento gay, os casamentos se pautam, cada vez mais, pelo afeto

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 set 2018, 07h00 - Publicado em 21 set 2018, 07h00
JUNTO E MISTURADO - Barack Obama com seus meios-irmãos e a madrasta numa visita a Nairóbi, em 1988: núcleo estendido (Landov/.)

A palavra vem do latim, carrega consigo o peso de representar o núcleo da sociedade, mas tem hoje um significado que a distancia sobremaneira do termo que a originou. Etimologicamente, “família” descende — com o perdão do verbo — de famulus, que designava a mão de obra escrava doméstica. Foi durante a vigência do Império Romano que o vocábulo se modificou para passar a se referir a qualquer grupo de pessoas relacionadas a partir de um ancestral comum — ou por meio do matrimônio. Só então o conceito de vínculo sanguíneo foi associado a “família”. Não era ainda uma associação necessariamente pautada pelo afeto — o novo grupamento era regido em especial por motivos econômicos. A própria prática sexual era tabu. No entanto, como apenas por meio do sexo, evidentemente, os laços de sangue prosperariam, a ideia de família ancorou-se, durante um longo período da história, na biologia. Foi preciso que a modernidade chegasse para que o conceito se libertasse desse fator. Segundo o psicanalista francês Jacques Lacan, o mais fiel dos herdeiros do austríaco Sigmund Freud, família não é um fato biológico, e sim social. Se o laço puramente biológico é incontornável, o social é fluido e precisa ser construído. Assim, fluida é a família na atualidade. Provavelmente, a palavra nunca esteve tão divorciada — com o perdão do adjetivo — de sua matriz, que se vinculava à condição de escravo.

“Em decorrência de fatores religiosos, financeiros e jurídicos o casamento foi, durante séculos, algo imutável. Não importava se o casal era feliz ou se tinha perdido a afinidade”, observa a historiadora Mary Del Priore, autora do livro História do Amor no Brasil (2005). “Por herança dos portugueses, conservadores e católicos, entendia-se que apenas Deus poderia separar um casal”, frisa Adriano Ryba, ex-presidente da Associação Brasileira dos Advogados de Família. Os casamentos também se estendiam porque a lei impedia que fossem desfeitos.

Segundo o psicanalista francês Jacques Lacan, fiel herdeiro de Sigmund Freud, família não é um fato biológico, e sim social

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Com o advento do divórcio no Brasil, em 1977, a redução da influência religiosa e os avanços do feminismo e do movimento gay, a família tem abrigado, cada vez mais, múltiplos modelos. O conceito de estrutura nuclear, antes restrito aos pais e filhos, vem acompanhando essa mudança. O ex-presi­dente americano Barack Obama, com sua família estendida — que inclui meios­-irmãos e a madrasta, pai nascido no Quênia, mãe nos Estados Unidos —, é um bom exemplo.

“Ex-marido, ex-sogros e en­tea­dos se tornaram parentes. Há muitas crianças que crescem com dois pais, duas mães… Isso é natural e positivo”, diz Mary Del Priore. Um caso assim, semelhante ao de Obama e a de tantos outros, tem como protagonistas a cantora e atriz Jennifer Lopez e seu marido, o ex-jogador de beisebol Alex Rodriguez. Sem filhos em comum, eles sempre são vistos com as crianças que tiveram em relacionamentos anteriores e com os ex-companheiros. O casamento entre gays também vem se tornando mais frequente, depois da legalização. A mais recente novidade à frente das famílias contemporâneas é o casal de mais de duas pessoas, o chamado trisal, com todas as variações possíveis. No século XXI qualquer constituição de família — de amor — está valendo a pena, como na canção Paula e Bebeto, de Milton Nascimento e Caetano Veloso, um clássico popular dos últimos cinquenta anos.

Publicado em VEJA de 26 de setembro de 2018, edição nº 2601

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