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#27 AS RAÇAS: Origem única

Somos todos — negros, brancos — filhos de um mesmo ancestral. Mas a ciência propõe um novo desafio

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 set 2018, 07h00 - Publicado em 21 set 2018, 07h00
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  • MÃE ÁFRICA – Recriação do rosto de Lucy, descoberta em 1974 na Etiópia, com 3,2 milhões de anos: a origem da humanidade (Viktor Deak/Hmns/.)

    Em 24 de novembro de 1974, dois antropólogos americanos, Donald Johanson e Tom Gray, saíram a campo para uma busca de fósseis no sítio arqueológico Formação Hadar, na Etiópia. A certa altura, decidiram mudar de rota e, por acaso, toparam com ossos de um hominídeo. Os pesquisadores identificaram partes do seu crânio, fêmur, costelas, pélvis e mandíbula. Duas semanas depois, grupos de escavação acharam 40% do esqueleto, que viria a ser batizado como Lucy. O nome surgiu porque, na noite em que os cientistas comemoraram a descoberta, a música mais ouvida fora Lucy in the Sky with Diamonds, um clássico dos Beatles.

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    A celebração não era um exagero. Com 3,2 milhões de anos, Lucy fazia parte da espécie Australopithecus afarensis. Outro fóssil da mesma espécie, com 2,8 milhões de anos, já tinha sido achado em 1924, na África do Sul. Com essas descobertas, ficava evidente que a nossa origem estava na África, não na Ásia, como se supunha. Mais: como aquele era, até então, o mais antigo ancestral conhecido de todas as espécies de hominídeos — em 2001 seria encontrado um de 7 milhões de anos, no Chade —, estava confirmado que qualquer homem ou mulher provinha de uma mesma árvore genealógica, independentemente do local onde houvesse nascido ou de sua etnia.

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    Depois de Lucy, outros marcos científicos na frente antropológica se tornariam históricos, como a descoberta do ancestral do homem mais próximo do macaco, em 1992, e a reconstituição do rosto de Luzia, o fóssil humano mais antigo das Américas, em 1999. Em junho de 2000, quando foram apresentados os resultados preliminares do Projeto Genoma Humano — que compôs o sequenciamento completo do DNA da espécie —, um dos pioneiros da área, o americano Craig Venter, foi categórico: “O conceito de raça não tem nenhuma base genética”. Entre um macaco e um humano, a semelhança do DNA é de 96%. Entre dois humanos, de 99,9%. Detalhe: os genes de um negro podem ser mais parelhos com os de um caucasiano do que com os de outro negro. Isso significa que a cútis não pode ser usada para nos diferenciar.

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    Não há nenhuma dúvida: todos descendemos de alguns milhares de humanos que habitaram a África. À medida que alguns grupos migraram para outras regiões e continentes, pequenas alterações genéticas — como a mudança na pigmentação da pele — se firmaram por ser mais bem adaptadas ao novo meio. O chamado “racismo científico”, que advogava que o conceito de raça tinha fundamento biológico, levou a humanidade a experiências aterradoras, como a escravidão negra, a eugenia do início do século XX e a matança nazista de milhões de judeus.

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    Por isso, o que vem por aí é um desafio. As pesquisas genéticas têm demonstrado que existem, sim, diferenças biológicas entre grupos de população. São essas diferenças que explicam, por exemplo, por que os europeus do norte são mais altos do que os do sul. Ou por que os brancos têm maior tendência a desenvolver esclerose múltipla do que os negros. Ou por que os negros são mais propensos a doenças renais graves do que os brancos. O desafio é que tais diferenças biológicas reveladas pelas pesquisas genéticas já estão sendo usadas, aqui e ali, pelos mais empedernidos racistas para — mais uma vez — justificar diferenças de comportamento, inteligência e caráter, o que poderá servir como base para explicar atrocidades como a escravidão, a eugenia, o nazismo.

    Publicado em VEJA de 26 de setembro de 2018, edição nº 2601 

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