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#24 O CÉREBRO: Mente aberta

Graças às novas tecnologias, nunca se soube tanto sobre o órgão que controla os sentimentos e o intelecto. A nova fronteira: consertar a ética

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 set 2018, 07h00 - Publicado em 21 set 2018, 07h00
QUÍMICA - Imagem digital: o mapeamento de sua rede complexa de bilhões de células revoluciona a ciência (UCLA/Consortium of The Human Connectome Project/Reprodução)

Criminosos têm conserto? Talvez num futuro próximo, antes que os arautos da punição severa e os defensores intransigentes dos direitos humanos se engalfinhem nos debates de praxe, outras vozes sejam chamadas a dar um veredicto: os neurocientistas. Poucas áreas da ciência passaram por uma revolução tão espetacular nos últimos cinquenta anos como o estudo do cérebro. Da esperada cura de doenças como a esquizofrenia e o Alzheimer à potencialização do intelecto, as consequências das novas pesquisas deverão ter impacto sobre a existência humana no espaço de uma geração. Não está distante o dia em que a ciência será capaz de decifrar como se produzem as emoções e os mecanismos da memória. Vislumbra-se até, segundo a previsão de cientistas como o americano David Eagleman, que deslizes éticos poderão ser identificados e corrigidos à base de intervenções pontuais sobre regiões específicas da massa encefálica.

Ao menos desde o fim do século XIX, estudiosos vinham dando passos importantes na compreensão de como funciona a massa de proteína e gordura de 1,4 quilo que controla os sentimentos, o raciocínio e o comportamento. Só em décadas mais recentes, contudo, novas ferramentas tecnológicas promoveram saltos decisivos no conhecimento do cérebro. Graças aos aparelhos de ressonância magnética e a microscópios de alta resolução, cientistas hoje investigam com maior precisão as funções de cada estrutura que compõe o órgão. No momento, evolui-se com celeridade em outra fronteira essencial: o mapeamento detalhado dos neurônios.

As lembranças de fatos e sensações são processos registrados por meio de sutis trocas de impulsos entre os neurônios

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O Projeto Conectoma Humano é a ponta de lança dessas pesquisas. Com apoio do governo americano, uma dezena de instituições ao redor do planeta devotam-se a esquadrinhar cada nuance das conexões entre as células nervosas do cérebro. É uma tarefa de extensão épica: a complexa rede por onde correm os impulsos eletroquímicos que produzem as sensações e os pensamentos de uma pessoa é formada por 100 bilhões de neurônios, conectados uns aos outros por meio de até 10 000 sinapses. Se o sequenciamento do DNA exigiu 3 gigabytes, o mapeamento do cérebro vai requerer bem mais: 1 trilhão de gigabytes de memória (eletrônica, não humana, bem entendido).

Apesar dos progressos, ainda há mais lacunas do que respostas sobre o funcionamento do cérebro. Entre os mistérios que podem ser solucionados em prazo relativamente breve, estão questões fundamentais como a natureza da memória (agora sim, humana). As lembranças de fatos e sensações são processos registrados na mente, acreditam os cientistas do Projeto Conectoma, por meio de sutis trocas de impulsos entre os neurônios. Indo mais longe, Eagleman propõe que noções aparentemente abstratas como a consciência, o livre-arbítrio e a ética podem ser determinadas pela química cerebral. O americano Hal Hershfield, que estuda tomadas de decisões econômicas, defende ideia não menos perturbadora: o cérebro teria entre suas funções criar a falsa ilusão de que a razão tem pleno controle do que fazemos, quando na verdade nossas ações são ditadas por mecanismos abaixo do nível racional. A mente tem caprichos que desafiam nossa inteligência.

Publicado em VEJA de 26 de setembro de 2018, edição nº 2601 

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