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Um ano de ChatGPT: qual o futuro das inteligências artificiais?

Ferramenta avançou, mas cresceu a necessidade de uma regulamentação e de um maior letramento popular a respeito do uso adequado dessas tecnologias

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 dez 2023, 11h25 - Publicado em 30 nov 2023, 11h00

A ideia de inteligência artificial (IA) foi inaugurada em 1950, quando Alan Turing questionou, em um artigo científico, se máquinas poderiam pensar. Desde então, esse tipo de tecnologia vem crescendo, ora em fases de muita popularidade, ora em longos períodos de esquecimento. O último boom ocorreu há exatamente um ano, em 30 de novembro de 2022, quando a OpenAI lançou o ChatGPT. A ferramenta, mais do que qualquer outra, popularizou as IAs e nos fez questionar o papel que terão em nossas vidas daqui para frente. 

O lançamento virou o mundo da tecnologia de cabeça para baixo, fazendo com que a maior parte das gigantes do setor corressem atrás de criar ferramentas generativas – capazes de criar textos, códigos, vídeos e imagens. A promessa foi de uma grande revolução e o salto evolutivo que isso provocou é inquestionável, mas também surgiram problemas novos com os quais ninguém sabe exatamente como lidar. “Essa revolução está acontecendo, mas ainda em nichos”, afirma Anderson Rocha, pesquisador e coordenador do Laboratório de Inteligência Artificial da Universidade Estadual de Campinas (Recod.ai – Unicamp). 

Isso acontece porque a maioria dos usuários tratam esses robôs como se fossem grandes repositórios de informação – uma espécie de Google aprimorado. Essa, no entanto, é uma visão equivocada, porque essas ferramentas são treinadas com base em um grande banco de dados público cujo objetivo não é fazer uma curadoria de informações, mas conseguir identificar padrões de linguagem. Não por acaso, um estudo recente mostrou que as ferramentas mais populares dão respostas erradas entre 3 e 27% das vezes. 

Por outro lado, quando essa tecnologia é utilizada de maneira especializada, o potencial aparece de maneira bastante clara. “Os principais benefícios dessas tecnologias vêm da utilização das IAs como um copiloto inteligente para realizar atividades técnicas”, diz Rocha. No atendimento ao público, por exemplo, a ferramenta é amplamente utilizada para fazer uma triagem do serviço mais apropriado para cada indivíduo; na programação, ela pode resolver os códigos e abrir espaço para uma maior criatividade do trabalhador; na redação de textos, pode ajuda na adequação da linguagem ou do formato, enquanto a curadoria de conteúdo fica nas mãos do redator. 

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As outras áreas de inteligência artificial também vem crescendo. No lançamento dos seus últimos aparelhos, por exemplo, a Apple deixou claro que, embora não esteja muito preocupada com IAs generativas, aprimorou a arquitetura dos seus smartphones para que as IAs intuitivas sejam priorizadas – assim, os aparelhos conseguem otimizar o uso da bateria ou identificar o barulho dos ambientes para adequar o volume de músicas e chamadas. De maneira semelhante, aprendizado de máquina e IAs discriminativas vem revolucionando a pesquisa e a medicina, a partir da especialização em processamento de grandes volumes de dados ou do reconhecimento de patologias e fármacos em potencial. 

Qual a dificuldade da regulamentação?

Apesar das grandes possibilidades em torno das inteligências artificiais, elas também geram receios – muito fundamentados, aliás. Os erros, já citados, quando utilizados para a tomada de decisão, podem ser catastróficos. Além disso, essas ferramentas têm uma grande capacidade de reproduzir os vieses e preconceitos dos seus treinadores, propagando disparidades sociais que já são difíceis por si só. Como se já não fosse o suficiente, ainda existe uma preocupação com a privacidade, com utilização de dados pessoais e com a quebra de direitos intelectuais. 

Por esses e outros motivos, é imperativo que se faça uma boa regulamentação dessas ferramentas. Mais de mil especialistas assinaram uma carta pedindo, sem sucesso, uma pausa no treinamento de novos algoritmos para que essas questões fossem discutidas. Existe, no entanto, um dilema: como legislar sobre algo que está em constante evolução? “É difícil, porque estamos falando de uma área do conhecimento que é ampla, com diferentes aplicações, com diferentes mecanismos e abordagens” afirma Diogo Cortiz, doutor em Tecnologias da Inteligência e Design Digital e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “É um desafio pensar em como regular isso”. 

Corre-se o risco, portanto, de criar uma regulamentação muito genérica e cheia de brechas, ou, por outro lado, um texto muito específico, mas que se torna obsoleto em poucos anos. O Brasil tem um exemplo – em 2022, uma comissão do senado federal desenhou uma regulamentação com base nas tecnologias vigentes. Quando o ChatGPT foi lançado, no entanto, o texto logo se tornou antiquado, pois não abarcava os novos usos. 

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Existe, ainda, um outro desafio. É necessário que a regulamentação não impeça o desenvolvimento da tecnologia. “A gente precisa equilibrar regras e potencialidades”, afirma Cortiz. 

Enquanto isso não ocorre, as empresas detentoras desses robôs têm todo o poder de fazer essas escolhas, e isso ficou claro recentemente. No último dia 17, Sam Altman, cofundador da OpenAI, foi afastado repentinamente da liderança da empresa responsável pelo ChatGPT. Isso foi revertido poucos dias depois, mas a polêmica já estava instaurada. A motivação mais provável, de acordo com especialistas ouvidos pelo New York Times, foram as desavenças entre Altman e o conselho da empresa sobre a disponibilização das tecnologias. Enquanto aquele defendia que as ferramentas fossem logo liberadas para os usuários, estes preferiam que isso fosse feito com mais calma. Juristas defendem que essa decisão não deveria ficar apenas nas mãos dessas empresas, sem nenhuma diretriz técnica. 

O último ano mostrou que a presença ampla dessas tecnologias nas nossas vidas é inevitável, mas elas também trazem consigo consequências. É necessário que a implementação seja feita com responsabilidade para que o desenvolvimento continue saudável, mas também para que decisões que podem afetar toda a humanidade não sejam tomadas de maneira individual.

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