“Estamos continuamente examinando a lista de coisas que as máquinas a princípio não podem fazer e anotando as tarefas agora possíveis para elas. Um dia chegaremos ao fim da lista.” A assertiva, com ares de profecia, tem a grife de ninguém menos do que Tim Berners-Lee, cientista britânico da computação, criador dos principais códigos que originaram a internet comercial, o pai do www. Ele parece cada vez mais correto. No último dia 26, os robôs deram mais um passo na direção do tal “fim da lista”. Cientistas que trabalham para a americana Vicarious, especializada em robótica, divulgaram na revista Science um estudo que apresentou um software de inteligência artificial (IA) capaz de vencer o Captcha, o poderoso sistema anti-hackers, aquele das palavras e imagens. O Captcha é o recurso utilizado, há dezessete anos, para verificar se quem acessa um site qualquer é mesmo uma pessoa, e não um robô. O objetivo é evitar que hackers utilizem bots — programas de computador que simulam ações humanas — para invadir endereços on-line. Diante da inovação divulgada pela Science, agora esse recurso de segurança pode estar com os dias contados. É ainda uma evolução que mostra quanto a IA está cada vez mais perto de “pensar” como nós.
Por meio do Captcha, há três formas de separar as máquinas de nós, seres de carne e osso. Na primeira, apresenta-se uma sequência de palavras desconexas, em tamanhos, cores e fontes distintos, e pede-se que elas sejam digitadas. A segunda maneira é compilar imagens e perguntar do que se trata — por exemplo, se são placas de rua, animais ou edifícios. Por fim, há ainda uma versão que mostra apenas uma caixa na qual se pergunta “Você é um robô?”. Basta clicar nessa caixa para certificar que se trata de uma pessoa. Como? O software detecta se o padrão de movimento do mouse no momento da ação corresponde à forma como a mão humana se movimenta.
Em todos os casos, aposta-se em um ponto fraco das máquinas. Até agora, um mesmo software não conseguia, sozinho, sem o apoio de outros programas, identificar padrões tão generalistas quanto palavras em diferentes idiomas, figuras tão diversas quanto uma girafa e o edifício Empire State, ou ainda reproduzir a forma não ordenada como uma pessoa opera um mouse de computador. Isso tudo ao mesmo tempo. Para se ter ideia, somente para decifrar o Captcha de imagens era necessário abastecer a IA com 2,3 milhões de fotos de referência. Mesmo assim, o programa só conseguia ser efetivo diante de testes tidos como fáceis, como identificar onde está um animal em uma paisagem nítida. Mas raramente acertava quando o contexto era mais complexo — por exemplo, apontar placas de rua em uma fotografia de baixa resolução de uma avenida movimentada.
A nova tecnologia apresentada pela startup Vicarious imita como o cérebro humano interpreta essas mesmas informações. Assim, venceu dois dos três métodos do Captcha, o das palavras e o das fotos.
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