Com investimentos em dois sistemas operacionais distintos, o Google quer estar em todos os dispositivos conectados a internet. Depois de colocar o Android em cerca de 70% dos smartphones e tablets vendidos no mundo, a empresa agora tenta expandir o alcance do Chrome OS, sistema para notebooks e desktops centralizado na nuvem.
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Três anos após os primeiros Chromebooks chegarem aos Estados Unidos, eles já dividem a preferência do consumidor com os notebooks tradicionais. Na Amazon, maior empresa de varejo on-line do mundo, três em cada cinco notebooks vendidos nos EUA usam Chrome OS. Segundo dados da consultoria NPD Group, os Chromebooks representaram 21% de todos os notebooks vendidos nos EUA em 2013.
Em visita ao Brasil, Felix Lin, diretor de planejamento do Google, deu mais um passo para o avanço do Chrome OS no Brasil. Junto com a Samsung, ele anunciou o segundo Chromebook a chegar ao país. Apesar dos desafios, Lin tenta repetir por aqui o sucesso alcançado no exterior. “Os Chromebooks levam embora a complexidade dos PCs tradicionais”, diz o executivo ao site de VEJA. Confira a seguir a entrevista:
Qual a diferença entre um Chromebook e um notebook tradicional? A melhor coisa dos Chromebooks é que eles ficam melhores todos os dias, porque seguem a mesma lógica dos serviços da web. Cada vez que você acessa um site, ele pode ter novos recursos e você não precisa instalar nenhum software para se beneficiar. Nós enviamos atualizações constantemente para os Chromebooks, que são instaladas sem nenhuma intervenção do usuário. Quando melhoramos o gerenciamento de energia do Chrome OS, você percebe na hora que a bateria do Chromebook dura mais. Além disso, eles são fáceis de usar e não estão sujeitos a vírus e outras ameaças.
O Google pretende trazer outros Chromebooks para o Brasil? Estamos trabalhando com os fabricantes em vários países, para que os Chromebooks estejam disponíveis para a maior quantidade de pessoas possível. Os parceiros que fabricam os produtos programam os lançamentos, não o Google. Mas nós temos a intenção de começar a oferecer Chromebooks por meio da loja virtual Google Play no Brasil. Ainda não temos uma data para começar, mas estamos trabalhando nisso.
Os Chromebooks são baratos nos Estados Unidos e dependem da internet em boa parte do tempo. Como o produto pode ter sucesso no Brasil? Este é um dos benefícios de trabalhar em parceria com a Samsung. Ela fabrica o produto no Brasil, o que reduz o preço final. Quanto à conexão, os Chromebooks funcionam também off-line, então aplicativos do Google e de outros desenvolvedores podem ser usados sem conexão. O valor dos serviços oferecidos na nuvem está aumentando, enquanto o custo da conectividade está caindo. Quando o custo da conexão ficar pequeno em relação ao valor que a nuvem traz, vamos atingir um ponto de inflexão. Estamos próximos disso, mas ainda não chegamos lá.
Embora sejam sistemas diferentes, o Android e o Chrome OS podem ser integrados no futuro? O Android é o melhor sistema operacional para smartphones e tablets e dispositivos que, de alguma forma, oferecem uma experiência com tela sensível ao toque. O Chrome OS, por outro lado, é uma solução para notebooks, desktops e telas maiores. Ao longo do tempo, imaginamos que recursos do Android serão incluídos no Chrome OS e vice-versa. Em algum ponto no futuro, vamos ver uma mistura entre os dois sistemas.
Quais os benefícios que essa mistura pode trazer? Podemos ver o Android funcionando em qualquer dispositivo. No caso do Chrome OS, temos o compromisso de melhorar a experiência com o computador ao longo do tempo, então há um limite de dispositivos que podemos atender. A portabilidade do Android é algo que gostaríamos de trazer para o Chrome OS. No sentido contrário, a inicialização segura é um dos recursos que seriam incríveis para o Android. Imagina como seria bom se, ao ligar o smartphone, o sistema verificasse se cada pedaço de software que está ali é seguro?
Embora o Chrome OS seja desenhado para computadores, fabricantes apostam em produtos com Windows e Android. Porque não o Chrome OS? Existe muita inovação acontecendo e todos os grandes fabricantes produzem computadores com Chrome OS. Mas não temos planos de fazer parcerias para colocar o sistema em equipamentos que também usam Windows. Um dos principais benefícios do Chrome OS é a segurança. Toda vez que construímos um Chromebook, todo o software que está dentro dele foi desenvolvido pelo Google [o Chrome OS não permite guardar arquivos no computador, apenas na nuvem, no cartão de memória ou em um pen-drive]. A ideia de ter o Chrome OS dividindo o espaço com outro sistema pode comprometer isso. Não podemos garantir que, ao usar o outro sistema, a máquina continuará segura.
Como resistir a mudar a interface do Chrome OS para agradar os usuários que estão mais acostumados com sistemas tradicionais, como o Windows? Não queremos criar uma ponte entre o passado e o futuro. Estamos simplesmente focados em como as pessoas usam seus computadores hoje e em como achamos que vão usar no futuro. No caso do Chrome OS, a integração do dispositivo com a nuvem, a segurança e as atualizações automáticas são princípios que vão compor a base de todos os dispositivos no futuro. Queremos que a interface ofereça uma forma de as pessoas fazerem mais com menos esforço. É este o caminho que vamos continuar seguindo.