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Criador do Orkut: “Redes criaram uma geração que não sabe se comunicar”

De acordo com o engenheiro, precisamos "mais do que nunca de uma mudança nessas plataformas"

Por Sabrina Brito 18 set 2018, 15h57

Em 2004 foi lançada a rede social Orkut.com. Em seus dez anos de existência, o site conquistou milhões de usuários, sendo seus principais públicos o Brasil, a Índia e os Estados Unidos. Seu desenvolvedor (que criou a página como um projeto do Google, onde trabalhava), o engenheiro de software turco Orkut Buyukkokten, veio a São Paulo pela segunda vez em setembro deste ano, quando fez o discurso de abertura do evento de marketing digital Expo Fórum Digitalks e conversou com estudantes das universidades PUC, Mackenzie e Belas Artes. Orkut concedeu uma entrevista ao site de VEJA.

Desde 2016, Buyukkokten é CEO de uma outra companhia de mídia social, a Hello Network — sem dimensão expressiva em seu mercado, não revela nem o número de usuários cadastrados –, que, assim como sua antecessora, gira em torno da formação de comunidades (grupos temáticos em que costuma se falar de um assunto ou afinidade específica). Mas, desta vez, a experiência na rede começa pedindo ao membro que escolha 5 entre 120 coisas da qual ele goste — desde gatos até moda — e, a partir daí, o conecta a pessoas com interesses comuns. “Esse é o jeito mais natural de se relacionar com alguém: pelos gostos similares”, afirma Orkut.

Mas muita coisa mudou desde que a rede social com seu nome foi lançada há 14 anos. “Era uma geração completamente diferente. Desde então, houve várias transformações online e offline. Agora, muitos mais de nós têm smartphones ou perfis nessas redes. É muito louco que tanta gente esteja sempre conectada”, opina.

Ao falar do Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat e tantos outros, Buyukkokten diz acreditar que, apesar de a conexão a outras pessoas ser mais fácil hoje, nunca fomos tão solitários como atualmente. Conforme as suas ideias, as mídias modernas nos deixam deprimidos e isolados, uma vez que basta olhar para elas e seus feeds para perceber que eles foram feitos para ajudar o usuário a se promover. Isso cria a ilusão, segundo o engenheiro, de que nada será suficiente para nos fazer felizes, construindo uma geração muito insegura. “Existe a necessidade de uma rede social que não seja sobre autopromoção”, conclui.

Além disso, Buyukkokten acredita que existe um sentimento geral de isolamento entre os usuários desses sites. “Eles deveriam ser sobre amor, amizade, empatia. Deveriam nos fazer felizes. No entanto, muitos estudos mostram que quanto mais tempo gasto nas redes, mais sozinha a pessoa se sente”. De acordo com o turco, os momentos que colocamos em exposição são artificiais, arquitetados e, por isso, perderam sua autenticidade. Dessa forma, paramos de mostrar quem somos de fato e passamos a nos comunicar de maneira superficial, sem saber como fazê-lo de forma autêntica, em carne e osso. Surgiu, assim, uma geração que tem medo de conversar cara a cara e de ter relações próximas no mundo real.

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Contudo, muitas características positivas desses portais já foram comprovadas cientificamente. Dois bons exemplos são estudos publicados no começo deste ano. O primeiro, revelado em janeiro e realizado pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra, apontou que adolescentes são muito mais responsáveis no ambiente online do que se pensava. Eles são frequentemente capazes de discriminar entre conteúdos patrocinados ou não, sabem qual tipo de publicação não os tem como público-alvo, entre outros comportamentos que os proporciona hábitos adequados na web. O outro, publicado no dia 6 de fevereiro pela também inglesa Universidade da Ânglia Oriental, aponta que jovens vivendo em condições pobres de saúde podem ser beneficiados pelo uso dessas redes, já que elas os ajudam a manter conexões e fazer amizades em um momento muito delicado de suas vidas, o que, por sua vez, facilita a transformação em adultos independentes.

Ainda assim, apesar dos (muitos) problemas por ele apresentados em relação às mídias sociais, Orkut não acredita que a tecnologia seja a grande culpada. O problema, defende ele, emana das empresas que priorizam o lucro em vez de prestar atenção ao usuário. Ele afirma acreditar em portais que sejam benéficos para o ser humano, e não só para seus criadores. “É possível criar um algoritmo que privilegie as pessoas e não os investidores ou as propagandas”, comentou.

O futuro, para Orkut Buyukkokten, é positivo. Ele acredita que virão mais redes sociais que facilitarão o contato online e offline, aproximando as pessoas com base em seus interesses em comum. Assim, ele afirma que serão resgatados os pontos pelos quais essas mídias deveriam prezar: felicidade, amor e amizade. “Precisamos desses bons sentimentos mais do que nunca”, diz.

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