Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Vem aí a insulina aplicada uma única vez a cada sete dias

Uma das mais aguardadas notícias para o tratamento do diabetes está a um passo de virar realidade

Por Diogo Sponchiato
Atualizado em 30 jun 2023, 10h35 - Publicado em 30 jun 2023, 06h00

Faz pouco mais de 100 anos que o ritual de uso do medicamento que mudou a história do diabetes, salvando milhões de vidas desde então, depende de injeções diárias. A partir do momento em que a primeira pessoa recebeu uma dose de insulina, lá em 1922, até os dias de hoje, quem depende do hormônio não pode deixar de aplicá-lo religiosamente uma ou inúmeras vezes ao longo de 24 horas. Uma revolução se anuncia, portanto, com a chegada da insulina semanal, um dos maiores destaques do congresso da Associação Americana de Diabetes. Graças a ela, o número de picadas para domar a glicose no sangue cai de 365 para 52 ao ano. Fora o conforto e a comodidade para o paciente, estudos apresentados em primeira mão revelaram que o produto é superior às versões diárias com a mesma indicação. É notícia a ser celebrada pela comunidade de brasileiros que vivem com diabetes — mais de 16 milhões de cidadãos.

A medicação, de nome Icodeca, foi formulada pelo laboratório Novo Nordisk depois de anos de pesquisa. Com uma modificação química na molécula da insulina basal, a substância obtida está apta a atuar no organismo durante sete dias, tendo ação idêntica à do hormônio natural — é ele que abre as portas das células para captar a glicose no sangue, evitando sua sobrecarga na circulação e os danos decorrentes disso. Na reunião científica, foram publicados os dados de duas pesquisas reunindo 1 510 pessoas com diabetes tipo 2 — versão que corresponde a 90% dos casos da doença e está associada ao avançar da idade e ao ganho de peso. Antes dos estudos, todos eles não estavam conseguindo baixar a glicemia adequadamente com remédios de uso oral. Uma parcela dos voluntários tomou a insulina semanal, aplicada com canetas semelhantes às mais modernas do mercado; outra parcela recebeu injeções diárias. “O esperado era que ambas tivessem a mesma eficácia. Mas nos surpreendemos: a Icodeca teve resultado superior”, diz Priscilla Mattar, diretora médica da Novo Nordisk no Brasil.

EVOLUÇÃO - Da seringa à caneta: aplicação do remédio tornou-se mais prática e menos dolorosa
EVOLUÇÃO - Da seringa à caneta: aplicação do remédio tornou-se mais prática e menos dolorosa (Digicomphoto/SPL/AFP)

Na prática, o novo produto não só aprimorou o controle do diabetes como esteve ligado a menor risco de hipoglicemias, perigoso efeito colateral comumente relacionado ao uso de insulina e marcado por quedas acentuadas do açúcar no sangue. “O índice de tempo na meta ideal para os níveis de glicose foi de 72% com a versão semanal, ante 67% da diária”, afirma Priscilla. “Uma das grandes vantagens dessa inovação é contornar barreiras à adesão ao tratamento”, avalia o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da USP de Ribeirão Preto que esteve no evento em San Diego, nos Estados Unidos. A Icodeca vem sendo testada tanto em pessoas com diabetes tipo 1 (de origem autoimune, em geral detectado na infância ou adolescência) como com o tipo 2. Mas é especialmente essa parcela majoritária dos pacientes que apresenta maior rejeição, medo e dificuldade em relação à utilização de insulina — e, em algum momento da doença, ela provavelmente será prescrita. A medicação semanal ajudaria, então, a angariar maior engajamento na terapia, ainda mais tendo em vista que comprimidos tradicionalmente receitados para fazer o hormônio trabalhar direito no corpo deverão continuar integrando o plano de ação.

Continua após a publicidade
CONEXÃO - Nova geração: canetas têm ligação via Bluetooth com dispositivos que monitoram a glicose
CONEXÃO - Nova geração: canetas têm ligação via Bluetooth com dispositivos que monitoram a glicose (Novo Nordisk/Divulgação)

A novíssima insulina já foi submetida às agências regulatórias que analisam e aprovam a liberação de fármacos em diversos países, incluindo o Brasil. Por aqui se espera que ela chegue às farmácias até 2025. O desenvolvimento tecnológico por trás do produto coroa uma trajetória centenária de aperfeiçoamento de moléculas e soluções para ampliar a qualidade e a expectativa de vida de quem recebe o diagnóstico de diabetes. Das seringas dolorosas injetadas várias vezes ao dia às canetas high-tech com microagulhas de aplicação semanal, há muito que comemorar. E, ao que tudo indica, a história não acaba aí.

Publicado em VEJA de 5 de Julho de 2023, edição nº 2848

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.