A doação de órgãos não depende apenas do consentimento da família para acontecer. Na verdade, é um processo longo e complicado cujo principal problema pode ser a logística. Isso porque o tempo de viabilidade de um órgão (tempo entre a retirada e implantação no recipiente) pode dificultar a doação entre indivíduos distantes ums dos outros.
Para resolver esse problema, especialistas em medicina, engenharia e aviação se reuniram para criar um sistema de entrega utilizando um drone. De acordo com o Centro Médico da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, o método foi testado pela primeira vez durante a entrega de um rim para um paciente que aguardava pelo transplante há oito anos.
Os pesquisadores informaram que o drone não apenas fez a entrega, como também monitorou e manteve os critérios de viabilidade do órgão, como a temperatura do rim. Com tantos recursos, o equipamento poderia permitir aos médicos contornar as potenciais complicações de logística relacionadas ao transporte de órgãos, garantindo eficiência na entrega e qualidade do órgão. “Por incrível que esse avanço pareça do ponto de vista da engenharia, há um objetivo maior em jogo. Não se trata da tecnologia; trata-se de melhorar a vida humana”, comentou Darryll J. Pines, da Universidade de Maryland, à CNN.
Para os pesquisadores, o sucesso da operação indica que, em breve, o recurso pode se tornar a forma mais rápida, segura e econômica para enfrentar a limitação de tempo do transplante. A iniciativa ampliaria o acesso ao procedimento, já que muitos órgãos deixam de ser implantados devido a atrasos na entrega. “É como um Uber para órgãos”, comentou Joseph Scalea, da Universidade de Maryland, ao The New York Times.
O drone
Para garantir o êxito da operação, os pesquisadores incluíram diversas inovações tecnológicas no drone. Elas incluíram conjuntos de transmissão para garantir desempenho consistente e confiável – inclusive diante da possibilidade de falha do componente, uma rede wireless para controlar e monitorar o status do drone e permitir a comunicação com a equipe, além de hélices reserva, baterias duplas e um paraquedas para proteger a carga em caso de pane completa. “Instalamos todos esses excessos porque queremos fazer todo o possível para proteger a carga”, disse Anthony Pucciarella, diretor de operações, à CNN.
Antes da realização da primeira entrega, foram realizados 44 voos-teste – um total de 700 horas – nos quais foram transportados soro fisiológico, tubos de sangue e outros materiais médicos. Outro teste transportou um rim humano não viável. Segundo a equipe, o voo durou cerca de cinco minutos e ocorreu sem nenhum problema.
“Essa coisa toda é incrível. Anos atrás, isso não era algo em que você pensaria”, disse Trina Glispy, enfermeira de 44 anos que recebeu o órgão, ao The New York Times. Durante oito anos, Trina fez hemodiálise enquanto aguardava na lista de espera para receber o transplante.
A atual forma de entrega envolve meios de transporte tradicionais, incluindo helicópteros e aviões. No entanto, estas modalidades estão sujeitas a imprevistos, como atrasos causados por mau tempo, trânsito ou tráfego aéreo movimentado – o que pode interferir na viabilidade do órgão. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 1,5% das remessas não chegam ao destino pretendido e quase 4% têm atraso imprevisto de duas ou mais horas, segundo a Rede Unida para Compartilhamento de Órgãos (UNOS, na sigla em inglês).
Para Scalea, a nova tecnologia será capaz de permitir aos pacientes acesso ao órgãos “marginais” – órgãos que perderiam a viabilidade diante de qualquer tipo de atraso no tempo de entrega. Isso acrescentaria até 2.500 rins por ano ao grupo de doadores. “Ainda existe uma disparidade lamentável entre o número de receptores na lista de espera e o número total de órgãos transplantáveis. Essa nova tecnologia tem o potencial de ajudar a ampliar o pool de órgãos de doadores e o acesso ao transplante”, disse o especialista em comunicado.
O vídeo da operação pode ser encontrado no site da universidade.