Terapia que faz ‘cócegas’ na orelha ajuda a prevenir hipertensão
Novo estudo aponta que o método, utilizado no tratamento da epilepsia, também ajuda a melhorar o humor e o sono, além de combater a ansiedade
Estudo publicado na revista Aging revela que duas semanas de terapia de estimulação elétrica do nervo vago — um dos mais longos do corpo, que conecta o cérebro a diversas partes do corpo — são suficientes para prevenir problemas como hipertensão e doenças cardíacas. Esse estímulo, feito através da orelha, também ajuda a melhorar o humor e o sono, além de combater a ansiedade.
“A orelha funciona como a porta de entrada para mexer com o balanço do corpo sem a necessidade de medicamentos ou procedimentos invasivos”, explicou Beatrice Bretherton, principal autora da pesquisa, ao Medical News Today.
Apesar de ser uma corrente elétrica, os pacientes dizem sentir apenas “cócegas” na região do estímulo. Terapia semelhante já é utilizada como forma de tratar epilepsia, e estudos mostram o bom desempenho do método no tratamento de depressão e obesidade.
Nervo vago
O nervo vago interage diretamente com o sistema nervoso autônomo — responsável por regular funções corporais, como respiração e frequência cardíaca, e formado por dois sistemas, o parassimpático e o simpático. Segundo especialistas, à medida que o indivíduo envelhece esses dois sistemas entram em desequilíbrio. Isso contribui para que as pessoas fiquem mais vulneráveis a problemas de saúde na velhice.
No entanto, os pesquisadores descobriram uma forma de prevenir esse desequilíbrio através do estímulo do nervo vago. Mas até agora a única maneira de fazer isso era através de uma cirurgia de implante de pequenos eletrodos em algumas regiões do corpo (geralmente no pescoço) para que os estímulos elétricos pudessem ocorrer.
Buscando uma forma de descartar a intervenção cirúrgica, os pesquisadores da Universidade de Leeds, na Inglaterra, decidiram testar se o estímulo externo de um pequeno ramo do nervo vago — que fica na orelha — poderia promover efeitos positivos no sistema nervoso.
Para isso, eles realizaram três estudos com indivíduos acima de 55 anos que não apresentavam hipertensão, doença cardíaca, diabetes ou epilepsia no início da investigação. O primeiro estudo incluiu 14 participantes que foram submetidos a uma sessão de estimulação do nervo vago e uma sessão de estimulação nervosa simulada. Já no segundo experimento, 51 participantes realizaram apenas uma sessão de estímulo do nervo vago. No último estudo, 29 participantes fizeram a estimulação diariamente ao longo de duas semanas.
Bons resultados
Ao fim da análise dos três estudos, a equipe concluiu que duas semanas da terapia de estímulo ajuda a impulsionar a atividade do sistema nervoso parassimpático, ao mesmo tempo em que reduz a atuação do simpático. Ou seja, houve uma melhora no equilíbrio do sistema nervoso autônomo. A restauração desse equilíbrio pode ajudar a reduzir o risco de mortalidade e de desenvolver doenças associadas ao envelhecimento, além de diminuir a necessidade de medicamentos ou assistência médica.
A estimulação ainda interferiu positivamente no bem-estar, melhorando humor e sono. “Acreditamos que esse estímulo pode fazer uma grande diferença na vida das pessoas”, disse Susan Deuchars, co-autora do estudo, ao Medical News Today.
Apesar dos resultados promissores, os cientistas ressaltam que mais estudos serão necessários para entender os possíveis benefícios a longo prazo da estimulação diária e para verificar se ela pode ser usada no tratamento de outros distúrbios.