Um novo estudo publicado nesta quarta-feira 28, no jornal BMJ Global Health, traz evidências consistentes sobre a associação de alimentos ultraprocessados com 32 problemas relacionados à saúde, como doenças cardíacas e pulmonares graves, tumores malignos, perturbações de saúde mental e morte precoce. “Prejudicam a saúde e encurtam a vida”, disseram os pesquisadores.
Além de ressaltar a necessidade de pesquisas urgentes para entender como esses alimentos afetam a saúde, a pesquisa mostra que os prejuízos atingem vários sistemas do organismo e sublinha a urgência em medidas para reduzir o consumo desses produtos, que incluem pães e salgadinhos embalados, refrigerantes, cereais açucarados e produtos prontos para consumo ou aquecidos por micro-ondas, que passam por múltiplos processos industriais e, em sua maior parte, contêm corantes, emulsificantes, aromatizantes e outros aditivos em excesso. Sem contar que são ricos em açúcar, gordura e sal, e pobres em vitaminas e fibras.
“Estas descobertas apoiam pesquisas urgentes e ações de saúde pública que alcancem e minimizem o consumo de alimentos ultraprocessados para melhorar a saúde da população”, escreveram os pesquisadores.
Os números preocupam: nos países de renda alta, o consumo de ultraporcessados representa cerca de 58% do consumo diário total de alimentos. E nos países de renda média e baixa, tem aumentado rapidamente nas últimas décadas, segundo a revisão.
Estudo Abrangente
Para o estudo, os pesquisadores utilizaram 45 meta-análises agrupadas e distintas de 14 artigos de revisão, publicados nos últimos três anos, que associavam alimentos ultraprocessados a efeitos prejudiciais à saúde. As estimativas de exposição alimentar foram obtidas a partir de uma combinação de questionários de frequência alimentar, com rotinas de 24 horas, e histórico alimentar de quase 10 milhões de participantes.
Durante a pesquisa, os cientistas classificaram as evidências como convincentes, altamente sugestivas, sugestivas, fracas ou nenhuma evidência. Também avaliaram a qualidade desses indícios como alta, moderada, baixa ou muito baixa. No geral, os resultados mostram que uma maior exposição a alimentos ultraprocessados foi consistentemente associada a um risco aumentado de 32 resultados adversos para a saúde.
Evidências convincentes mostraram que uma maior ingestão de alimentos ultraprocessados estava associada a um risco maior de 50% para morte relacionada a doenças cardiovasculares, 53% maior para ansiedade e transtornos mentais comuns e 12% maior para diabetes tipo 2. Já os indícios considerados altamente sugestivos indicaram que os produtos estavam ligados a um um risco maior de morte por qualquer causa (21%); a morte relacionada a doenças cardíacas, obesidade, diabetes tipo 2 e problemas de sono (40 a 66%) e depressão (22%).
As evidências para as associações de exposição alimentar ultraprocessada relacionadas à asma, saúde gastrointestinal, alguns cânceres e fatores de risco cardiometabólicos, como gordura no sangue e baixos níveis de colesterol “bom”, permanecem limitados.
Os investigadores reconhecem que as revisões abrangentes só podem fornecer visões gerais, e não excluem a possibilidade de que outros fatores não medidos e variações na avaliação da ingestão de alimentos ultraprocessados possam ter influenciado os resultados. No entanto, a utilização de métodos sistemáticos rigorosos para avaliar a credibilidade e a qualidade das análises sugere que as descobertas venham de um exame minucioso.
O que pode ser feito?
O estudo também levanta a questão de o que deve ser feito para controlar e reduzir a produção e consumo dos ultraprocessados. Segundo os cientistas, só a reformulação destes produtos não elimina os danos e a rentabilidade desencoraja os fabricantes a mudarem a produção para alimentos nutritivos. Por isso, as políticas públicas e ações de controle são essenciais.
Entre elas, os pesquisadores sugerem a inclusão de rótulos na frente das embalagens, restrição de publicidade e a proibição da venda desses produtos em frente ou perto de escolas e hospitais. Também indicam medidas fiscais que tornem os alimentos não processados tão acessíveis, disponíveis e baratos quanto os ultraprocessados. “Chegou a hora das agências das Nações Unidas, em conjunto com os Estados-membros, desenvolverem e implementarem uma convenção sobre alimentos ultraprocessados, semelhante ao que existe sobre o tabaco e promoverem exemplos de melhores práticas”, escreveram.
Por fim, afirmam que as investigações multidisciplinares “são necessárias para identificar as formas mais eficazes de controlar e reduzir o ultraprocessamento, além de quantificar e acompanhar os custos-benefícios e outros efeitos de todas essas políticas e ações na saúde e no bem-estar humanos, na sociedade, na cultura e no meio ambiente.”